O que deu certo e o que precisa melhorar no carnaval de Belo Horizonte? O Estado de Minas ouviu organizadores de diversos blocos que desfilaram durante a folia para entender a visão de quem fez a festa funcionar. Os organizadores dos blocos elogiaram, em sua maioria, a alegria e receptividade do povo mineiro, destacando, principalmente, o clima de paz, festa e respeito que imperou durante os quatro dias de festa. O papel social do carnaval também foi exaltado. Na outra ponta, a dificuldade em conseguir patrocínios privados foi a principal queixa dos blocos, que cobraram a realocação de parte de lucros dos estabelecimentos comerciais e de serviços durante o período para aqueles que fazem a festa.
Gustavo Caetano, fundador e mestre do Queixinho, afirmou que apesar de se vender a ideia de que o carnaval de Belo Horizonte é um dos maiores do país, é preciso ter mais que um grande número de turistas para que a festa realmente seja consolidada. “Tem que aumentar a estrutura e captação de investimentos. Tem que incentivar as empresas privadas, que são beneficiadas pelo carnaval, a retornar parte desse dinheiro em forma de investimento. Não adianta falar que é o maior carnaval se quem realmente faz a festa fica sem estrutura. Esse é um ponto que a gente tem que melhorar, e rápido”, defendeu.
“É inadmissível que empresas que são diretamente beneficiadas pelo carnaval, como cervejarias, aplicativos de transporte, de alimentação, hospedagem, rede hoteleira, drogarias e empresas de ônibus e aviação não ajudem. Está na hora de as empresas serem cobradas, seja por decreto, seja por meio dos impostos. E esse dinheiro tem que entrar diretamente para quem faz a festa, que são os blocos. A gente não precisa de intermediário”, completou.
Como pontos positivos, Caetano destacou a bela folia que aconteceu na cidade, mas ressaltou que é necessário levar o carnaval para novos locais, principalmente para as periferias. “O ponto positivo foi o povo mineiro, que recebeu milhares de turistas do Brasil inteiro. Está sendo uma festa linda. O povo nas ruas sendo respeitoso, abraçando o carnaval. São vários blocos lindos, mesmo sem dinheiro. O carnaval é maior que o dinheiro, e os mineiros estão mostrando isso. Mas a gente precisa ampliar mais”.
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Geo Ozado, presidente da Liga Belo-Horizontina de Blocos Carnavalescos e organizador do Baianas Ozadas, destacou o caráter de retomada do carnaval de BH, após dois anos sem a realização do evento por causa da pandemia de COVID-19 e ressaltou o apoio também do governo de Minas. “Nunca a gente ficou tanto tempo sem essa festa popular, que é essencial para a cultura brasileira. A gente viu o papel importante que o carnaval tem na vida social, de alento para as pessoas. Mas o governo do estado entrando, pela primeira vez, no carnaval é talvez o principal ponto positivo que posso destacar”.
Por outro lado, Geo Ozado lamentou os problemas financeiros enfrentados pelos blocos. “Muitos blocos tiveram dificuldades de prospecção de patrocínio, o que gerou dificuldades financeiras. A coisa cresceu e as responsabilidades cresceram também. Temos que ter cuidado e carinho com a festa, com o público. Espero que os governos estadual e municipal, independentemente de disputas ideológicas, possam dar as mãos para, juntos com a gente e todos os órgãos envolvidos, fazer dessa a melhor festa possível.”
Estrutura ok
Robhson Abreu, do Bloco de Belô, elogiou a estrutura do carnaval de Belo Horizonte durante seu desfile. “No cortejo do Bloco de Belô, pelo menos, tinham muitos sanitários químicos, tinham muitos PMs, não deu muita briga e confusão, a dispersão foi bem tranquila, a BHTrans fechou as ruas bem mais cedo”, enumerou. Ele foi mais um a citar a parte financeira como principal adversidade do carnaval de 2023. “O ponto negativo, além de acabar muito rápido, foi a falta de patrocínio da iniciativa privada. O turista vem para BH por causa dos blocos de carnaval, de rua. Os hotéis, supermercados, bares estão cheios. Então, acho que está passando da hora de as empresas ajudarem os blocos. A gente pode fazer parcerias com os estabelecimentos comerciais, como acontece em Salvador. A iniciativa privada quer faturar, mas não quer tirar dinheiro do bolso para ajudar.”
