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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Por um Rio das Velhas melhor: projeto visa recuperar águas na Serra do Cipó

Programa inaugura conjunto de ações que visam a recuperação e aumento da produção de água na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas


06/03/2023 21:52 - atualizado 06/03/2023 21:52

Pessoas caminham por uma trilha cercada mato
Programa de Conservação e Produção de Água na Serra do Cipó foi lançado na sexta-feira passada (3/3) (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
A Serra do Cipó, distrito de Santana do Riacho, Região Central de Minas Gerais, possui algumas das mais lindas paisagens de Minas Gerais e, consequentemente, um destino turístico muito procurado no estado. Apesar disso, há cerca de 30 anos, o local sofre com a ação humana.

 

O Ribeirão Soberbo, um dos mais importantes da região, vem se degradando com o passar do tempo. Com águas classificadas como de “excelente qualidade” em parte de sua extensão, o riacho já tem áreas degradadas e, por isso, foi lançado, na sexta-feira passada (3/3), pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), o Programa de Conservação e Produção de Água na Serra do Cipó. O projeto visa a recuperação do Soberbo, além de buscar soluções de saneamento para a localidade.

 

Foram selecionadas, através de um edital, quatro microbacias que vão ser trabalhadas num horizonte de quatro anos, sendo elas a do Ribeirão Soberbo, no Médio-Baixo Rio das Velhas, do Ribeirão Maracujá, no Alto Velhas, do Ribeirão Ribeiro Bonito, no Médio-Alto, e do Córrego das Pedras, no Baixo.

 

 

Projeto afetará positivamente a população da Serra do Cipó


 

Poliana Valgas, presidente do CBH Rio das Velhas, explicou os principais objetivos do projeto e como isso afetará positivamente a população local.

“Quando a gente pensa em água, a gente pensa diretamente em qualidade de vida, em segurança hídrica, em saúde pública. Então se conseguirmos reduzir a contaminação, se conseguirmos investir em saneamento, teremos água de maior qualidade. Os benefícios para a população são, diretamente, em saúde pública, um ambiente mais sustentável, de maior qualidade de vida para as pessoas se estabelecerem”, disse.

 

Ela também ressaltou que, ao longo dos anos, a bacia do Rio das Velhas vem perdendo essa capacidade de resiliência ao longo da bacia, de produção de água. “Além disso, o maior objetivo é aumentar a quantidade de água e ter maior disponibilidade para a população que vive nos territórios e também para as empresas, indústrias e prefeituras que dependem de água em qualidade e quantidade”, disse Poliana.

 

“A gente espera, no final desse programa, que a gente tenha um território mais resiliente, com maior sustentabilidade e mais saneado. Pretendemos, também, executar ações de saneamento ao longo do Ribeirão Soberbo”, concluiu Valgas.

 

Águas límpidas

Após o fim da cerimônia de lançamento, a reportagem do Estado de Minas foi guiada por membros do CBH Rio das Velhas para uma visita à região conhecida como Mãe D’água, próxima à cachoeira Véu da Noiva, bastante popular entre os turistas que visitam a Serra do Cipó.

 

Para chegar até lá, é preciso enfrentar uma subida considerável, que se torna um pouco mais fácil pela construção de um caminho de pedras, feito por mãos humanas. Em seguida, há trilhas que levam a diversos pontos. Mirantes são encontrados no caminho e permitem vistas panorâmicas para a Serra do Cipó, além de belas fotos.

 

O local é um dos últimos onde a água não recebe sedimentos oriundos da ação humana. Rodeado por uma paisagem de tirar o fôlego, a Mãe D’água é rica em fauna e flora e suas águas são cristalinas, sendo possível ver o fundo, além dos pequenos peixes que não possuem temor em se aproximar das pernas humanas que entram em seu habitat.

 

Diversos poços se formam, antes da cachoeira Véu da Noiva, tornando-o assim, bastante atrativo para banhos. Quedas menores de água também podem ser vistas no local. O caminho entre as quedas é traiçoeiro e precisa ser feito com cuidado. Se assim acontecer, a chegada é tranquila e rápida para quem sai do distrito da Serra do Cipó.

 

Classe Especial

Logo após a Mãe D’água, surge imponente a cachoeira Véu da Noiva, localizada em propriedade privada pertencente à Associação Cristã de Moços em Minas Gerais (ACM). Com uma queda de 70 metros e facilidade de acesso e camping, o local é muito procurado por turistas e o último onde as águas continuam limpas.

