Jornal Estado de Minas

ESTRADAS

BR-265: motoristas contam prejuízos entre Lavras e São João del-Rei

Com a condição precária de um longo trecho da BR-265 entre Lavras, no Sul de Minas, e São João del-Rei, no Campo das Vertentes, é comum relato de prejuízos causados por buracos e problemas que surgem a cada quilômetro da rodovia. “A tensão é o tempo inteiro. Os carros vêm  cortando, dançando, fazendo zigue-zague na pista. Porque são muitos buracos mesmo.



Um atrás do outro.” Esse relato é da comerciante Cassia Pereira, que estourou dois pneus de seu carro ao passar por um buraco enquanto fazia o caminho de apenas 30 km entre Perdões e Lavras.

 

“Com certeza é uns R$ 1 mil que vou gastar agora de pneus. Complicado”, lamentou. Segundo ela, o problema é antigo na BR-265, mas piorou de um ano para cá, principalmente com o período chuvoso. Quando a encontramos, no Km 359, havia uma hora que estava na beira da estrada esperando a seguradora rebocar o automóvel.

 

Nos Kms 352 e 351 da BR-265, já no perímetro urbano de Lavras, as crateras em  quase toda a pista em diversos pontos da estrada estavam tomadas pela água. Não há sinalização no local e o que indica que há buracos gigantes são pneus e galhos de árvores colocados pelos próprios motoristas que utilizam a via. Apesar dos esforços, no período noturno a falta de sinalização reflexiva pode se tornar uma armadilha para os motoristas.

Durante o trajeto, motoristas que passavam pela reportagem gritavam e acenavam pedindo ajuda, ao mesmo tempo que tentavam desviar dos buracos. “Ajuda a gente, pelo amor de Deus”, gritou o passageiro de uma motocicleta.

A cada quilômetro percorrido, a situação piora e o número de buracos aumenta, junto com a presença de veículos de grande porte. A poeira levantada também é muita, o que dificulta a visão do motorista. E,  quando se chega ao ponto mais crítico do trajeto, o conceito de rodovia se perde em meio a crateras que são maiores que o acostamento, que o asfalto e que os próprios veículos.





Lama e poças de água 

O local citado fica no Km 343 da BR-265, o mesmo que aparece no início da reportagem. Lama, enormes poças de água e um trânsito muito intenso de carros, motocicletas, ônibus, caminhões, carretas e até uma ambulância criam um cenário que jamais imaginamos ver. Os veículos gerenciam o trânsito por conta própria, ou melhor, por conta dos buracos, e nenhum órgão oficial está presente no local. O número de motoristas pedindo ajuda aumenta e um acidente grave parece iminente quando as carretas precisam passar nas canaletas inclinadas.

 

O almoxarife Antônio Marcos, morador de Lavras, estava no trecho caótico e cobrou uma solução dos governantes. “É perigoso. A gente quer ver os governadores olharem para a gente. A situação dos motoristas está complicada. É ver se alguém pode estar nos ajudando”, disse.

O borracheiro Walcir Pires, que lucra consertando estragos dos buracos, diz que a estrada não suporta o tráfego (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Uma outra motorista que passava pelo local, que se identificou como Andressa, afirmou que estava de férias, indo para Tiradentes, município do Campo das Vertentes, e que se surpreendeu com o estado da rodovia. “Me falaram que estava ruim, mas eu achei que dava para passar”, falou.



Desvio improvisado fora da pista 

Carretas e carros precisam sair da pista para passar e alguns dos buracos são impossíveis de desviar. Alguns deles já ocupam, literalmente, toda a extensão da pista, de um lado a outro. Nos quilômetros à frente, há pista. Na BR-265 isso é um privilégio. Apesar disso, os grandes buracos ainda são comuns.

Mas o trecho anterior é tão inacreditável que é quase reconfortante voltar às crateras. Além disso, na rodovia, duas pontes que passam sobre o Rio Grande, uma na divisa entre Nazareno e Itutinga, e a outra na altura do Km 341, estão em situação precária. O guarda-corpo de ambas as estruturas está quebrado em diversos pontos, com risco de queda de veículos.