O bloco Eleganza estreou nesta edição do carnaval de Belo Horizonte e gostou da experiência, com ressalvas. Rafa Mártir, um dos organizadores, elogiou a festa, mas ressaltou que o apoio da administração pública ainda é insuficiente. “Achei o carnaval incrível, mas principalmente pela população, que deu tudo de si para que ele acontecesse. A gente ainda é carente de um apoio mais efetivo da prefeitura tanto quanto do governo do estado. Mas o carnaval de BH é feito com o povo. E se juntando, a gente fez uma festa linda.”
Tropeços
Heleno Augusto, vocalista e organizador do Havayanas Usadas, elogiou o espírito do público durante o carnaval. “Vi pouquíssimas coisas que remetessem a violência, desrespeito. Foi tudo muito lindo. Clima muito bom, não choveu. Foi ótimo para nós.” Segundo o vocalista, a incerteza sobre os rumos da festa antes de ela acontecer foi algo que preocupou bastante a organização dos blocos.
“O ponto negativo foi a incerteza de saber como íamos fazer. Tem um edital da prefeitura que é um auxílio, que paga parte das despesas que a gente tem, mas não teve patrocínio grande. E o edital do estado, o Carnaval da Liberdade, que é um dinheiro maior, entrou em fevereiro. O trabalho que a gente faz em quatro, cinco meses de produção, tivemos que fazer em 10 dias. O Havayanas e vários outros blocos; inclusive, tiramos dinheiro nosso, pessoal, do bloco, de show, oficinas, para receber depois que as coisas acontecessem.”
Luh Nepomuceno, do bloco A Bíblia dos Solteiros, mais um estreante no carnaval de Belo Horizonte, considera importante que haja melhorias estruturais para a folia. “Acho que podia melhorar a estrutura dos banheiros, que foi difícil achar, a não ser nos barzinhos. Algumas informações poderiam ser centralizadas, porque houve alguns blocos que saíram nas informações na central e outros não, mesmo alguns tradicionais. A segurança, pois fiquei sabendo que houve muitos furtos, apesar de ter visto menos violência que em 2020. Mais caminhões de água”, listou.
Mesmo com os apontamentos, Nepomuceno acredita que já houve melhorias consideráveis em relação aos últimos anos, o que, para ele, destaca o carnaval da capital mineira no país. “Acho que a gente já teve uma evolução muito grande. Por ser uma pessoa que já passou em todos os carnavais (mais importantes) do Brasil, eu ainda acho e defendo que Belo Horizonte é o melhor lugar.”
Tempo curto
Lucas Moraes, diretor e um dos fundadores do bloco Funk You, ressaltou o clima de alegria e paz durante o cortejo. “O desfile do Funk You superou todas as expectativas em relação à animação do público, à tranquilidade e à paz, e a participação dos Mcs alegrou bastante nosso desfile”. Apesar de computar um saldo positivo, Lucas considerou que houve problemas durante o desfile, que prejudicaram o espetáculo preparado.
“Tivemos alguns pontos em relação ao trajeto, pois não conseguimos chegar aonde tínhamos planejado, que era a Praça da Estação. O horário também, a gente queria ter conseguido mais 10, 15 minutinhos para acabar a apresentação de fato, tivemos que interromper sem ter apresentado as duas últimas MCs. Isso para nós foi um certo transtorno e a gente ficou um tempo ali tentando resolver a questão do trajeto. A expectativa é que a gente siga melhorando.”
De olho no futuro
Para Gilberto Castro, presidente da Belotur, por ora, o carnaval de Belo Horizonte tem um saldo muito positivo. Depois de domingo, quando a folia termina, haverá um balanço completo. “Até o momento, a gente tem uma entrega muito satisfatória, um planejamento muito bem executado. O balanço até o momento é muito positivo. O importante é que tivemos, até então, um carnaval feliz, num ambiente seguro, limpeza funcionando, tudo acontecendo da melhor forma possível.”
“Em relação a melhorias para o ano que vem, normalmente a gente recebe relatórios de todos os órgãos apontando o que funcionou e o que precisa melhorar. Acho que a gente vem conseguindo, ano a ano, ter essas melhorias e entregas. Com certeza, no ano que vem, faremos ainda melhor”, prometeu. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que fará um balanço do carnaval após o fechamento da programação, que ocorre no domingo. (MC)
E ainda tem mais
Engana-se quem pensa que o carnaval terminou na terça-feira. Ontem, foliões desafiaram o cansaço e agitaram blocos pela capital desde as primeiras horas da quarta-feira de cinzas, nos cortejos do Manjericão, Afro Magia Negra, Badadan Banda de Rua, I Wanna Love You e Bloco da Saudade. E para quem ainda tem gás, a programação da folia de Belo Horizonte se estende até domingo, com uma pausa hoje e amanhã.