 

O Rio Cipó é um curso d'água de Classe Especial, enquadramento legal que atesta a excelente qualidade das águas e, por isso, impõe padrões mais restritivos de uso, ou seja, não pode receber efluentes, que são águas resultantes do processo de tratamento. Não é possível que tenha Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) no local.

 

Por isso, um dos principais desafios do projeto é buscar soluções para o saneamento do distrito. Visitas, entrevistas e análises técnicas serão empregadas para entender a situação das estruturas e possibilitar proposição de soluções adequadas.

 

Degradação

Logo que o curso d’água se afasta da Véu de Noiva, ele passa a receber sedimentos das residências do distrito, que cresce e sofre com a ação humana há cerca de 30 anos. As 1.001 residências do distrito da Serra do Cipó utilizam fossas sépticas, unidades de tratamento primário de esgoto doméstico nas quais são feitas a separação e a transformação físico-química da matéria sólida contida no esgoto. Apesar de comuns em áreas afastadas, as fossas geram vazamentos que contaminam a água e a tornam imprópria para banho.

 

Tornar o Ribeirão Soberbo, novamente, próprio para banhos é, inclusive, um dos principais objetivos do projeto. Antes da poluição, a população o utilizava para diversos fins, como recreação, para lavar roupas e louças, uso doméstico e para banhos, o que se tornou impossível com o passar do tempo.

 

Projeto de recuperação

Romina Belloni da Silva, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), destacou a importância ambiental e turística da região da Serra do Cipó e a necessidade de preservá-la. “O turismo não vive sem o meio ambiente e o meio ambiente não vive sem o turismo. Esse programa é de recuperação de um córrego que é afluente do Rio Cipó, que nasce dentro do Parque Nacional da Serra do Cipó, e é um rio de Classe Especial, de água de qualidade maravilhosa para a bacia do Rio das Velhas”.

 

Segundo Romina, há um otimismo em recuperar o córrego, que nasce na área de proteção ambiental Morro da Pedreira, e que, após passar pela cachoeira Véu da Noiva, deságua no Rio das Velhas já numa qualidade ruim e em pouca quantidade.

 

Ela explicou os motivos da escolha do Ribeirão Soberbo para ser revitalizado. “Esse rio foi escolhido porque é emblemático e importante para a população da Serra do Cipó, que começou a se desenvolver à beira desse rio. A cidade foi crescendo e as captações de água e saneamento não muito adequado fizeram esse rio perder a qualidade”.

 

Entre as principais ações previstas do programa na região, estão:

Realização de diagnóstico das condições hidrológicas e ambientais

Levantamento das necessidades de investimentos em ações de recuperação e conservação de água, solo e áreas de preservação permanente

Cadastro de moradores e usuários de água

Levantamento da situação específica e individual de saneamento básico de cada propriedade 

Elaboração de Projeto Executivo para Recuperação Ambiental da Microbacia do Ribeirão Soberbo

Ações de sensibilização junto à comunidade, proprietários rurais e agentes públicos envolvidos

 

Atuação do poder público

O prefeito de Santana do Riacho, Fernando Burgarelli (União Brasil), destacou o papel do programa de conservação que foi implantado. “O que possibilitou esse projeto ir para frente foi a importância do rio Cipó e da Serra do Cipó no âmbito do Rio das Velhas. Nós vamos atuar dentro de uma comunidade que cresceu muito e que está poluindo nosso córrego Soberbo que deságua no Rio Cipó”.

 

De acordo com Burgarelli, o projeto precisa do apoio da população, visto que a análise dos impactos da atuação humana para as águas do Ribeirão Soberbo será feita individualmente, por residência. As soluções a serem propostas também serão individuais.

 

“A comunidade é de suma importância. Sem sua participação, o projeto não vai para frente. O projeto precisa saber quais são os problemas, o que realmente é jogado no Córrego Soberbo, como as pessoas convivem no ‘fundo’ dele. As pessoas têm que trazer para a gente, abraçar o projeto, para que ele possa ter êxito, um resultado significativo e que vai retornar à própria população que vive no córrego do Soberbo, hoje”.

 

A participação popular, inclusive, se mostrou presente durante a cerimônia de lançamento do projeto. Moradores da Serra do Cipó estiveram no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), do distrito, e levantaram questões junto ao poder público municipal e ao corpo técnico que atua na região.

 

Entre os pontos citados pelos presentes, estiveram pedidos de fiscalização quanto a captação irregular de água do Ribeirão Soberbo, solicitação de realização de testes que identifiquem quais fossas estão com vazamentos, e também que os técnicos e fiscais atuem de forma empática junto aos moradores. Os responsáveis pelas ações que estiveram presentes no lançamento garantiram que tais medidas serão tomadas, respeitando os processos do projeto.


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