Jornal Estado de Minas

IMUNIZAÇÃO

Volta às aulas liga alerta para baixa cobertura vacinal entre crianças

A iminência da volta às aulas reacende o alerta para a discussão da vacinação infantil. A cobertura das crianças contra a COVID-19 ainda é muito deficitária em Belo Horizonte e ecoa um cenário nacional de defasagem também na imunização contra outras doenças. Especialistas destacam a importância de atualizar o cartão de vacinas antes do retorno às escolas, quando o contágio pode ser impulsionado.





De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) na última terça-feira (24/1), apenas 16,8% das crianças de 3 e 4 anos da cidade receberam as duas doses da vacina contra a COVID-19. O percentual cresce para 66,2% entre os moradores de 5 a 11 anos da capital, mas segue insuficiente.

O epidemiologista e pediatra José Geraldo Leite Ribeiro, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, destaca que o aumento no contágio de doenças respiratórias no retorno às aulas é comum, mas que a baixa cobertura vacinal preocupa.

“É tradicional que, com o retorno das aulas, a transmissão das doenças respiratórias aumente muito entre as crianças. E esse é o caso da COVID-19. As baixas coberturas entre as crianças nos deixam preocupados de que possa haver uma intensificação da transmissão. Sabemos que a doença não é tão grave entre as crianças assim como entre os idosos, mas podem acontecer casos graves, inclusive relacionados a óbito. Portanto, é muito importante que, antes do retorno às aulas, as famílias atualizem a imunização dos filhos”, alerta.





Vacinação


Embora o coronavírus tenha maior circulação no momento, a vacinação de crianças tem apresentado números ruins de uma forma geral. Segundo análise do Observatório de Saúde na Infância da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a meta só foi atingida na aplicação da BCG entre os imunizantes do calendário infantil em 2022.


Segundo a Fiocruz, até novembro do ano passado, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, a tetra viral, que inclui proteção contra a varicela, e a hepatite A, não haviam ultrapassado a marca de metade do público-alvo.

Para o imunologista Gustavo Cabral, autor do livro "Sistema imunológico e vacinas" e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas-IV da Universidade de São Paulo (ICB-IV/USP), houve um impacto de teorias falsas sobre as vacinas que impactou a cobertura no Brasil nos últimos anos de uma forma geral e, sobremaneira, a imunização de crianças.





“A gente tem uma história de muita eficiência. Se a expectativa de vida hoje supera os 70 anos, em grande parte se dá pelas vacinas. No entanto, quando envolve as crianças, entra uma questão muito emocional. Os pais ficam mais suscetíveis às teorias antivacina. Desde 2016, estamos tendo uma queda na cobertura. É importante que todas as vacinas sejam aplicadas, não apenas contra doenças de alta incidência. Manter as doenças sob controle é a melhor forma de a gente não ter surtos. A gente lutou muito nas últimas décadas para conseguir controlar e erradicar algumas enfermidades”, explica.


Cabral ressalta que é necessário interromper a tendência na queda da cobertura vacinal entre as crianças e que o atual governo deve retomar a autoridade e passar segurança à população sobre a segurança e o impacto positivo das imunização para a saúde pública.

“Neste ano, a gente tem que voltar a bater todas as metas das principais vacinas infantis. Não tem mais desculpas. É preciso trabalhar na orientação social porque, infelizmente, os movimentos antivacina cresceram muito. Essa situação, de uma equipe técnica, que deveria passar segurança sobre o programa de vacinação, ficar perguntando se os pais querem ou não que os filhos recebam a vacina cria um problema, um cenário fértil para que se questionem os imunizantes”, afirma o pesquisador.





Cuidados

O pesquisador do ICB-IV/USP destaca que é necessário que as famílias se atentem para a completude do cartão de vacinação das crianças e que esse cuidado permaneça durante todo o ano e não apenas no período da volta às aulas. Ainda assim, ele ressalta que as crianças, principalmente as mais novas, são um público mais suscetível às doenças.

“A gente sempre vai estar no risco quando fala de crianças nos primeiros anos de vida, porque elas são naturalmente mais suscetíveis, é o período das viroses, como fica conhecido entre os pais. Os primeiros anos são a fase de maturação imunológica. Nesse momento, o número de mortes de crianças de 0 a 4 anos representa quase 50% das mortes entre crianças e adolescentes por COVID-19, por exemplo”, avalia.

O epidemiologista e pediatra José Geraldo Leite Ribeiro corrobora a necessidade de atualização do cartão de vacina das crianças, mas destaca alguns imunizantes que devem estar na lista das prioridades dos pais nesses últimos dias de férias.





“Todas as vacinas do calendário básico do Programa Nacional de Imunizações (PNI) são muito importantes. No entanto, vale destacar as vacinas contra meningite meningocócica, que são extremamente importantes entre aqueles que convivem com muitas pessoas em ambiente fechado, como é o caso das escolas. E também a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. A DTP, contra difteria, tétano e coqueluche, deve ser levada em conta também, porque a coqueluche não está erradicada e é uma doença potencialmente grave”, avalia.