Jornal Estado de Minas

QUASE QUATRO DÉCADAS

Homem escravizado por 38 anos é resgatado em fazenda de café em Minas

No início deste ano, um trabalhador de 74 anos foi resgatado na fazenda de café Boa Vista, em Bueno Brandão, Minas Gerais, onde permaneceu em condições de trabalho análogas à escravidão por 38 anos, segundo informado ao Estado de Minas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nesta segunda-feira (6/3). 




 
Segundo o MTE, o trabalhador era mantido em uma casa rústica com iluminação precária e sem higiene. Também não havia portas. Ele dormia sobre espuma velha de colchão, consumia água diretamente da torneira e trabalhava para receber as refeições diárias, não tendo nenhum tipo de remuneração financeira. 
 
Logo, ele não possuía qualquer valor que possibilitasse seu deslocamento e havia sido levado ao médico pelo proprietário da fazenda apenas duas vezes ao longo de quase quatro décadas. 
 
Entre suas atribuições, o idoso tinha que capinar os pastos, cultivar o café e tratar dos brejos junto a porcos. A exploração, inclusive, já foi comandada pelos pais do atual proprietário. As irregularidades foram constatadas entre os dias 24 e 30 de janeiro, durante operação deflagrada por auditores fiscais do trabalho do MTE. 


Também foi verificado que o trabalhador não possuía documentos de identificação e registro de vínculo empregatício em carteira de trabalho. Com isso, nunca houve recolhimento de contribuições junto à Previdência Social para aposentadoria. 




 
Um defensor público federal que acompanhou as diligências tomou providências para que o trabalhador obtivesse certidão de nascimento, carteira de identidade e CPF.
Na ocasião, ao ser retirado do local com o auxílio de um médico e enfermeiros, o idoso pediu apenas para lhe darem condições de tomar um banho. Ele recebeu na segunda-feira (27/2) as verbas rescisórias do antigo patrão. 
  
Antes da atuação no MTE no caso, o trabalhador recebeu, há alguns meses, uma tentativa de visita de profissionais da Secretaria Municipal de Assistência Social de Bueno Brandão, mas o fazendeiro não permitiu a entrada dos profissionais na propriedade. 
 
No dia seguinte à inspeção dos auditores fiscais do trabalho, os profissionais de assistência social conseguiram entrar. Nesta última ocasião, o trabalhador foi examinado, medicado e retirado da fazenda para ser encaminhado ao hospital, pois o aparente quadro de confusão mental constatado poderia ser resultado de altíssimos níveis glicêmicos e da pressão.
 
Às autoridades, o fazendeiro alegou, ainda segundo o MTE, que o trabalhador havia chegado à fazenda vagando pelos campos e foi aproveitado para tratar inicialmente dos brejos junto aos porcos do terreno. Segundo ele, o empregado, com o tempo, tornou-se parte da família.