Jornal Estado de Minas

CRIMES BÁRBAROS

Padre sobre prédio de BH: 'Bênção não é cura para sofrimento mental'

O caso de um prédio marcado por dois crimes bárbaros no último ano no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, tem chamado a atenção de vizinhos e de outros moradores da capital. Na terça-feira (7/2), após um corpo esquartejado ser encontrado em um dos apartamentos do edifício, uma condômina disse ao Estado de Minas que pretendia chamar um padre para benzer o local. O pároco do bairro explica que as bênçãos são bem-vindas, mas devem ser feitas com cuidado para não estigmatizar o sofrimento mental.





No domingo (5/2), o corpo de um homem em situação de rua esquartejado foi encontrado e um morador de 23 anos confessou o crime após se internar em um hospital psiquiátrico para tratar uma crise de esquizofrenia. Em maio do ano passado, um homem de 67 anos foi preso após matar um vizinho de 28 anos esfaqueado.

Diante dos dois casos de violência em menos de um ano, uma moradora disse que procuraria um padre para benzer o prédio. A reportagem entrou em contato com o pároco Gladstone Elias de Souza, que trabalha na paróquia do Bairro Santo Antônio. O sacerdote também é psicólogo e destacou a importância de não estigmatizar pessoas com sofrimento mental.

“No caso apresentado, temos que ter dois olhares que se completam, embora distintos. Do ponto de vista espiritual, devemos saber que além das realidades visíveis, existem as realidades invisíveis, portanto espirituais. O outro lado da questão é sabermos perceber que os casos narrados falam basicamente de pessoas com sofrimento mental e aí temos que evitar todo o tipo de preconceito. Porque, não raras vezes, se cai no excesso de considerar que todas as pessoas que sofrem de esquizofrenia são perigosas e que a pessoa que tem sofrimento mental seja de algum modo um psicopata em potencial e isso seria um grave erro. Não é possível considerar esse tema de modo preconceituoso”, contemporiza.





O padre prossegue ressaltando que pedir bênçãos e a presença de um sacerdote no ambiente doméstico é uma prática comum entre os católicos e que faz bem aos fiéis que desejam proteção e paz espiritual. Contudo, é necessário que a prática não seja vista como uma cura para doenças psiquiátricas.

“Abençoar é sempre oportuno, porém devemos evitar o exagero de atribuir ao demônio questões que são muito nossas, humanas, inclusive o sofrimento mental. Pessoas com problemas psiquiátricos e psicológicos graves precisam de tratamento. Evitemos preconceitos que poderiam jogá-las na marginalidade”, avalia.

Gladstone Elias de Souza afirma que não foi chamado para benzer o prédio em questão, mas afirma que fiéis que desejam pedir bênçãos ao ambiente doméstico devem procurar a secretaria da paróquia mais próxima e agendar uma visita. “O ritual básico é a  oração a Deus pedindo proteção às pessoas que lá moram, trabalham ou visitam isso é acompanhado do evangelho e o pedido de intercessão de anjos e santos.”





Exorcismo


À reportagem, o padre ressaltou que, se chamado para abençoar o prédio, não se trataria de um ritual de exorcismo. Ele confirma a crença em um mal no plano espiritual pela Igreja Católica, mas reitera a necessidade de evitar excessos ao tratar de casos delicados como os ocorridos no Bairro Santo Antônio.

“Existe sim na Igreja Católica o chamado exorcismo, porém não se aplica à situação apresentada. A bênção pedida trata-se de rogar a proteção de Deus. Não há nenhum sinal de que possa existir naquilo, por mais terrível que tenha sido, o caso de um demônio. É melhor saber que existem sim realidades espirituais, porém devemos evitar considerar que tudo seja obra do demônio. Isso seria um excesso perigoso. A igreja acredita na existência do mal, porém deve-se evitar ficar encontrando demônios por toda a parte”, destaca.