Atos que clamam por justiça e homenageiam as vítimas da tragédia de Brumadinho marcaram esta quarta-feira (25/1), data em que há quatro anos o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão tirava a vida de 270 pessoas no município e atingia diretamente e indiretamente outras milhares. Três atividades organizadas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) ocorreram em Belo Horizonte e no município da região metropolitana.
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Vítimas da tragédia em Brumadinho serão eternizadas em monumentoQuatro anos da tragédia de Brumadinho terá tributo em celebração religiosaInauguração de memorial em homenagem às vítimas de Brumadinho é adiadaBrumadinho recebe R$ 232 mi de acordo judicial por rompimento de barragemBrumadinho: Governo de Minas repassa R$ 232 milhões do acordo judicial Perícia avalia como 'em bom estado' a ambulância onde grávida morreuThiago Alves, da coordenação nacional do MAB, observa que esses atos são importantes para preservar a memória dos mortos e dos crimes, que se tornam invisíveis nas instâncias da sociedade. “É um ato de respeito às vítimas, um ato de persistência na luta pelos direitos. Enquanto houver uma pessoa num território em que não foi feita a reparação, seja pelas empresas, seja pelo estado, a luta não para”, reforçou.
A romaria teve como mote central a água, elemento que carrega a simbologia da vida. Na paróquia, uma missa foi celebrada reforçando o momento de reflexão e homenagem às vítimas, o que para o MAB é uma forma de unificar os símbolos que movimentam e dão sentido à luta.
O momento de união e fé foi exaltado pela presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), Alexandra Costa. “É muito importante esses momentos de fé junto à luta, pois só Deus, os amigos e os familiares das vítimas para nos confortar”, disse.
Após a missa, a romaria caminhou para um encontro no letreiro da cidade, onde a Avabrum realizou um ato de grito por “justiça, encontro, memória e não repetição”.
Ato em Belo Horizonte
Na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no centro de Belo Horizonte, também pela manhã, ocorreu um ato pela reparação integral dos crimes nas bacias do Rio Doce e Paraopeba. O evento reuniu os atingidos pela barragem e foi iniciado com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.
O ato contou com a presença do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PT), que ressaltou o compromisso da pasta com a segurança e o respeito à vida, se comprometendo em atender as pautas com a participação dos atingidos.
"Não haverá possibilidade no nosso país de qualquer política mineral tolerante com a insegurança. Nosso compromisso é com a segurança e o respeito à vida. Nossos recursos minerários devem ser explorados de forma oportuna, sustentável e racional”, disse Alexandre Silveira.
A expectativa do MAB é que o novo Governo Federal respeite os atingidos e que canais de diálogo e construção sejam reabertos, reafirmando a autonomia política do grupo. “Vamos propor ações e fazer pressão política. É isso que fizemos hoje com o Alexandre Silveira, no sentido de trazer ele como ministro de estado que faz a gestão de um grande orçamento e tem grande responsabilidade com o tema da mineração”, disse Thiago Alves.
Também estiveram presentes no ato o procurador Geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Jarbas Soares Júnior, o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Carlos Bruno Ferreira, e a Deputada Federal eleita, Duda Salabert (PDT).
No Tribunal de Justiça
À tarde, o ato “Indenização Justa Já” no Tribunal de Justiça, na Avenida Raja Gabaglia, encerrou a programação de homenagens e manifestações. A presidente da Avabrum expressou o sentimento de dor e indignação que a falta de justiça têm causado nos atingidos pela tragédia.
“Já tem quatro anos que a tragédia-crime aconteceu e até hoje ninguem foi punido, nenhuma empresa responsabilizada. São 270 pessoas mortas, entre elas duas gestantes, crianças que não tiveram nem sequer o direito de nascer”, completou Alexandra Costa.
Nessa terça-feira (24/1) a Justiça Federal aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre a tragédia de Brumadinho. Com a decisão, a Vale e a Tüv Sud se tornaram réus no processo, com outras 16 pessoas físicas, uma lista que conta com diretores e ex-diretores de ambas as empresas.
Essas pessoas respondem por crimes ambientais e também 270 vezes pelo crime de homicídio qualificado.
O coordenador do MAB acredita que essa decisão veio para dar satisfação à sociedade às vésperas dos quatro anos que marcam a tragédia, no entanto, mesmo atrasada ela é muito bem-vinda. “Isso mostra que não caiu no esquecimento e na invisibilização total”, disse.
Para ele, a luta dos atingidos tem forçado um processo em que as instituições e os poderes da república precisam dizer alguma coisa à sociedade e tomar iniciativas. “Esperamos que o próprio MPF e os juízes federais tratem o caso com muito rigor técnico e jurídico para que a gente tenha um resultado justo. E que o processo dê uma resposta a essas famílias em sofrimento crescente”, completou Thiago Alves.
*Estagiário sob supervisão