Seja em rodovias, ruas ou avenidas, o motorista que trafega por Minas Gerais acaba se deparando com um problema crônico: os buracos. Asfalto completamente degradado e rachaduras que lembram quebra-molas exigem dos sistemas de amortecimento dos veículos e a calma dos condutores. Em condições críticas de pavimento, que só se agravaram com as chuvas dos últimos dias, a BR-262, por exemplo, até ganhou a alcunha de “rodovia dos buracos”. Além do risco de acidentes, as crateras ao longo das estradas mineiras aumentam o tempo de viagem e trazem prejuízo para o bolso dos motoristas.
Para desviar das armadilhas, carros e caminhões empreendem um verdadeiro malabarismo pelas vias, muitas vezes na contramão, para tentar evitar danos aos pneus, rodas e suspensão. Em 7 de janeiro último, após deixar o serviço durante a madrugada, o engenheiro elétrico Danilo Rezende, de 38 anos, teve dois pneus estourados no quilômetro 556 da BR-262, altura do município de Luz, no Centro-Oeste de Minas. “Por sorte não aconteceu nada mais grave”, conta.
Com medo de parar na via, Danilo continuou dirigindo até encontrar um local seguro. “Parei no primeiro posto que achei, mas nisso acabei destruindo meu para-choque. A estrada já é perigosa por si só, agora está intransitável. É buraco atrás de buraco”, reclama. A concessionária responsável pelo trecho informou que realiza operação tapa-buracos emergencial na área.
Esse, no entanto, é só um prelúdio de muitos buracos encontrados na rodovia. O trajeto pela BR-262 é tomado por obstáculos e vira desafio aos motoristas. “Está um verdadeiro caos. Os buracos praticamente tomaram toda a sua extensão até o Espírito Santo”, conta o caminhoneiro goiano Thiago Nunes, de 43, que roda há mais de duas décadas pelas estradas brasileiras.
Ele alerta que, por ser uma estrada com muitas curvas, em alguns pontos o motorista é surpreendido pela via esburacada e fica impossível desviar. O jeito, então, é redobrar a atenção e andar devagar. “Já perdi as contas de quantas vezes estourei pneu, quebrei amortecedor. O pior nem é isso, porque onde tem buraco, tem acidente. Eu ando sempre com muito cuidado, mas a gente fica com medo até mesmo de cair a mercadoria”, contou à reportagem.
Vários trechos da BR-262 apresentam erosões, estreitamentos de pista e asfalto trincado. A situação, segundo os motoristas, é ainda mais crítica no trecho que vai de João Monlevade até o Espírito Santo. Na última quarta-feira, um grupo de manifestantes bloqueou a via na altura do Km 118, em Rio Casca, na Zona da Mata, pedindo melhorias. O grupo reivindica reformas como o recapeamento da rodovia, que há anos sofre com buracos e avarias causados por veículos pesados e ação das chuvas. “A rodovia precisa de um recapeamento, não adianta ficar tapando buraco. Tampa de dia e de noite chove, no outro dia já abriu de novo”, cobra o ex-prefeito do município Adriano Alvarenga.
Por sua vez, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) disse que está elaborando um projeto de restauração da BR-262 com vistas a revitalizar todo o pavimento. “No entanto, de imediato, estão sendo realizadas operações tapa-buraco e a contratação emergencial de empresas para a recomposição dos aterros em processo de erosão, visando melhorar as condições de segurança”, afirmou o órgão por meio de nota.
NA CONTRAMÃO
Inúmeros buracos fazem os motoristas trafegarem devagar e na contramão pelas estradas mineiras. Cerca de dois meses depois da entrega do recapeamento, o trecho da MGC-497, entre Uberlândia e Prata, no Triângulo Mineiro, voltou a apresentar buracos na pista em sua primeira estação chuvosa. Segundo o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), ações de manutenção, como tapa-buracos, são programadas, mas a execução dos serviços depende de condições climáticas favoráveis.Já na BR-265, cansados de esperar, os moradores de Lavras decidiram fazer um tapa-buracos provisório na rodovia, uma das mais importantes do Sul de Minas, que liga a região à Zona da Mata. Um grupo de motoristas voluntários usou pó de brita para tapar cerca de 15 quilômetros de rachaduras no asfalto.
