Belo Horizonte tem, hoje, um dia especial para celebrar a fé, conhecer mais sobre sua história e valorizar gerações que contribuem, ao longo de um século, para a educação, a cultura e a formação religiosa – de mãos com a solidariedade. Durante missa presidida pelo arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo, na Catedral Cristo Rei, em construção no Bairro Juliana, na Região Norte da capital, a comunidade católica comemora os 100 anos do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (Sacej). Na cerimônia marcada para as19h30, haverá ordenação diaconal dos seminaristas Dhiego Lacerda, Jeferson Martins e Sérgio Francisco.
Para dom Walmor, o Sacej tem a missão de avançar sempre mais na promoção do trabalho pedagógico, formativo, espiritual e humano, de qualidade, preparando sacerdotes capazes de responder ao chamado da Igreja no terceiro milênio, para o adequado cumprimento de sua missão evangelizadora. “Importante lembrar dos formadores – sacerdotes e cristãos leigos e leigas – especializados em diferentes campos do saber e dedicados à qualificação social, espiritual e humana dos seminaristas, e promovendo atividades missionárias capazes de cultivar, nos jovens vocacionados ao sacerdócio, a sensibilidade para as muitas realidades humanas, diferentes culturas, especialmente dos mais pobres, à luz do Evangelho de Jesus Cristo.”
Celebrar um século do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, acrescentou o arcebispo, significa, ao mesmo tempo, “olhar com reverência para uma história centenária e renovar o compromisso de avançar, permanentemente, na exigente tarefa de formar presbíteros ao serviço do Povo de Deus”. Durante a missa de ação de graças, haverá apresentação do Coral Emaús (Core), da Arquidiocese de BH.
Formação
Localizado no Convivium Emaús, no Bairro Dom Cabral, na Região Noroeste de BH, onde há também uma casa dedicada aos padres mais idosos, centro de formação para fiéis e a Capela Coração Eucarístico de Jesus, o Sacej tem atualmente 60 seminaristas, a maioria mineiros na faixa dos 20 anos. Segundo o reitor, padre Evandro Campos Maria, há dois jovens do Maranhão, um de Pernambuco e cinco da África, sendo dois de Moçambique e três de São Tomé e Príncipe.
“O número de seminaristas, que consideramos expressivo, vem se mantendo estável nos últimos anos. As ordenações são de sete a oito padres por ano”, afirma o reitor, ex-aluno do seminário por oito anos, lembrando que já passaram pelo Sacej centenas de jovens, alguns deles chegando a bispos, a exemplo de dom Nivaldo Ferreira e dom Joel Maria, bispos auxiliares da Arquidiocese BH, e dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém (PA). Ele destaca ainda a figura do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1890-1982), o Cardeal Motta, que foi reitor do seminário de BH e presidiu a primeira missa em Brasília (DF), quando era arcebispo de São Paulo.
Na manhã de ontem, pouco antes da missa das 11h, na capela do seminário, o padre Evandro ressaltou que para ser sacerdote, o jovem precisa, antes de tudo, ter vocação para atender ao chamado de Deus. “Estamos no ano vocacional para fomentar as vocações, e nosso lema é ‘Corações ardentes, pés a caminho’, o que reúne o desejo de seguir a vida religiosa e a dinâmica para isso ocorrer. O jovem se fortalece para ações de solidariedade e doação à vida”, afirma o reitor, certo de que, em tempos digitais, a tecnologia vira instrumento importante para o trabalho de evangelização.”
Para a formação do padre, do primeiro dia no seminário à ordenação, são necessários oito anos, começando com um ano de propedêutica, quando há preparação para a vida comunitária, já que o jovem está longe da família; seguindo-se três anos de estudos filosóficos, para a formação humana, intelectual e espiritual, na etapa Discipular; e mais quatro anos, na fase Configurativa, de teologia, de estudos da Palavra de Deus.
“Alguns descobrem, no caminho, que não era esse seu objetivo. Por isso, fazemos o acompanhamento de cada um. Se não chegou à ordenação, pelo menos o jovem recebeu uma formação humana, ganhou conhecimento. No seminário, além da formação filosófica e teológica, os jovens têm informações sobre a questão ambiental e a preservação do patrimônio cultural, com orientações para garantir a integridade dos acervos sacros.”
Luz e esperança
Entre os 60 seminaristas, está o belo-horizontino Igor Leonardo Ferreira da Silva, de 25 anos, há seis no Sacej. “Fico feliz em participar desta história centenária. Penso que o papel de um sacerdote está em levar luz e esperança, a Palavra de Deus, a tantas pessoas necessitadas, ainda mais em tempos tão difíceis para o mundo”, acredita o jovem, que se sentiu o despertar da vocação aos 15.
Também de BH, Luís Carlos Ferreira da Silva, de 25 e no seu sexto ano no Sacej, observa que o trabalho de um padre é servir em nome de Deus. “Sou de uma família grande, e o único padre até hoje. Todos me apoiaram muito, o que foi fundamental para minha decisão”.
