A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga o caso de pacientes de uma clínica odontológica, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que fechou as portas repentinamente, na manhã dessa quarta-feira (8/3). Os clientes foram surpreendidos pelo encerramento das atividades da empresa e temem não reaver o dinheiro investido, valores já pagos nos tratamentos. Até o momento, ninguém foi conduzido à delegacia.
Leia Mais
BH amplia vacinação infantil contra a COVID-19; saiba maisTrecho da MG-040 fica interditado para obras nesta sexta-feira (10/3)Ainda escondidas, esculturas de escritores são reinstaladas em BHTeve paciente que deu entrada, financiou o tratamento e, quando foi buscar o atendimento nessa quarta-feira (8/3), se deparou com a clínica fechada. É o caso da cozinheira Ione Valéria Monteiro, de 67 anos, que pagou quase R$ 4 mil à vista e parcelou R$ 7 mil em 12 prestações. "Quando eu consegui juntar um dinheiro para dar entrada, aconteceu isso. Era o sonho da minha vida arrumar meus dentes", lamenta a cozinheira, preocupada se conseguirá reaver o dinheiro investido. Ela ainda não registrou o boletim de ocorrência, mas diz que vai buscar seus direitos.
A vendedora Irany Ramos iniciou o tratamento na clínica há três anos e relata uma série de problemas com o atendimento. "Desde o início, eram consultas desmarcadas, e ficavam enrolando para marcar. Sempre meu horário que não era compatível com o do dentista. Custavam para atender o telefone ou responder pelo WhatsApp", contou à reportagem do Estado de Minas. Indignada, ela questiona se irá receber o valor investido de volta. "É um abuso com o consumidor. E agora como fica?", disse.
Alguns pacientes também denunciam procedimentos abusivos. "Arrancaram sete dentes meus de uma só vez", afirmou uma paciente, que preferiu não ser identificada. Segundo ela, os profissionais não haviam dito a quantidade de dentes que seriam extraídos nem tinham a permissão dela para fazer o procedimento. "Eu não sabia que seria isso tudo. Fiquei indignada, porque não falaram nada comigo", revelou à reportagem.
Funcionários também foram pegos de surpresa
Os próprios funcionários também não sabiam do encerramento das atividades da clínica e denunciam atrasos nos pagamentos. Uma funcionária, que pediu para não ser identificada, afirmou que recebeu do Recursos Humanos (RH) da empresa uma mensagem com o comunicado oficial de fechamento à meia-noite de terça para quarta-feira (8/3). O texto ainda a orientava a entrar em contato "quando a poeira baixar".
"Minha reação é de desespero, porque não nos pagaram o salário do mês. Nosso 13º não foi pago. Não nos pagam nosso FGTS. Fui procurar ontem, e nosso INSS não foi pago. A gente está a ver navios. Minha preocupação foi mandar mensagem para minhas funcionárias. Uma pagou faculdade, tem filhos, paga aluguel, tem boletos, cartão para pagar", desabafou.
De acordo com outra funcionária, que também não quis se identificar, a clínica empregava mais de 100 profissionais, fora os que foram mandado embora, e tinha mais de 40 mil clientes. "Eles vieram aqui de madrugada, riscaram os telefones, os CRO (registro do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais) deles, tamparam o nome da clínica e pegaram tudo. Até nossas digitais de acesso bloquearam, no sistema. Fizeram uma limpa", relatou.
O que diz a clínica
A reportagem do Estado de Minas tentou contato com a clínica Arcata, mas os telefonemas não foram atendidos. A clínica apagou todas as publicações de sua conta no Instagram, deixando apenas um comunicado, onde afirma que a pandemia de COVID-19 e "as imposições de restrições dos órgãos públicos à atividade da Arcata" causaram "descapitalização de todo o patrimônio" da empresa.
No comunicado, a Arcata afirma que "os pacientes que possuem contratos ativos poderão entrar em contato com o e-mail administrativo@arcata.com.br para tratar da negociação para suspensão dos pagamentos, suspensão de parcelamentos em cartão de crédito e cheque". Apesar disso, clientes afirmaram à reportagem que não conseguem contato com a empresa e que nada foi dito sobre a continuidade de tratamentos já iniciados.
A reportagem segue aberta para receber posicionamento da clínica.