Um relatório feito pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) nos campi do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) e do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) localizados em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, aponta que a inclusão e permanência de alunos que vivem na cidade têm sido afetadas nos últimos anos. No ano letivo 2021, o ICHS teve uma taxa de abandono de cursos da ordem de 21%. Já no ICSA foi feita uma comparação entre os dois semestres de 2022 que constatou que a evasão passou de 10%.
Leia Mais
Identificada adolescente que fez ameaças de atentado e mortes em escola Vítimas de queda de avião que saiu de Minas seguem internadas em GoiâniaDroga que mais mata nos EUA encontrada com traficantes foi produzida em MGAluno da UFOP é suspeito de vender R$ 30 mil em convites falsos para baileInstituto de Educação: aulas serão retomadas na segunda, em outro prédioComo tirar a Carteira de Identidade em MinasPreocupado com esse cenário, o diretor do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), Mateus Henrique de Faria Pereira, coautor do relatório, falou sobre o assunto. Segundo ele, o problema dos elevados custos de aluguéis em Mariana, além de atingir a comunidade universitária, também afeta a população marianense como um todo.
Faria Pereira conta que os dois campi levam até à cidade histórica cerca de três mil pessoas matriculadas anualmente. Segundo a pesquisa feita pelo Programa de Educação Tutorial (PET), do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), a comunidade da UFOP movimenta cerca de R$ 30 milhões por ano.
O professor ressalta que, em 2017, um estudo feito pela Fundação João Pinheiro demonstra que 47,5% da população da cidade trabalha no setor de serviços em geral. E, por isso, a renda desse setor foi consideravelmente impactada com a diminuição da comunidade universitária. “Quando comparamos ao setor da mineração, são 20% da população impactada”.
“Esses dados ilustram a importância da UFOP como polo educacional para a cidade de Mariana, uma verdadeira indústria verde realçando o natural retorno financeiro, comercial e cultural que é gerado pela comunidade ufopiana”.
Insegurança habitacional
Nove estudantes de uma república particular, localizada no centro da cidade histórica, convivem diariamente com o medo de perder a moradia. O estudante do curso de História, Francisco Alvim, conta que veio de São Paulo para estudar na UFOP, mas que, a cada ano, ele os outros moradores da república não sabem se conseguirão concluir o curso.
“Minha casa consegue sintetizar esse problema de moradia na cidade. Vivemos com duas situações complicadas. A primeira é a especulação imobiliária criada por causa da empresa Vale no município. A empresa chega com muito trabalhadores, que vem de fora da cidade, para fazer o trabalho de mineração. Eles precisam ter um local para morar na cidade. A segunda situação é o risco de desabamento e soterramento de casa por causa das chuvas”, conta o estudante.
O estudante afirma que ocupar os casarões localizados no centro de Mariana é mais interessante para a Vale porque a empresa consegue concentrar uma maior quantidade de funcionários. Isso facilita o transporte de todos para a empresa.
“Se antes a casa estava anunciada por R$ 2 mil por mês, a empresa paga R$4 mil e, assim, vira uma concorrência desleal porque os donos dos imóveis acabam fechando o aluguel com a empresa”.
Busca de solução
Em busca de uma solução, o relatório foi apresentado à Comissão de Participação Popular da Câmara Municipal de Mariana e ao presidente da Câmara Municipal de Mariana, Fernando Sampaio, no dia 15 de março.
Na reunião, o presidente da Câmara Municipal nomeou uma comissão especial para fazer um levantamento de dados e buscar uma solução para o problema habitacional.
Segundo Fernando Sampaio, a comissão pretende marcar uma reunião com a Fundação Renova, criada pela Samarco e as empresas Vale e BHP Billiton, e com a Promotoria de Justiça da Comarca de Mariana para discutirem uma solução. “Entendemos que a empresa tem responsabilidade sobre o aumento do custo de moradias em Mariana e queremos ver o que a Samarco pode fazer nesse sentido”.
Sampaio conta que a comissão especial da Câmara Municipal vai fazer um levantamento sobre o que pode ser feito em relação à situação em Mariana. “Mas não temos ainda uma agenda marcada com o Ministério Público e nem com a Renova. Acreditamos que, no máximo na semana que vem, já teremos uma data marcada para essa reunião”.