Acordar mais cedo, chegar em casa mais tarde, enfrentar ônibus lotados e pagar mais pelo deslocamento. Esses são alguns dos transtornos enfrentados pelos usuários do metrô de Belo Horizonte durante a paralisação do modal, que está de portas fechadas desde 15 de fevereiro.
Uma assembleia dos metroviários está marcada para as 17h desta terça-feira (14/3) e pode definir o fim da greve. Mas a indefinição faz com que os usuários do transporte tenham que buscar alternativas para a falta do metrô. "Como todo brasileiro, vamos nos acostumando e aprendendo a nos virar”, diz uma delas, entrevistada pela reportagem do Estado de Minas, na Estação Vilarinho.
Mais tempo para chegar ao serviço
A empregada doméstica Lúcia da Conceição, de 55 anos, leva quase três horas para chegar ao serviço. Com o metrô, o tempo de deslocamento é de cerca de uma hora e meia. Moradora do Bairro Industrial, em Contagem, ela está usando o Move para chegar ao trabalho, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.
“Está sendo muito difícil, tenho que acordar bem mais cedo e estou gastando quase três horas para chegar ao serviço.” Além do tempo, ela precisa pegar mais conduções e tem aumento de gastos com passagens. Atualmente, pega três ônibus e sem a greve usa o metrô e um ônibus.
Outra que precisa sair mais cedo de casa e volta mais tarde do trabalho, por causa da paralisação do metrô, é a técnica em nutrição Karine Gabriele, de 39. Ela trabalha no Bairro Eldorado, em Contagem e mora no Bairro Serra Verde, em Venda Nova.
“Pego um ônibus, faço a integração e vou para o Eldorado. Com a greve continuo pegando quatro conduções, só que o meu trajeto aumentou em duas horas e meia”, reclama. “Saía de casa por volta das 16h para chegar no Eldorado às 18h. Agora, preciso sair às 14h30. Saio do serviço às 6h e estou chegando aqui (Estação Vilarinho) quase às 9h. Normalmente, às 7h30 eu estaria em casa. ”
Além do tempo, ela também gasta mais dinheiro com o transporte. “O metrô custa R$ 4,50 e o ônibus que eu estou pegando para o Eldorado é R$ 7,20.”
Outro problema relatado pela técnica em nutrição é a lotação dos ônibus. “No metrô, eu venho sentada. Agora não, o ônibus vem lotado. Hoje, eu vim sentada no degrau e peguei um trânsito terrível”, desabafa.
O técnico em manutenção de celulares, Edmilson Rocha, de 41, também reclama dos ônibus lotados que pega. “Tenho a opção do ônibus, mas a greve causa um transtorno. Está péssimo porque os ônibus estão ficando lotados.”
Ele usa o metrô para trabalhar no centro de BH. Precisa sair de casa cerca de 40 minutos mais cedo e chega mais de uma hora depois, em casa, do que chegava sem a paralisação.
Indefinição e paralisação justa
Os usuários reclamam ainda da falta de definição sobre o fim da greve dos metroviários. Mas, Karine Gabriele considera que a paralisação é por uma causa justa. Ela tem dois parentes que trabalham na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
“É ruim para mim, mas para eles está sendo muito pior. É uma causa justa. Um deles tem 23 anos de empresa, é concursado e corre o risco de ficar sem emprego. Por isso, acho mais do que justo. Como são 1.600 funcionários parece pouco, mas são pais e mães de família impactados.”
Ela acredita que o serviço pode melhorar com a privatização do metrô, mas não será uma melhora imediata. “Vai demorar e o preço da passagem vai aumentar”, conclui.
Outra que reclama da falta de previsão para o retorno do serviço é a estudante Laura Ribeiro, de 25. “Estamos sem saber o que vai acontecer, não temos previsão nenhuma da volta do metrô. E isso é bem ruim.”
Ela mora no Bairro Palmares, na Região Nordeste, e faz estágio na administração do Shopping Estação. “Está sendo difícil. O ônibus tem uns horários, mas o metrô passa em mais horários no período da manhã. Então, é mais fácil vir para o trabalho. Além disso, ele é mais rápido. Mesmo o Move pega um trânsito, tem sinal fechado. Acordo cerca de 40 minutos mais cedo e pego mais trânsito na volta para casa.”
Apesar dos transtornos, não gasta mais com transporte porque precisa pegar um ônibus só. “Mas várias pessoas que trabalham comigo estão tendo que se virar para chegar aqui.”
Monitoramento do trânsito
Sobre o impacto da paralisação do metrô no trânsito da capital, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que “há uma oferta maior do número de viagens do transporte coletivo para absorver a demanda.”
Além disso, diz que a BHTrans monitora o trânsito no Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH) e com os agentes nas ruas. “Essas ações permitem aprimorar as tomadas de decisão, como aumentar o quantitativo de viagens e interferir nas mudanças semafóricas, por exemplo.”
Impasse
Para pôr fim à paralisação, o Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro) espera que o BNDES envie um documento garantindo o adiamento da assinatura do contrato de repasse da CBTU à iniciativa privada.
O objetivo da categoria é ganhar tempo para conseguir uma resposta diante da insegurança em relação aos 1.600 postos de trabalho. Nesse sentido, o sindicato articula a possibilidade de transferência dos metroviários para outras unidades da CBTU no Brasil ou empresa pública federal dentro da Grande BH.
Mesmo com as constantes reivindicações dos metroviários, o leilão do metrô da capital aconteceu em 22 de dezembro do ano passado, sendo arrematado por R$ 25.755.111 pela empresa paulista Comporte Participações S/A.
Em assembleia feita na sexta-feira (10/3), os metroviários definiram que, caso o documento fosse entregue até essa segunda-feira (13/3), o serviço poderia ser retomado à meia-noite de hoje. Porém, segundo o Sindimetro, até esta tarde o documento não havia sido entregue aos representantes sindicais. Uma nova assembleia está marcada para às 17h e define se a paralisação continua.