Concentrada na Praça Toscana, no Bairro Bandeirantes, na Região da Pampulha, a bateria do Bloco do Manjericão, conhecido por levantar a pauta da legalização da maconha, se despediu da folia. Pela primeira vez em sete anos, o bloco, que costuma se reunir às 4h20, abandonou o mistério e incluiu o local da concentração na programação oficial do carnaval. Tradicionalmente, o endereço só era revelado às vésperas do desfile. Este ano, o cortejo também começou mais tarde, às 7h.
Fantasiados de verde, os foliões do Bloco do Manjericão acordam cedo para propor um debate pela legalização da maconha. Folhas viraram brincos e adereços para a fantasia daqueles que não querem que o carnaval acabe. "É um bloco muito livre, cheio de famílias, bem animado. Uma ótima oportunidade para encerrar o carnaval", disse a foliã Luiza.
Além de levantar a bandeira “canábica” desde as primeiras edições do desfile, o bloco também reforça a preservação do meio ambiente. Os locais escolhidos para o cortejo priorizam áreas verdes. "É um ato político de chamar a atenção para a pauta e sempre valorizando uma área verde da cidade, que necessita de preservação. Já passamos pelo Parque Lagoa do Nado, pela encosta da Serra do Curral", conta Dário de Moura, integrante da bateria do bloco, que completa 10 anos. "O projeto nasceu no Santa Tereza, quando ainda não era possível usar o nome maconha ou símbolos da planta aqui no país. Era tudo muito proibitivo, sem abertura para o debate. O Manjericão era uma forma de nos expressar", relembra Dário.
Sem sair do lugar, por sua vez, o Bloco I Wanna Love You reuniu foliões no Sagrada Família, em Belo Horizonte. O bloco em homenagem a Bob Marley atraiu famílias e foliões com muito reggae misturado com ritmos brasileiros. Júlia Araújo, de 25 anos, não só participou, como fez uma fantasia especial: um arco escrito “mãeconheira”, conjugado com o barrigão de grávida. “Não andar, e a sombra, são perfeitos pra mim”, argumentou.
O I Wanna Love You faz seu cortejo há 11 anos e desde 2013 no Campo do Grota. O bloco se consagrou pela tranquilidade e música de qualidade. A regente do bloco, Bela Leite, conta que o público é formado por crianças, idosos e as várias pessoas cansadas pelos quatro dias de carnaval, mas que não querem parar de festejar. “A gente gosta tanto desta praça, fomos tão acolhidas pela comunidade, que estamos até hoje aqui. Depois de dois anos sem carnaval, é um presente colocar o bloco na rua e compartilhar um pouco nossa arte”, disse Bela.
Gabriela Dornelas, de 37, não perde nenhuma edição desde 2012. Desta vez, ela pulou o carnaval com Nico, de 1, no colo. Na sua opinião, uma das maiores vantagens do carnaval de BH é a variedade e diversidade, com muitas opções para quem está com crianças e família. Tanto que ela e filho já participaram de três blocos, e comemoraram o aniversário do pequeno em clima de carnaval.
Quem participou pela primeira vez também gostou. Diulia Paraizo, de 25, foi com amigos atrás de um último gás. Com o cansaço do último dia de folia, ela não deixou de ir fantasiada. “Fiz essa roupa pensando nas cortes do reggae rasta, com o peitinho de fora, a bandeira do Brasil cortada, com o vermelho, inspirada no artista Raul Mourão, e a camisa vermelha”, contou Diulia. (SP, MC)
Imperatriz leva o 9 º título no Rio
A escola de samba do Grupo Especial Imperatriz Leopoldinense, com um total de 269,8 pontos, é a campeã do carnaval de 2023 do Rio de Janeiro. O enredo vencedor, do carnavalesco Leandro Vieira, foi “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida” e abordou o cangaceiro Lampião e sua chegada ao céu. Em segundo lugar, ficou a agremiação Unidos do Viradouro, de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. A terceira colocada foi a Unidos de Vila Isabel. Já a escola Império Serrano foi rebaixada para a Série Ouro. O enredo da Imperatriz foi inspirado nos cordéis “A chegada de Lampião no inferno” e “O grande debate que teve Lampião com São Pedro”, de José Pacheco. A escola de Ramos obteve seu nono título após 22 anos de jejum.