Escravizado por 38 anos na fazenda de café Boa Vista, em Bueno Brandão, no Sul de Minas Gerais, João Ribeiro reencontrou sua família. O idoso não se lembra como chegou à propriedade rural, mas isso aconteceu em 1984, quando ele procurava um trabalho.
João, de 74 anos, havia sido resgatado em janeiro e sua história tomou proporção após uma reportagem exibida pelo programa ‘Fantástico’, da Rede Globo. Foi justamente pela matéria que a família reconheceu idoso.
“A princípio, quando eu olhei a imagem dele, eu já gritei: ‘ele parece meu irmão que sumiu’, e a hora que eu vi que o repórter deu para ele os documentos, falou o nome dele inteiro, do pai e da minha mãe, não tinha mais dúvidas”, disse a irmã de João, Ana Zília Ribeiro, ao Fantástico.
A irmã dele, então, avisou dois filhos de João, que moram em Timburi, no interior de São Paulo, cidade natal de João Ribeiro. No outro dia, após a exibição da reportagem, os filhos viajaram por 5 horas e foram até Bueno Brandão em busca do pai.
“A hora que eu vi, não tive dúvidas, para mim ele já era meu pai. Ali foi uma emoção grande, saber que ele estava vivo. Nós tomamos a decisão, vamos pegar um carro e vamos para lá”, disse um dos filhos.
Natal Aparecido e Nauto Aparecido tinham 9 e 12 anos quando o pai desapareceu. A mãe deles morreu 27 anos após o desaparecimento dele. Desde então, os filhos afirmam que procuraram o pai, mas nunca conseguiram encontrar.
Em Bueno Brandão, imediatamente, os filhos fizeram um exame de DNA. O resultado saiu em alguns dias e comprovou que João é o pai dos dois. Entretanto, ainda há entraves burocráticos para que o idoso possa ir morar com os filhos.
Em contato com a reportagem do Portal terra do Mandu, a família informou que a justiça encomendou um estudo social para avaliar se o filho tem condições de ficar com o pai. Enquanto isso, João continuará vivendo em uma casa para idosos em Bueno Brandão.
No sítio da família, na cidade paulista, um quarto já está preparado para receber João. O homem, que era lavrador, foi diagnosticado com transtorno neuropsiquiátrico.
Ao ser resgatado, ele não tinha documentos e nenhuma memória da vida anterior à fazenda. O homem vivia em condições insalubres, trabalhava para receber as refeições, não havia tomado nenhuma vacina há anos e ainda é um paciente diabético e hipertenso e não fazia uso das medicações necessárias para o tratamento.
Iago Almeida / Especial ao EM