Jornal Estado de Minas

RESTAURAÇÃO

Ainda escondidas, esculturas de escritores são reinstaladas em BH

Nesta quinta-feira (9/3), pela manhã, a estátua da poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1981) foi reinstalada na Praça da Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A escultura passou por restauração e chamou a atenção por ser coberta com um pano preto, e depois com papelão, devido ao fato de a Prefeitura da capital (PBH) ter marcado uma cerimônia de reinauguração para o sábado (11), às 10h.




 
Além da estátua de Henriqueta Lisboa, a PBH, juntamente com a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Municipal de Cultura, devolve à cidade as esculturas totalmente recuperadas de Roberto Drummond - também na Praça da Savassi -, de Carlos Drummond de Andrade - na Praça Professor Alberto Deodato - e de Murilo Rubião - nos jardins da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, na Praça da Liberdade. Todo processo de recuperação foi acompanhado pelo escultor responsável pelas obras, que têm tamanho real, Leo Santana. A cerimônia contará com a presença de autoridades e de convivados, retomando o Circuito Literário da capital.
 
Placa instalada junto à estátua contém QR Code que dá acesso a conteúdo interativo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A press)
 
 
Para a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, os cinco escritores representam "a história e parte da memória literária de Belo Horizonte e do país". Portanto, ela afirma que, para a PBH, a reinstalação das esculturas que fazem parte da paisagem urbana belorizontina é um meio de refazer a ligação entre o convívio cotidiano e lúdico com a cidade, "destacando a memória e a vocação literária da capital".
 
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Para que os cidadãos possam conhecer mais sobre cada uma dessas personalidades, as esculturas foram instaladas com placas que contêm QR Codes para direcioná-los a um conteúdo publicado em plataforma digital em português e inglês. Dessa maneira, os visitantes podem interagir com o patrimônio histórico, fortalecer o sentimento de pertencimento e de identidade, além de explorar novos espaços a partir do roteiro apresentado nas telas de seus celulares.




 
Escultura de Roberto Drummond (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A press)
 

Histórico

 

Nascida em Lambari, no Sul de Minas, Henriqueta Lisboa foi a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras devido à sua vasta obra poética para adultos e crianças, que lhe rendeu inúmeros prêmios e homenagens em vida. A escultura feita por Santana fica em frente ao Edifício Presidente, prédio no qual ela morou até a sua morte, situado na Rua Pernambuco, nº 1338, esquina com a Rua Fernandes Tourinho.
 
Em junho do ano passado, atos de vandalismo deixaram a escultura da autora de "Velário" (1936) sem os braços e com os olhos pintados de vermelho. Então, no dia 10 de setembro, os membros da Academia Mineira de Letras, da Rua da Literatura, além de escritores, jornalistas, moradores e estudantes se reuniram em um ato de oposição à depredação no local. No momento, foi destacada pelos participantes a enorme contribuição que a poetisa tem para literatura nacional e como o atentado configura um desrespeito à vida e à memória dela.
 
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No dia 7 de novembro, a estátua de Roberto Drummond e a de Lisboa foram removidas para restauração. O processo de restauração do monumento da poetisa previa a modelagem das duas mãos e do livro, fundição, solda, revitalização, remoção da oxidação desgastada e nova pátina. Já devolvida à Praça da Savassi, ela se encontra cercada com tela de obra, coberta com um pano preto e com papelão.




 
Pedro Araújo, estudante de design, é morador do mesmo prédio no qual Henriqueta viveu. Ele conta não ter percebido nenhum barulho no dia da depredação e está feliz pela devolução da obra de arte, por compreender a grandiosidade da contribuição da poetisa para a formação da identidade mineira e belorizontina.
 
Além disso, Araújo também destaca que "é necessário que haja uma educação patrimonial sólida desde a infância e também de combate ao vandalismo". Mais do que isso, ele acrescenta que "é preciso fazer dos bairros de BH ambientes seguros, porque sabemos a desigualdade social é um potencializador para este tipo de atitude criminosa. E as pessoas às vezes se comportam dessa maneira porque têm vícios, não têm onde morar e nem o que comer".