Uma determinação da direção do Conjunto Habitacional Governador Juscelino Kubitschek, também conhecido como Edifício JK, no bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, implementou um código de vestimenta para que os moradores sejam atendidos na administração. A medida, tomada após uma assembleia-geral ordinária, foi comunicada no dia 12 de dezembro do ano passado e desagradou alguns habitantes do prédio histórico.
O Estado de Minas procurou a administração do condomínio que, por meio do conselheiro Astrogildo Wolanik, explicou que a medida foi votada em uma assembleia após reclamações de alguns moradores.
*Estagiário sob supervisão de Fernanda Borges
Na prática, as pessoas que habitam as duas torres, se quiserem ser atendidas na área da administração, seja para receber um documento ou resolver alguma outra pendência, “deverá comparecer com vestimentas adequadas ao ambiente de trabalho”, ressalta o comunicado pregado na parede do edifício.
Morador do JK há cinco anos, Paulo Raic Muniz acredita que essa é uma forma de perseguir o que é diferente e plural do condomínio. “Eu não sei o que ocorreu para acontecer esse recado, mas brinquei com os meus vizinhos que da próxima vez vou usar uma capa pra ir lá embaixo, já que tem essa demanda deles”, disse.
Outra moradora do edifício, que preferiu não se identificar, observou que a medida resulta de uma decisão arbitrária, na qual os habitantes precisam engolir o que foi determinado. "Porque alguém não poderia ir de chinelo, por exemplo, pegar um documento? Estamos dentro de casa. Exigir esse tipo de coisa em 2023 é um absurdo”, ressaltou.
O Estado de Minas procurou a administração do condomínio que, por meio do conselheiro Astrogildo Wolanik, explicou que a medida foi votada em uma assembleia após reclamações de alguns moradores.
"Tem muitos idosos aqui no prédio, pessoas que moram aqui há muitos anos e não estão acostumados com essas liberdades. Isso é decisão de assembleia, pessoal discutiu e conversou e achou que seria importante esse aviso, mas não é nada demais, pelo menos uma calça mais cumprida", disse o conselheiro.
Gestão na Justiça
O grupo que detém a gestão do JK está à frente do edifício há quase quarenta anos. A gestão duradoura, porém, virou briga na Justiça em 2021, com um grupo de moradores denunciando as diversas ilegalidades cometidas, entre elas a ausência de contagem de votos em assembleias gerais.
“As assembleias aqui são por ovação, não se contam os votos e a gente nunca tem acesso às procurações que eles dizem ter. Então nunca sabemos de quanto é essa maioria que aprova as coisas, mas para ser maioria teria que ter a contabilização dos votos”, comentou a moradora não identificada.
Astrogildo rebateu dizendo que a convocação para a assembleia foi feita de maneira adequada, mas que a adesão é realmente pequena por parte dos moradores. "A participação é baixa. As pessoas não vêm por um certo comodismo e quando acontece essas coisas eles ficam questionando", completou.
O processo que tenta anular a eleição da síndica para o seu 38° mandato ainda corre na 30ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte. Os moradores contestam que a assembleia foi convocada de forma irregular, sem um prazo mínimo de aviso para os moradores.
Na época em que o caso veio à tona, um morador, que também preferiu não se identificar, contou ao Estado de Minas que as assembleias eram grandes “teatros” orquestrados pela síndica para que ela fosse reeleita.
Em setembro de 2021 moradores do JK ainda acusaram a administração de calúnia e agressão, destacando o caso em que o jornal interno do condomínio levantou graves acusações contra um membro da chapa de oposição.
Na época em que o caso veio à tona, um morador, que também preferiu não se identificar, contou ao Estado de Minas que as assembleias eram grandes “teatros” orquestrados pela síndica para que ela fosse reeleita.
Em setembro de 2021 moradores do JK ainda acusaram a administração de calúnia e agressão, destacando o caso em que o jornal interno do condomínio levantou graves acusações contra um membro da chapa de oposição.
Incômodos maiores
Projetado em 1952 pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), o conjunto JK conta com 1.139 apartamentos em duas torres - sendo que a mais alta possui 34 andares e a menor outros 22 - criando uma verdadeira cidade vertical abrigando uma população estimada de 5 mil moradores.
Para Paulo Raic, a administração deveria focar em outros problemas. “O prédio me irrita em inúmeras coisas. É uma quadra interditada e você não sabe o por quê. São pessoas jogando lixo pela janela. Isso eles não se preocupam, não resolvem”, indagou.
Em abril de 2022, o conjunto JK recebeu o tombamento definitivo pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-BH). Conquista celebrada pelos moradores como uma forma de proteger o Patrimônio de qualquer intervenção que possa descaracterizá-lo. Por outro lado, os problemas internos do edifício ainda incomodam os habitantes.
“A administração tem incômodos culturais, enquanto os verdadeiros incômodos como os espaços abandonados que a gente podia estar usando, elevadores desligados, gente alimentando pombo, lixo sendo jogado pela janela, não ganham uma placa, um comunicado”, completou Paulo.
*Estagiário sob supervisão de Fernanda Borges