Um trabalho coletivo e humanitário transformou um terreno improdutivo e abandonado, localizado no Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (Cresan) do Mercado da Lagoinha, na Região Noroeste da capital, em uma Unidade de Produção Agroecológica que sedia o projeto “Elas cultivam a Lagoinha”. A ação, iniciada em 2021, visa a inclusão produtiva de mulheres em situação de vulnerabilidade, com trajetória de vida nas ruas e usuárias de drogas, além de promover intervenções artísticas e culturais na região.
O projeto é gerido pela Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção (SMSP) e pela Subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional (Susan), sendo executado pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável (IEDS) utilizando uma metodologia chamada de Espaço Urbano Seguros.
“A discussão sobre segurança envolve a reflexão sobre o uso do espaço coletivamente. A gente tinha essa área abandonada, que pessoas em situação de rua ocupavam, e ali perto nós temos o Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam), onde uma das demandas é a inclusão produtiva dessas pessoas”, explicou a Diretora de Prevenção da SMSP, Márcia Alves.
PRODUÇÃO E RENDA
A Unidade de Produção Agroecológica ocupa uma área de aproximadamente 1 mil m², onde são plantadas hortaliças, ervas, plantas medicinais, ornamentais e frutíferas. O espaço é ocupado coletivamente para que se gere uma sensação de segurança na região e inclua as mulheres da comunidade de forma produtiva com a venda dos produtos, buscando uma forma de inserção no mercado de trabalho.
Em uma redoma central, oficinas de produção e formação ensinam uma média de 12 a 15 mulheres, por semana, a transformar essa matéria-prima em itens que possam ser utilizados no dia a dia como sabonete, repelente, desodorante e outros itens demandados pela população de rua. A produção é destinada tanto para uso pessoal quanto para a geração de renda dessas mulheres, que expõem os produtos em feiras.
“É muito difícil inserir pessoas em situação de rua no mercado de trabalho. A gente trabalha com a importância dessa produção no sentido pessoal, mas também nessa retaguarda. É uma porta de entrada para inclusão produtiva e as mulheres veem no resultado do trabalho delas uma possibilidade”, ressalta Márcia Alves.
Atualmente o Ciam atende cerca de 130 mulheres em situação de vulnerabilidade social por mês, oferecendo a elas acompanhamento psicológico, de saúde e de assistência social. O local promove também alimentação, banho, lavagem de roupas e outros serviços essenciais.
AGROECOLOGIA
Além do projeto destinado às mulheres, a Unidade de Produção Agroecológica também tem sido utilizada pelo Cresan como uma forma de propiciar para a população local um contato com a terra e a natureza. Oficinas que seguem os princípios da agroecologia são realizadas no local com esse objetivo.
A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) define o conceito como uma ciência, movimento político e prática social que articula diferentes áreas do conhecimento de forma transdisciplinar e sistêmica, orientada a desenvolver sistemas agroalimentares sustentáveis em todas as dimensões. Nesse sentido, o Cresan oferece na unidade diferentes formações em sustentabilidade.
“Uma delas é o Circuito Caminho do Alimento, onde conversamos com as pessoas sobre aquilo que consumimos hoje e convidamos crianças e adultos a refletir sobre isso. As unidades produtivas e esses tipos de ação tornam a cidade mais sustentável, ocupando espaços de forma produtiva e ajudando na educação alimentar”, explica Beatriz Carvalho, coordenadora geral do Cresan.
Para atingir esses objetivos, o Cresan procura integrar as comunidades locais na Unidade de Produção, fazendo da coletividade uma verdadeira força motora. Um dos seus projetos, as Trilhas da Agroecologia, por exemplo, reúne duas turmas semestrais com cerca de 150 pessoas, de idades variadas, para compartilhar ensinamentos sobre produção sustentável e práticas de manejo agroecológico, que pressupõem a prática da agricultura orgânica e o emprego de tecnologias limpas, que geram menos poluição.
"Possuímos uma variedade grande no público das trilhas com pessoas já engajadas na agricultura urbana, professores da rede pública que podem transmitir os conhecimentos e pessoas que participam de movimentos ambientalistas”, informa a coordenadora.
As ações realizadas nas Unidades de Produção Agroecológica são abertas para aqueles que desejam integrar os grupos coletivos. No entanto, por questões de organização da horta urbana, é necessário procurar o Cresan e a Susan para que antes ocorra um planejamento adequado. Informações pelo email cresan.trilhas@pbh.gov.br.
* Estagiário sob supervisão do subeditor Rafael Rocha