Cristiano Nunes mostra os prejuízos em trecho perto de Itumirim (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
 

Na altura do Km 335, próximo ao município de Itumirim, encontramos Cristiano Nunes Gonçalves, vendedor, próximo ao seu carro, com as duas rodas do lado esquerdo totalmente removidas. O problema, como é comum na BR-265, foram os buracos. O homem teve seus pneus e rodas danificados por crateras às 23h de 31 de janeiro e já estava a mais de 12 horas na estrada aguardando o conserto.





"Dormimos no chão, no frio" 

Segundo Cristiano, ele saiu com seus colegas de Miguelópolis, em São Paulo, rumo a São João del-Rei, a trabalho, e o problema enfrentado fez com que ele e seus companheiros tivessem que passar a noite dormindo ao relento, na beira da rodovia.

“Nós dormimos por aqui mesmo, esticamos o colchão e dormimos no chão, no frio, chuviscando, por causa de uma estrada cheia de buracos”, contou. “A pista está um caos, um problema, de fora a fora, uma pouca vergonha mesmo”, desabafou. “É muito sofrimento, a gente fica muito sentido. Antes arrumar uma pista dessa, por um pedágio, que a gente paga”, completou.

 

Cristiano contou que faz o trajeto de quatro em quatro meses. “Não pode continuar desse jeito, não. Vai acontecer um acidente muito grave e muita gente vai chorar com a perda de alguns familiares”, alertou o vendedor.



"A estrada não suporta mais"

No Km 312, em Itutinga, paramos numa borracharia onde um caminhoneiro trocava pneus de seu veículo. Júlio César Campos, que faz uma rota entre o Paraná e Conselheiro Lafaiete, na região mineira da Serra da Mantiqueira, era mais uma vítima dos buracos da BR-265.

“Fui passar num buraco, devagarzinho, e ele (o pneu) explodiu. Conforme você vai andando, pegando buracos, vai descolando o pneu. Chega uma hora que explode mesmo”, explicou. O caminhoneiro cobrou do poder público uma solução. “Não tem governador, não tem ninguém que tome providências. Não são do bolso dele o dinheiro para comprar pneus. E é caro, R$ 3.500 cada pneu desses”, falou.

Comerciante Cassia Pereira relata perda de R$ 1 mil com pneus ao percorrer trecho de 30 quilômetros da rodovia (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Walcir Pires é o borracheiro que trocou o pneu do caminhão de Júlio César. Trabalhando há três anos no local, afirmou que as estradas sempre foram perigosas no local, mas que a situação vem piorando por causa das chuvas. Segundo ele, são tantos carros estragados por dia que não consegue calcular uma média. “Não tenho nem ideia, mas é bastante”, disse.





"Espero que alguém tome atitude" 

Apesar do número de estragos causados pela estrada trazerem um aumento na clientela do borracheiro, ele torce por melhorias. “Não é só pelo serviço, mas pela família da gente que roda na estrada. Tem que ter uma manutenção, está muito crítica. Não tem jeito de andar à toa na rodovia. É só na precisão. Espero que alguém tome atitude e conserte a estrada”, falou.

 

Para Walcir, a rodovia não comporta o fluxo atual de veículos. “Pelo movimento de tem de carretas, bitrens, nove eixos, é caminhão demais. A estrada não suporta isso mais.” No Km 306, a conclusão vem na placa “Todos somos vítimas da BR-265”.

Mais tranquilo 

Já a partir do Km 299, na altura do município de Nazareno, a estrada melhora bastante em comparação com os trechos anteriores. Os cerca de 50km finais até a chegada em São João del-Rei são tranquilos. Apesar disso, toda a estrada é pouco sinalizada e as marcações na pista estão apagadas em muitos trechos. Há muitos remendos em buracos.