Em dois anos, apenas uma agência bancária foi roubada em Belo Horizonte. A ocorrência aconteceu na manhã desta quinta-feira (19/1), na Avenida Olinto Meireles, no Barreiro, quando por volta das 8h30 dois homens renderam quatro funcionários e levaram R$ 70 mil. Até a noite de hoje ninguém havia sido preso.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em 2022, 15 ocorrências de roubo a banco ou casas de câmbio foram registradas de janeiro a novembro, em Minas Gerais. Apesar disso, nenhuma das ações ocorreu na capital.
Luís Flávio Sapori, especialista em segurança pública, explica que as agências do interior do estado podem ser mais visadas devido a sua vulnerabilidade. Mesmo assim, ele afirma que não há um diagnóstico que explique os números repassados pelo Governo de Minas.
A agência no Barreiro já havia sido alvo de uma tentativa de roubo no último domingo (15/1). Segundo informações da Polícia Militar, os criminosos invadiram uma loja vizinha, que está vazia e disponível para locação, e tentaram furar a parede para acessar o banco. No entanto, a ação acionou o alarme e as pessoas fugiram.
"Será investigado se os casos tem relação. Existem muitas informações que estão sendo apuradas, temos que ter muita cautela", disse o cabo Félix, da PMMG.
Sapori avalia que houve uma negligência por parte do banco por não ter incrementado sua segurança interna. “O banco é que tem que cuidar da proteção interna do patrimônio e do dinheiro ali guardado. Existem tecnologias hoje, muito sofisticadas, para evitar que indivíduos armados entrem nas agências”.
Crime premeditado
Conforme a Polícia Militar, a ação da manhã de ontem não durou mais do que 10 minutos. “Eles já sabiam quem era o tesoureiro. Deixaram os outros três funcionários presos na cozinha nos fundos da agência. Aparentemente eles já conheciam a planta da agência”, contou o cabo Félix.
Aos policiais, os funcionários relataram que os criminosos eram bastante agressivos e faziam ameaças. “A ação dessas quadrilhas é sempre muito agressiva, inclusive psicologicamente. Felizmente não houve nenhuma agressão física”, relata.
Imagens do circuito interno de segurança registraram o momento em que os suspeitos renderam os funcionários, logo na entrada da agência. Nas imagens, um homem armado, usando uniforme vermelho da Superintendência de Desenvolvimento de Belo Horizonte (Sudecap), aponta a arma para um homem e gesticula para que os demais deixem as mochilas e bolsas no chão.
Em seguida, um segundo homem aparece, ele está usando boné e máscara facial. Ele recolhe os pertences dos reféns no chão, e os guia em uma porta das dependências internas da agência.
Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte esclareceu que o uso de uniformes pelos funcionários das prestadoras de serviços deve ocorrer, conforme previsto em contrato, somente nos serviços prestados com autorização da PBH e quando finalizados, devem ser recolhidos para não ocorrer situações de uso indevido.
“A PBH fará um reforço junto a suas prestadoras de serviço quanto a esse importuno e se coloca à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento".
Ação inibida
De acordo com o especialista em segurança pública, assalto a bancos era uma prática comum na década de noventa, mas com o avanço da tecnologia e criação de equipamentos de segurança a modalidade criminosa acabou sendo desencorajada. Outro fator que, na visão de Luís Flávio Sapori, ajudou que os crimes diminuíssem foi a presença de dinheiro físico dentro das agências.
Para ele, esses fatores ajudam que a investigação da Polícia Civil a respeito da ocorrência no Barreiro seja facilitada. “Como o número de associações criminosas envolvidas nessa modalidade diminuiu, a possibilidade do trabalho de inteligência policial aumenta muito para identificar os membros desse grupo”, concluiu.
Novo cangaço
Em Minas Gerais, roubo a agências bancárias ficou vinculado a operações de grupos identificados como “Novo Cangaço”. Nas ocorrências em que as associações estiveram envolvidas, cenas de terror foram vivenciadas pelos moradores da cidade, que ficaram em estado de sítio, devido a escalada de violência.
Sapori explica que a “nova modalidade” possui um planejamento sofisticado, grande poder de fogo, e investimento por parte dos criminosos em montar as equipes. Além disso, a quantia levada é “infinitamente superior" à de assaltos “comuns”.