Residente no Convivium Emaús, o monsenhor Éder Alantéa, de 77, tem de vida sacerdotal quase a metade do tempo do Sacej. “Estudei aqui, sou padre há 48 anos. Temos que festejar muito essa data, pois é um marco em Belo Horizonte, na vida religiosa”, disse o monsenhor, que sabe de cor e salteado a história do seminário nascido em 1923 pelas mãos do então arcebispo dom Cabral. “Começou na Rua Rio Grande do Norte, 300”, conta.
Marco religioso na história da capital
O então Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus, composto pelos cursos de humanidades e teológico, foi criado em 15 de março de 1923, por dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967), primeiro arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. A primeira localização foi na Rua Rio Grande do Norte, número 300, onde também funcionou, provisoriamente, o Palácio Episcopal. No discurso inaugural, dom Cabral colocou o seminário sobre a proteção do Coração Eucarístico de Jesus e auspícios da Virgem Santíssima.
O primeiro reitor do seminário foi o monsenhor João Rodrigues de Oliveira, sendo diretor espiritual o padre Vicente Soares, Em 1927, dom Cabral fundou oficialmente a Obra das Vocações Sacerdotais (OVS) e destacou a necessidade de criação de um local adequado para o funcionamento do seminário “de acordo com todas as exigências dos foros de cultura higiene e civilização da nossa capital”.
Nessa época, dom Cabral adquiriu as terras da Vila Anchieta, subdividindo-a em vários lotes e colocando-os à venda, para, com os recursos obtidos, construir o seminário. A pedra fundamental foi lançada em 14 de agosto de 1927, na presença do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé no Brasil), dom Bento Aloísio Masella, do presidente do estado (na época, não era governador), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, do prefeito de Belo Horizonte, Cristiano Machado, e de outras autoridades. No mesmo local de lançamento da pedra fundamental, foi erguido um cruzeiro.
A inauguração ocorreu em 19 de fevereiro de 1930, com a benção do edifício do Seminário Maior por dom Cabral. Os projetos ficaram a cargo do escritório técnico de arquitetura de Joseph Poley, do Rio de Janeiro. Em 1943, já se encontravam construídos cinco edifícios com dois pavimentos além da residência para as madres de Nossa Senhora do Monte Calvário, responsável pela manutenção e serviços das casas. Sete anos depois, foi lançada a pedra fundamental do edifício que abrigaria a Faculdade de Direito e a Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, atual PUC Minas.
A introdução de outros cursos nas proximidades do seminário e a convivência de filósofos e teólogos com os demais alunos, acrescidas de outros fatores culturais, gerou grande crise e levou à separação. Assim, foi inaugurado, em 1976, na Avenida 31 de Março. A partir daí, os edifícios que atendiam ao seminário ficariam inteiramente usados pelos diversos cursos da Universidade Católica, atual PUC Minas. No prédio, encontra-se a capela sob invocação de Nossa Senhora Aparecida, ocupando uma sala no segundo pavimento com aproximadamente 60 metros quadrados e organizada com simplicidade, atendendo as orientações do Conselho Vaticano II (1962- 1965).
Mudança vieram no século 21. Em 2009, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, após ouvir padres e fiéis nas muitas comunidades de fé, e considerando as necessidades da Igreja na contemporaneidade, abençoou a pedra fundamental do Convivium Emaús, em 19 de junho de 2009. Além de ser sede definitiva do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, o conjunto arquitetônico do Convivium Emaús reúne a Casa Santo Cura D’ars, dedicada aos padres mais idosos, um centro de formação para fiéis, a Capela Coração Eucarístico de Jesus.
A inauguração do Convivium Emaús, na Rua Ibirapitanga, 235, no Bairro Dom Cabral, com transferência do seminário para a sede definitiva, ocorreu em 8 e 9 de junho de 2018. (GW)
LINHA DO TEMPO
Cronologia do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus
» 1923 – Em 15 de março, na capital, é criado pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Antônio dos Santos Cabral, o Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus. A primeira sede foi na Rua Rio Grande do Norte, no Bairro Santa Efigênia.
» 1927 – Dom Cabral funda a Obra das Vocações Sacerdotais e destaca a necessidade de criação de um local adequado para o seminário. Em 14 de agosto, há o lançamento da pedra fundamental.
» 1930 – Em 19 de fevereiro, ocorre a inauguração do edifício do Seminário Maior, por dom Cabral, onde hoje fica a PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste.
» 1943 – Já estavam construídos, no local, cinco edifícios com dois pavimentos e a residência para as madres de Nossa Senhora do Monte Calvário.
» 1950 – Lançada a pedra fundamental do edifício que abrigaria a Faculdade de Direito e a Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, atual PUC Minas.
» 1976 – Inaugurada a nova sede do seminário, na Avenida 31 de Março, no Bairro Dom Cabral. Hoje, no local, funciona a PUC Minas Virtual.
» 2009 – Em 19 de junho, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, abençoa a pedra fundamental do Convivium Emaús, sede definitiva do seminário, com uma casa dedicada aos padres mais idosos, centro de formação para fiéis e a Capela Coração Eucarístico de Jesus.
» 2018 – Em 8 e 9 de junho, uma série de eventos marca a inauguração do Convivium Emaús, no Bairro Dom Cabral.