“São anos de terapia, faço acompanhamento psicológico para saber lidar com ela e aí vem uma pessoa e faz ela regredir.” A frase é de Karina Lima, de 36 anos, mãe que denunciou agressões à sua filha, de 3 anos, diagnosticada com o transtorno do espectro autista, na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) do bairro Ipiranga, Região Leste de Belo Horizonte.
Karina, que é formada em Marketing e Administração, mas que atualmente não trabalha para cuidar da criança, se diz indignada, pois, além da revolta causada pelas lesões “bem fortes e aparentes” nas coxas, costas e joelhos da criança, ela afirma que o estresse causado pela situação tem desencadeado crises em sua filha e afetado todas as pessoas ao redor.
A menina foi diagnosticada com TEA quando tinha 1 ano e 7 meses e agora, cerca de dois anos e meio depois, vem passando pelo momento mais difícil desde então.
A menina foi diagnosticada com TEA quando tinha 1 ano e 7 meses e agora, cerca de dois anos e meio depois, vem passando pelo momento mais difícil desde então.
Segundo Karina, sua filha toma remédios controlados e há muito tempo não sofria crises, mas que, desde o acontecimento, ela tem tido muitas crises diárias e longas. A mãe enviou à reportagem do Estado de Minas um 'print' do status de seu padrasto, Pedro Coelho, postado no WhatsApp, na madrugada desta quarta-feira (1/3). “Tem 2 horas que minha neta não para de chorar. Um choro doído, do fundo da alma”, escreveu o homem.
Karina explicou que está tendo que carregar a filha, acalmá-la, sem transmitir nervosismo, para não piorar as crises. “Estou totalmente exausta, passando muito mal. Estou à base de medicamentos para poder aguentar. Estou com bastante dor no corpo, de cabeça”, contou.
“Minha rotina e tudo mais foram abalados. É um cansaço físico e mental. Eu vejo que minha filha está sofrendo, mas ela não consegue falar”, disse Lima.
Um outro ponto ressaltado por Karina Lima foram questionamentos recebidos por ela em relação a uma possível crise que sua filha tivesse tido na escola e que pudesse ter resultado nas lesões. “Isso não justifica. Minha filha é uma criança tranquila, raramente ela dava crise. E mesmo se tivesse dado, seria obrigação da escola ter me notificado, mas não, apenas entregaram minha filha machucada”, argumenta.
Falta de rede de apoio
Karina Lima reclama, ainda, que não tem uma rede de apoio para cuidar de sua filha. Mãe solo, a mulher recebe ajuda apenas de sua mãe e de seu padrasto para cuidar da menina. Apesar disso, a saúde da avó da criança também preocupa. “Minha mãe tem lúpus, uma doença autoimune que avança de acordo com o estado emocional, fibromialgia, e está bastante abalada também. Ela está tentando segurar a barra e ser forte. Minha revolta é grande, muito grande”, disse.
Karina contou, ainda, que sua avó, de 94 anos, mora com ela e também é uma pessoa que necessita de cuidados.
“É revoltante ver minha filha sofrendo. Todo mundo aqui trata minha filha com todo amor e carinho, com tudo que a gente é instruído a tratar uma criança com espectro autista, para vir uma pessoa e estragar tudo isso, e a gente ter que, simplesmente, recomeçar”, desabafou.
De acordo com Karina, sua filha tem tido muitos pesadelos, grita muito chamando a mãe e pedindo para “parar” e não consegue se comunicar, apenas quer ficar grudada com ela o tempo todo.
Romantização da maternidade atípica
“Mãe Atípica” é o termo utilizado para se referir a mães que têm filhos com alguma deficiência ou síndrome rara. Atualmente, Karina não trabalha para cuidar da menina, que depende dela para levar para terapias, escola. “Ela não aceita mais ninguém e meu estado de saúde, principalmente, se reflete muito nela”, conta.
“A maternidade atípica precisa parar de ser romantizada”, diz ela. “Escuto muito que sou guerreira, que se Deus me deu uma criança especial é porque eu tenho capacidade e sou escolhida, mas, na verdade, muitas vezes não quero ser enxergada como uma mulher guerreira, quero ser uma mãe como todas. Que tenha uma vida normal como as outras. Quero que minha filha seja enxergada como uma criança normal e não especial”, desabafa Karina.
Entenda o caso
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Karina disse que, ao perceber as lesões, ela e o pai da menina levaram a criança à Delegacia de Plantão de Atendimento à Mulher, no Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, onde fizeram um Boletim de Ocorrência (BO).
Após o registro do BO, a criança foi encaminhada ao Instituto Médico-Legal (IML), onde exames feitos por um médico legista constataram que ela havia sofrido agressões físicas causadas por um adulto, provavelmente por unhas.
A mãe disse, ainda, que vinha notando comportamentos estranhos da menina em casa e que isso levantou suspeitas de que algo poderia estar acontecendo.
Segundo ela, a criança diagnosticada com o transtorno do espectro autista, não verbal, que é quando a criança não tem o diálogo, fala apenas algumas palavras isoladas e se comunica por gestos. "Minha filha não é verbal, se eu não tivesse observado isso, ela estaria sofrendo até hoje. Ela já estava apresentando comportamentos estranhos, desde o segundo dia de aulas”, desabafou.
O que diz a Secretaria Municipal de Educação
Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a Secretaria Municipal de Educação emitiu nota dizendo que já está ciente das denúncias . “A Secretaria Municipal de Educação informa que está ciente do caso. A diretoria regional está acompanhando a situação e realizando as apurações internas para a adoção de medidas cabíveis.”