Em 14 de janeiro, completou -se um ano que Minas Gerais começou a vacinar crianças de 5 a 11 anos contra COVID-19. Porém, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o índice de crianças nessa faixa etária que completaram o esquema vacinal no estado é de 57,91%. No momento, a imunização desse público-alvo está suspensa por falta de doses.
O Ministério da Saúde anunciou, na segunda-feira, a distribuição de mais de 740 mil doses de Coronavac para todos os estados, com o objetivo de retomar a vacinação infantil contra a doença. Já na quarta-feira, 70 mil doses começaram a ser distribuídas pela SES-MG aos municípios mineiros para o reinício da campanha, mas voltadas para imunização de crianças de 3 e 4 anos, que já começaram o esquema vacinal.
O Ministério da Saúde informa que o problema da falta de imunizantes para crianças é nacional e um dos principais desafios do governo Lula, que tomou posse em 1º de janeiro. Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a pasta afirmou que “assinou um acordo com a farmacêutica Pfizer para a compra de mais 50 milhões de doses da vacina COVID-19”. “Com a aquisição, que complementa o contrato vigente, o número total de doses chegará a 150 milhões”, acrescentou o ministério. Ainda segundo a pasta, para o público de 5 a 11 anos de idade estão previstas duas entregas: a primeira, com 11 milhões de doses, até o primeiro trimestre; e a segunda, com 6,57 milhões, no segundo trimestre.
Espera
A filha da dona de casa Pâmela Pires, de 29 anos, é uma das crianças dessa faixa etária que aguardam para completar o ciclo vacinal. Em novembro, mãe e filha foram até o Centro de Saúde Marco Antônio de Menezes, no Bairro Sagrada Família, Região Leste, atrás da segunda dose e já não havia imunizantes. A dona de casa espera que a filha Luíza, de 5, consiga receber a segunda dose do imunizante. Porém, tem encontrado dificuldades para levar a menina ao centro de saúde, pois mora no Bairro Taquaril.
“De ônibus leva uns 30 minutos. Não é tão longe, mas também não é tão perto. Na época da primeira dose, eu estava bem preocupada. Por isso, eu corri para levá-la. Como ela já estava com a primeira dose, eu fiquei mais tranquila, mas precisa tomar e já passou o prazo.”
Pâmela conta que a primeira dose foi dada em um posto próximo da casa delas. “Na data do retorno, aqui perto já não tinha mais. A primeira dose foi dada em agosto e em setembro ela deveria tomar a segunda. Aí eles me encaminharam para o posto do Sagrada Família”, explicou.
A dona de casa diz acreditar na vacina e só não completou o ciclo da filha pela falta de doses e comenta sobre os pais que deixam de imunizar os filhos. “Eles estão cometendo uma imprudência. Todas as vacinas que existem até agora são aplicadas, por que essa, que o risco (da doença) é maior, eles não querem deixar aplicar?”, questiona. “Não faz sentido; se têm medo das vacinas não deveriam deixar aplicar nenhuma.”
Desinformação
A infectologista da Santa Casa Cláudia Murta destaca que muitos pais ainda acreditam que as vacinas contra a COVID são experimentais. “É preciso entender que todas as vacinas disponíveis, tanto para crianças quanto para adultos, não são experimentais. São imunizantes já extensamente estudados, que cumpriram todas as fases de pesquisa e conseguiram mostrar, em todas elas, que são seguras e eficazes.”
Ela lembra que o grande benefício das vacinas é evitar os quadros graves de COVID. “As vacinas não conseguem evitar a transmissão do vírus. Mas conseguem evitar, na imensa maioria das vezes, que a pessoa, seja ela adulta ou criança, desenvolva as formas graves da doença.”
Segundo a médica, na grande maioria das vezes os quadros de COVID em crianças são leves. Porém, pode sim evoluir para quadros graves. “Infelizmente, ainda temos visto crianças internadas com quadros graves de insuficiência respiratória por causa da COVID. Hoje em dia, ela é a doença imunoprevenível, ou seja, para qual existe vacina. E é a doença que mais causa internação de crianças no Brasil.”
O médico pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também afirma que a adesão à vacinação contra a COVID para o público infantil tem enfrentado vários obstáculos. “Um aspecto importante é que as vacinas chegaram em um momento de mais calmaria da pandemia. Não foi naquele começo com muitas mortes, a onda da doença estava muito mais controlada em função da vacinação dos adultos.”
Ele reforça a percepção equivocada de que o risco de casos graves da doença é menor nas crianças do que nos adultos. “Uma comparação mais justa seria comparar a COVID-19 com as demais doenças pediátricas. Nos últimos dois anos, tivemos muito mais mortes por COVID em crianças e adolescentes do que todas as doenças do calendário infantil preveníveis por vacina. Somando as mortes por sarampo, coqueluche, meningite, gripe, diarreia, febre amarela, rubéola e caxumba não faz o número de vítimas que sozinha a COVID faz”, alerta.
Perguntada a respeito da baixa cobertura vacinal de crianças de 5 a 11 anos, a SES destacou que ela decorre de três fatores: fake news (notícias falsas); alguns pais ou responsáveis desconsideram a gravidade da COVID-19 em crianças e a importância da vacinação para a prevenção; e desconhecimento sobre a segurança da vacina. Em nota, o órgão disse ainda que “realiza diversas ações para combater estes fatores, como campanhas de conscientização junto à população, ações de mobilização social, orientações técnicas e capacitações dos profissionais das salas de vacina. (Colaborou Maicon Costa)