No fim da adolescência, aos 18 anos, o mineiro Wallace William da Costa, natural de Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, foi preso por tráfico de drogas em sua terra natal. Hoje, aos 44, ele cursa o segundo período de medicina na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFT) e ostenta no currículo várias aprovações em concursos.
Condenado a seis anos de prisão, Wallace ficou na Penitenciária José Edson Cavalieri por quatro. O restante da pena foi cumprido em liberdade condicional. Durante a estadia forçada no cárcere, o então adolescente teve um lampejo após um tempo sem propósito, dia após dia, dentro da cela.
“Fiquei muito atordoado quando fui preso, mas, com o tempo, comecei a pensar no tipo de homem que eu queria ser dali em diante. Eu poderia continuar errando ou mudar. Então decidi que eu sairia daquele lugar da melhor forma que conseguisse. O caminho que encontrei foi por meio do estudo”, conta Wallace em entrevista ao Estado de Minas.
“Meu erro não me define. É apenas uma marca. É possível conquistar novas oportunidades a partir do momento em que a gente reconhece que errou”, reforça. E a mudança começou a ganhar contornos quando ele decidiu se formar no ensino médio ainda dentro da prisão. Lá, o jovem prestou vestibular, em 2001, para medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mas não conseguiu a aprovação na primeira tentativa. “Só não passei por causa de dois pontos”, afirma.
Preconceito por ser ex-detento
Quando ganhou a liberdade condicional, o juiz-forano fez um curso de técnico de enfermagem na Santa Casa de Juiz de Fora. No entanto, mesmo formado, encontrou dificuldades. “Participei de um processo de seleção para trabalhar em um hospital e passei em todas as etapas. Porém, fui questionado se já tive algum problema com a Justiça. Disse que sim, e nunca mais tive retorno”, lembra.
Em 2004, ele se mudou para o Rio de Janeiro na esperança de ter uma oportunidade de trabalho. Na ocasião, Wallace conta que passou em um concurso para um emprego temporário de técnico de enfermagem no Hospital Federal de Bonsucesso. Posteriormente, ele conseguiu outro trabalho, agora efetivo, na mesma unidade hospitalar, por meio de outro concurso.
“Também passei em concursos das prefeituras de Guapimirim e Japeri, no Rio, da Petrobras e Fiocruz”, diz Wallace, que, em 2016, precisou se aposentar devido a uma cirurgia na coluna. No mesmo ano, ele decidiu voltar para Minas.
Aprovação em medicina pelo Enem
Ao retornar para Juiz de Fora, Wallace optou por fazer seu primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Passei para engenharia mecatrônica no IF Sudeste e odontologia na UFJF. Foi quando percebi que eu poderia ter chances de passar em medicina”, diz Wallace, que optou por fazer outro Enem anos mais tarde. “Aí, no Tocantins, foi onde deu pra aproveitar a nota”, explica.
Logo, para se dedicar aos estudos, ele se mudou sozinho para Araguaína, no Norte daquele estado, para dar início ao curso de medicina. A esposa e as quatro filhas pequenas do casal, com idades entre 6 e 12 anos, ficaram em Juiz de Fora. “Não tenho condições financeiras de trazê-las para cá. Por isso quero tentar uma transferência e voltar”, finaliza.