Jornal Estado de Minas

MAIS DE R$ 500 MIL

Rombo em república da UFOP: suspeito teria perdido dinheiro em investimento

Suspeito de desviar R$ 514,6 mil da república estudantil Partenon, de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, o estudante Ygor Fernandes Araújo, de 25 anos, alega ter investido o dinheiro para compensar um rombo nas contas da própria Associação República Partenon de Ouro Preto (Arpop), fundada em 1996.





Em entrevista ao Estado de Minas, Gabriel de Faria, um dos advogados de Ygor, que atua pela Teixeira | De Faria Advocacia, afirmou que o estudante teria encontrado desfalques ao assumir a tesouraria da associação. A defesa afirma que, receoso de repassar as informações e temeroso de ser responsabilizado por eles, o jovem decidiu investir o dinheiro da república por conta própria, visando quitar essas dívidas. Os investimentos, porém, não resultaram em lucro, e o dinheiro foi perdido.

Gabriel destacou, ainda, que foi a família de Ygor que procurou a República Partenon, já com o grupo de advogados contratados, para informar do rombo. Além disso, o advogado tratou com mentirosas quaisquer alegações de que o jovem teria fugido. De acordo com a defesa, o estudante saiu da república pois só faltava terminar o TCC para a conclusão da graduação, prática comum entre universitários. Seus representantes informaram que o jovem segue morando com seus pais e está à disposição da Justiça.

A versão, porém, é contestada pelos denunciantes, que dizem que Ygor teria feito investimentos em renda variável e jogos de apostas online, e que já no último dia 3 de março ele teria feito novos saques, zerando a conta da república no banco.





Outra alegação dos moradores da república é que essa última movimentação foi feita no momento em que os advogados de defesa se reuniam com os denunciantes para informar do rombo.

Eles destacam ainda que o teor da mensagem enviada pelos advogados na tentativa de marcar a reunião onde a situação seria exposta “não indicava a seriedade do ato”, e que as vítimas “imaginavam que a reunião seria apenas para que o requerido deixasse de responder pelo cargo de tesoureiro”, visto que ele teria alegado anteriormente que não poderia continuar na função por problemas de saúde.

Os problemas de saúde do jovem são utilizados pela defesa, que alega que ele tem realizado tratamentos psicológicos e psiquiátricos pela rede pública de saúde, o que, para seus advogados, vai contra a acusação de que os desvios de dinheiro tiveram objetivo de enriquecimento. “A gente vai conseguir demonstrar, com tranquilidade, que não houve qualquer intenção de enriquecimento pessoal, de enriquecimento ilícito, de acréscimo patrimonial pessoal”, disse Gabriel.

Em relação aos valores citados pelos moradores da República Partenon, Gabriel de Faria pretende manter a cautela e esperar o término das investigações para confirmar qualquer montante. “A gente vai ter acesso a esses documentos, a esses levantamentos, vamos conferir através de laudos periciais se esses valores, de fato, correspondem ao que foi apurado. O que a gente quer e evitar prá-julgamentos”, disse o advogado de Ygor.





Entenda o caso

Ygor Fernandes Araújo está sendo acusado de desviar R$ 514,6 mil da república estudantil Partenon. A Associação República Partenon de Ouro Preto (Arpop) afirma que, nos 27 anos de sua existência, arrecadou R$ 450 mil com o objetivo de comprar uma casa própria para a república. O processo de compra de uma casa avaliada em R$ 390 mil foi iniciado no fim de 2022.

De acordo com notícia-crime enviada ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), os moradores da república alegaram que Ygor, que era tesoureiro da república desde outubro de 2021, realizou uma “quantidade anormal” de movimentações, com uma retirada bruta que de aproximadamente R$ 600 mil, desde o momento de posse do cargo que ocupava, ocorrida em 25 de outubro de 2021.
 
 

Os moradores da república alegaram que confiavam em Ygor pelo fato de ele ser um dos moradores mais antigos da república e que, na associação, “há entre todos os moradores um sentimento de irmandade”, o que aumentava a confiança entre eles.





Na notícia-crime consta ainda que, anteriormente, a movimentação conta bancária da Arpop exigia liberação do tesoureiro e do presidente. Os moradores alegam ainda que, tendo ciência disto, Ygor sugeriu a criação de uma nova conta no Banco Efí, antiga Gerencianet, empresa com a qual possuía diversos colegas, visto que é sediada em Ouro Preto.

“Nesse novo banco, não haveria a necessidade de autorização do presidente para a realização da movimentação bancária, por isso o tesoureiro recebeu uma senha única, sem qualquer acesso dos demais moradores, uma vez que alterou o telefone de autenticação para seu pessoal”, dizia o documento.

Os denunciantes alegam ainda que Ygor teria adulterado prestações de contas anteriores, para omitir os desvios. Outro ponto citado na denúncia foi que, durante o carnaval 2023, Ygor pediu dinheiro emprestado para diversos ex-moradores da república, afirmando que precisava pagar contas urgentes. Somado, o valor pedido para os ex-colegas chegou a R$ 12 mil, que não foi pago. Eles explicam que a República Partenon realiza eventos de carnaval em Ouro Preto e que nesse momento do ano, as movimentações financeiras ficam mais frequentes.




 
A República Partenon está realizando uma "Vaquinha" para "manter a república viva". Veja o post:
 
 
 
O Efí, banco que detinha os valores economizados pela República Partenon, em nota, afirmaram que a conta corrente opera de forma regular e que a empresa está a disposição das autoridades. Leia na íntegra:
 
"A Efí esclarece que a conta corrente em questão foi aberta em 2021 e está devidamente regularizada. Toda e qualquer transação foi validada a partir de senha de acesso e assinatura eletrônica, por meio de dispositivo de segurança configurado previamente.

A companhia ressalta que, além da segurança das autorizações das transações, dispõe de ferramentas de segurança que podem ser utilizadas pelos clientes, como a de "Usuários Secundários", que permite o cadastrado de usuários, além do titular, para acesso à conta, com permissões específicas por usuário, como, por exemplo, acompanhamento de extrato financeiro.

A empresa também ressalta que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento adicional".
 

Desvios na USP

No último mês de fevereiro, a aluna do curso de medicina da USP, Alicia Dudy Müller Veiga, de 25 anos, passou a ser investigada pelo crime de apropriação indébita de R$ 920 mil, desviado do fundo de formatura de sua turma na faculdade por meio de nove saques.

Ela afirmou em depoimento à polícia ter usado parte do dinheiro para fins pessoais, como aluguel de um carro e aparelhos eletrônicos. Após trancar a faculdade no fim de janeiro, Alicia voltou a frequentar a faculdade no dia 27 de fevereiro.

Alicia é investigada por apropriação indébita, suspeita de estelionato e lavagem de dinheiro pela polícia de São Bernardo do Campo, na Grande Sâo Paulo. Essa investigação teve início após ela tentar apostar, sem pagar, um total de R$ 891 mil em bilhetes da Lotofácil.