Jornal Estado de Minas

VULNERABILIDADE SOCIAL

População em situação de rua de BH aumenta 192% em oito anos

Em oito anos, a população em situação de rua de Belo Horizonte cresceu 192%. Em 2022, 5.344 pessoas estavam vivendo em calçadas, praças, terrenos baldios, debaixo de viadutos, ou pernoitaram em instituições públicas e privadas. Os dados são do Censo Pop Rua, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com o executivo municipal. 





Conforme o levantamento, 84% das pessoas em situação de rua são homens, em média com 42 anos. Os outros 16% são mulheres, com 38 anos, em média. Além disso, 82,6% da população é composta por pardos e pretos. 

Durante a apresentação dos dados levantados pelo censo, o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG Frederico Garcia apontou que a população em situação de vulnerabilidade social, encontrada pelos pesquisadores, coincide com os números apresentados pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio dos usuários ativos de serviços como atendimento de saúde e vacinação. 

levantamento foi feito entre 19 e 21 de outubro de 2022 e contou com a participação de 300 pesquisadores para as nove regionais de BH. O objetivo foi levantar não só o número dessa população, mas o que a levou a viver dessa forma e quais as perspectivas de futuro. Foram ouvidas pessoas nas ruas, abrigos, restaurantes populares, praças e terrenos baldios, entre outros locais.




Tempo nas ruas 

Um dos destaques da pesquisa foi o aumento do tempo em que as pessoas permanecem em situação de rua. Em 2013, a estimativa era de cerca de 7 anos, já em 2022 o período passou para 11 anos. 

Ainda de acordo com o documento, das 5.344 pessoas apontadas pelo censo, 2.507 responderam às perguntas dos pesquisadores. Deste total, 36,7% dos entrevistados relataram que foram para as ruas em razão de problemas familiares, seguido de uso de álcool e drogas (21,9%) e desemprego (18%). Entre aqueles que não responderam ao censo, as principais razões foram sinais de ebriedade ou intoxicação (20,96%) e recusa (19,44%).
 
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Além disso, sair das ruas é o desejo de 91,4% daqueles que hoje vivem essa realidade. No entanto, a concretização da vontade esbarra na falta de moradia e de acesso a um trabalho assalariado. Para 27% dos entrevistados, tornar-se beneficiário de programas de transferência de renda seria um mecanismo para deixar as ruas, enquanto 17% acreditam que poderiam ter uma nova vida com educação ou formação profissional e 14,8% a partir de cuidados com a saúde.

Renda

Mais de 50% da população em situação de rua de Belo Horizonte não nasceu na cidade. Das 5.344 pessoas, 34,5% vieram do interior de Minas Gerais; 23,2% de outros estados; e 0,8% de outros países. Na capital, as regiões com maior concentração são Centro-Sul e Leste, onde estão mais da metade das pessoas encontradas.





O trabalho informal tem garantido algum tipo de renda para as pessoas que hoje estão em situação de rua. Os valores, em média, vão de R$802 a R$1.243. A coleta de material reciclável é a atividade de 15,6% dos entrevistados, enquanto 6% vende bala, frutas ou água nas ruas, 4,6% lava carros ou presta serviço de flanelinha e 4,2% pede dinheiro.

Números divergentes

Pesquisadores do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua defendem que o cenário é bem pior do que o apresentado pela Prefeitura de Belo Horizonte, que estima entre 4 mil e 9 mil pessoas em situação de rua na capital.   

O último levantamento, divulgado em outubro, pelo observatório, aponta que a cidade possui 11.165 pessoas em situação de rua. 

Na época da pesquisa , o professor André Dias, Coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirmou que existe uma subnotificação de casos de pessoas em situação de rua em Belo Horizonte. Ele também questiona a base de cálculo do Executivo sobre o segmento. Enquanto a prefeitura trabalha com dados dos últimos 12 meses do CadÚnico, o pesquisador defende que o ideal seria ter como base os últimos 24 meses, segundo orientação do Ministério da Cidadania.




 
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O secretário de Desenvolvimento Econômico, Adriano Faria, discorda e diz que os dados utilizados pela pesquisa da UFMG não condizem com a realidade vivenciada no município. O CadÚnico é um instrumento de coleta de dados e informações voltado para fins de inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda.
  
Adriano ressaltou também que o Censo servirá para esclarecer essas dúvidas em relação a quantidade de moradores em situação de rua. Segundo ele, além de mostrar quantos são, o levantamento irá exibir quem são essas pessoas, o que ele classificou como mais importante do que os números.