O Estado de Minas percorreu trechos de rodovias e ruas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e constatou que, além dos já conhecidos buracos, surgiram novos por conta das fortes chuvas. O motoboy Gustavo Lopes Moraes, de 21, foi surpreendido por um buraco na MGC-262 (antiga MG-05), rodovia que liga Belo Horizonte a Sabará. “Estava passando ali e furou comigo. Toda hora tem que dar manutenção. É menos dinheiro pra gente”, contou à reportagem enquanto trocava o pneu do veículo.
Morador de Sabará, ele também reclama dos buracos nas ruas do município, que colocam em risco a vida de motoristas e pedestres. “Eu nem gosto de rodar por aqui. Tem muito buraco”, reclama.
CAMPO MINADO
O problema dos buracos não fica restrito às estradas mineiras. Andar pelas ruas e avenidas de Belo Horizonte tornou-se uma espécie de aventura em campo minado. Com as fortes chuvas dos últimos dias, os buracos se multiplicam e, com eles, o risco de acidentes. Em um giro pela cidade, o Estado de Minas registrou diversas ruas nessa situação. A região da Pampulha coleciona buracos e trincas nas vias, causando lentidão no trânsito e prejuízos para os motoristas.
Foram registrados estragos nas avenidas Carlos Luz, um dos principais corredores de tráfego da região, e Celso Racioppi, na esquina com a Otacílio Negrão de Lima, além da Rua Desembargador Pedro Licínio, no Bairro Ouro Preto. Há também problemas na Via 240, na zona Norte da cidade.
Moradores da Região de Venda Nova também se queixam da má conservação das vias. A Rua Barra da Tijuca, no Leblon, passou por um recapeamento recentemente e, mesmo assim, amanheceu esburacada após as chuvas da última semana.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, a partir de amanhã, irá intensificar a Operação Tapa-buraco com o aumento de equipes para a realização dos serviços.
Por ano, o município gasta em média R$ 40 milhões em operações tapa-buraco. Para 2023, estão previstos cerca de R$ 47 milhões em trabalhos de manutenção, com aumento de 50% do efetivo de caminhões para recapeamento do asfalto. No ano passado foram executadas 178.683 operações, com investimento de aproximadamente R$ 40 milhões, segundo a administração municipal.
Prejuízo para uns, lucro para outros
O que é sinônimo de transtorno para os motoristas, por outro lado representa mais trabalho e dinheiro extra para os profissionais especializados em reparos automotivos. A situação precária das rodovias aumenta o faturamento dos borracheiros, que colecionam histórias de “vítimas” de buracos.
“O cara chegou aqui no domingo com o amortecedor quebrado, leque empenado. Foi uma pancada violenta que ele deu em um buraco”, conta o borracheiro Patrick Willian Barroso Silva, de 27 anos, que trabalha em um estabelecimento na altura do KM 10 da BR-262. “O que a gente mais escuta de cliente é isso, ainda mais agora com essas chuvas. Sempre chega alguém com pneu cortado ou roda amassada”, diz.
Na borracharia, a procura por remendos para pneus de carros ou motocicletas chegou a triplicar neste período de chuvas. “É um trabalho de uma hora. Mas é um conserto provisório para o motorista ter tempo de fazer a troca do pneu”, explica Patrick. Segundo ele, a principal reclamação dos motoristas é o trecho das BRs 262/381 entre Belo Horizonte e João Monlevade, conhecido como Rodovia da Morte. “A sensação é de um local que foi abandonado”, comentou.
Jean Warlley de Souza, de 37, trabalha como borracheiro há 22 anos e diz que a falta de qualidade do asfalto é o que causa esse transtorno. "Quando chove, o asfalto cede e os buracos aumentam ainda mais", destaca.