“Que tipo de pessoa mata a outra atropelada e depois vai para uma reunião como se nada tivesse acontecido? Ele é frio e psicopata”, afirma Neusa Castro Almeida Florindo, de 54 anos, referindo-se a Tiago Dalpério, prefeito de Tombos, cidade da Zona da Mata mineira. Em entrevista ao Estado de Minas, e com a fala embargada pelo choro em muitos momentos, ela pede por justiça após a filha ser morta na rodovia RJ-220, entre Porciúncula e Natividade, no estado do Rio de Janeiro.
“Uma pessoa que passou pelo local do acidente veio até minha casa avisar que minha filha tinha caído de moto, mas estava bem, pois tinha machucado apenas o pé. Disse também que uma ambulância estava a caminho. Eu estava sem carro na hora, e um vizinho se dispôs a me levar ao local do acidente, mas, quando chegamos lá, a ambulância já estava saindo. Então, a seguimos até chegar ao pronto-socorro – onde tomei ciência do atropelamento e da gravidade”, conta a mãe.
Antes disso, um menino, que estava perto do local do acidente e conhece dona Neusa, disse: “Tia, ela está muito mal”. Foi com essa frase na mente que a mãe foi atrás da ambulância. “Quando chegamos ao hospital percebi que a perna dela estava dilacerada. Senti na hora que ela não tinha mais vida, mas a equipe médica mesmo assim tentou fazer o que era possível e a intubaram. Aquele foi o pior dia da minha vida.”
Na noite do atropelamento, Tiago Dalpério seguiu para a Câmara Municipal com o objetivo de participar de uma reunião, que foi transmitida ao vivo em uma rede social do Legislativo. Na ocasião, ele agradeceu a Deus pela oportunidade de estar ali, destacou obras na cidade, entre outros pontos. Para a mãe da jovem, esse comportamento revela muito sobre quem é o prefeito.
“O que me restou é a dor de lembrar dela”
“Ao ir para a Câmara após o acidente, ele escondeu o carro ao estacionar em uma garagem particular. Na sessão, falou naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Estava tranquilo. Agora, o que me restou é a dor de lembrar dela, olhar as roupas no guarda-roupa e saber que nunca mais vou poder abraçá-la”, lamenta.
Na última sexta-feira (3/2), dona Neusa, amigos e familiares fizeram uma manifestação em frente à Prefeitura de Tombos. “Ele [o prefeito] mandou fechar a entrada ao meio-dia. As pessoas apenas foram lá para manifestar solidariedade e pedir justiça. Quero dizer para ele: 'venha encarar a mãe da jovem que você matou!' Mas ele não tem coragem porque é um covarde”, afirma.
Filha de 4 anos é acompanhada por psicólogo
Funcionária da Prefeitura de Porciúncula (a cerca de 10km de Tombos), onde exercia o cargo de inspetora de alunos na Escola Municipal João Braz desde 2022, Maria Almeida Florindo deixa a filha Maria Antonela, de 4 anos.
“O pai nunca deu assistência. Só veio aqui quando a criança fez 1 ano. Eles tentaram viver juntos como família por cerca de um mês, em Uberlândia, mas não deu certo, e ela voltou para continuar morando comigo e meu esposo”, conta Neusa, destacando que a filha estava estudando para concursos e já estava no quarto período do curso de matemática na Universidade do Estado de Minas Gerais, em Carangola.
Ainda conforme a mãe, a criança, em decorrência da pouca idade, foi poupada da notícia do falecimento. “Estamos com uma psicóloga para acompanhá-la. Estou fazendo de tudo para deixá-la o menos possível aqui em casa para que ela não procure tanto pela mãe. Por enquanto, eu, meu marido e ela estamos morando com minha irmã”, finaliza.