Um acidente aéreo no Bairro Jardim Montanhês, Região Noroeste de Belo Horizonte, na tarde deste sábado (11/3), entra para uma triste e crescente lista de desastres no entorno do Aeroporto Carlos Prates. Um avião monomotor caiu sobre duas casas, assustou moradores e o piloto da aeronave morreu.
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Avião cai em BH: familiar diz que piloto decolou de AbaetéAvião cai com bebê de três diasVítima de atropelamento é resgatada em estado grave em SabaráAvião que caiu sobre casas em BH deve ser retirado nesta segunda (13)É a quinta morte relacionada a voos no terminal nos últimos quatro anos. Após dois acidentes com vítimas em 2019, o fechamento do aeroporto entrou no radar das autoridades.
Em 2020, o então ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, chegou a anunciar que o aeroporto seria fechado no ano seguinte, mas uma série de adiamentos postergou a medida e o terminal segue em funcionamento até hoje. A expectativa era de que as atividades fossem encerradas em dezembro do ano passado, mas uma portaria estendeu o prazo até maio de 2023, tempo suficiente para mais um acidente.
Enquanto isso, quem vive nos arredores do terminal vivem uma rotina de insegurança. Moradores do entorno da Rua Morro da Graça, no Jardim Montanhês, relataram o susto vivido neste sábado. Residente de um dos imóveis da rua, que não foi atingida pelo acidente, Gustavo Alvarenga se assustou com o estrondo causado pelo impacto entre a aeronave e as estruturas das casas.
“Liguei imediatamente para os Bombeiros quando vi o acidente. Fez um barulho muito forte, muito alto. Liguei correndo para os Bombeiros e mandei a foto da aeronave", disse, ao Estado de Minas.
O acidente deixou o piloto do voo, de 60 anos, e a filha dele, de 33, com politraumatismos. Os dois foram levados ao Hospital João XXIII, na Região Leste da cidade. Peritos da Polícia Civil atuam na área e um major da Aeronáutica, responsável pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), é esperado no local.
O Jardim Montanhês fica nas proximidades do Aeroporto Carlos Prates, onde funciona uma escola de pilotagem.
Vanda Damasceno, outra moradora do entorno do local do acidente, também estava em casa quando acabou surpreendida pelos sons causados pela queda. "Foi muito assustador. Já caíram vários aviões aqui".
O empresário José Pereira de Alvarenga, pai de Gustavo, o rapaz responsável por acionar os Bombeiros, estava dirigindo para a casa onde mora com o filho no momento do acidente.
"Estava vindo pela (Avenida) Pedro II, vi o avião perdendo altitude. Acelerei, cheguei um pouco preocupado, porque meu filho estava sozinho em casa. Quando cheguei, já estavam bastantes viaturas", contou.
Medo acompanha moradores
A proximidade com o Aeroporto Carlos Prates faz com que os moradores do Jardim Montanhês e de bairros adjacentes vivam em estado permanente de atenção. Ana Cláudia Guimarães, que tem residência nas redondezas da Rua Morro da Graça, teme o vaivém aéreo na região.
"Isso (os acidentes) acontece direto. Não é a primeira vez. Vivemos esse pesadelo. Temos crianças pequenas. Todo mundo vive aqui há muitos anos. Temos esse medo constantemente", protestou.
A Defesa Civil foi acionada para avaliar se há risco para as estruturas dos imóveis atingidos. A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) também enviou profissionais ao local. Peritos da Polícia Civil já atuam nos desdobramentos do caso. Trabalhadores da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foram comunicados.
É o segundo acidente aéreo ocorrido na Grande BH neste sábado. Mais cedo, outro monomotor caiu em Sabará, tendo um bebê nascido há três dias entre os passageiros. Não houve feridos.
Susto durante o descanso
Luiz André é morador de uma das casas atingidas pela aeronave. À reportagem, ele contou que estava dentro do quarto quando sentiu o impacto da colisão e que o acidente foi o ápice de uma rotina de sustos.
“Parecia um terremoto, minha irmã estava colocando roupas no varal quando viu o avião se aproximando e o motor falhando. Foi um susto, eu mudei até de cor. Moro no bairro há 45 anos e desde que era criança escuto que o aeroporto vai sair daqui. Quantos vão morrer pra isso acontecer?”, questionou.
Ele afirma que foi orientado a não passar a noite em casa pela Defesa Civil. A casa apresenta rachaduras originadas pelo impacto do acidente. Luiz André diz ter sido informado que membros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) farão uma vistoria no imóvel neste domingo (12/3). Até lá, ele, a irmã, um irmão e um sobrinho ficarão abrigados na casa de uma prima.
Histórico de acidentes
O acidente deste sábado se soma a um histórico de desastres que representa um medo constante para moradores. O Aeroporto Carlos Prates começou a funcionar em janeiro de 1944, há quase 80 anos, e, desde então, o terminal que teve boa parte de sua trajetória ligada à voos de instrução e formação de pilotos, é uma preocupação para os residentes da região, que foi se tornando mais populosa com o crescimento da capital mineira.
Quem mora há mais de 20 anos nos bairros próximos ao aeroporto mal pode contar nos dedos das mãos as ocorrências com aviões e convive com o medo de acidentes a cada aeronave que sobrevoa a região, deixando ou chegando ao terminal.
Em 2008, três pessoas ficaram feridas após um avião cair no telhado de um depósito no mesmo Bairro Jardim Montanhês. O acidente aconteceu instantes depois da aeronave decolar no Aeroporto Carlos Prates.
Quatro anos depois, em agosto de 2012, um helicóptero caiu na cabeceira do aeroporto, ferindo o piloto e um aluno. O acidente aconteceu próximo ao Anel Rodoviário.
Em 2014, quatro acidentes aconteceram no final do ano. Em outubro, três pessoas ficaram feridas após pouso de emergência entre Juatuba e Igarapé de avião que partiu do Aeroporto Carlos Prates. Um mês depois, a queda de um avião de pequeno porte sobre uma casa nas imediações do terminal deixou dois feridos.
Em dezembro de 2014, outro avião de pequeno porte caiu próximo ao aeroporto, desta vez, no Anel Rodoviário. O piloto conseguiu sair da aeronave sem ferimentos graves e foi atendido por uma ambulância do Samu.
Em 2019 dois acidentes aéreos aconteceram em um intervalo de seis meses, ambos na Rua Minerva, Bairro Caiçara. Em abril, uma aeronave colidiu com um poste segundos após decolar no Aeroporto Carlos Prates, pegou fogo e o piloto morreu imediatamente. Em outubro, a queda de outra aeronave vinda do terminal resultou na morte do piloto e de duas pessoas que estavam em terra.