Suprimidas pelo concreto da selva de pedra que tem se tornado Belo Horizonte, as plantas não têm tido espaço para crescer. Pelo menos é o que se pensa ao cruzar a esquina da Rua Grão Mogol com a Avenida do Contorno, no bairro Sion, região Centro-Sul da capital, onde as fiações estão tomadas por trepadeiras.
A cena curiosa e potencialmente perigosa pode ser um reflexo do manejo inadequado da espécie da planta, que não foi possível ser identificada devido a seca das folhas, que já aparentam já estarem mortas.
“Na foto, parece que ela cresceu junto com alguma árvore e usa os fios como se fosse um pergolado (apoio). Mas isso tem que ser manejado e suprimido, pois ela pode pesar e dar problemas na fiação”, explicou o professor do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG), João Renato Stehmann.
Em contato com o Estado de Minas a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), explicou que a vegetação está em contato com a rede de telecomunicações - telefone e internet - que usam os postes da companhia para fixar seus cabos mediante contratos.
As empresas são responsáveis pela fixação e preservação dos cabos em perfeitas condições. A Cemig irá notificar os responsáveis para que providenciem a retirada das plantas e a limpeza do trecho em questão.
Redes são isoladas
Mesmo se estivessem em contato com a rede de baixa tensão da Cemig, a estatal ressalta que a instalação é isolada e o problema não provocaria falta de energia ou risco às pessoas que passam por baixo. Por outro lado, é importante que as pessoas evitem manipular ou encostar nos cabos para retirar a vegetação. A orientação é sempre entrar em contato pelo 116 e reportar o problema.
O isolamento dos cabos usam materiais poliméricos de propriedades isolantes, oferecendo resistência à passagem de correntes elétricas da parte interna para a parte externa do cabo. A instalação é obrigatória em todo projeto de expansão e reforma de redes de baixa tensão.
A proteção evita, por exemplo, que ocorra curtos-circuitos e choques elétricos na ocorrência de contato do cabo com agentes externos como, por exemplo, um tênis arremessado ou um passarinho pousado.
Trepadeiras são problema até na vegetação
O professor João Renato, explica que o grupo ecológico das trepadeiras crescem na procura por luz. A planta pode crescer por dezenas de metros em muros e postes de concreto, em madeira e ferro, mas o importante é que sua raiz esteja geminada no solo.
O botânico ainda ressalta que é comum as pessoas plantarem esse tipo de planta em locais inadequados. Uma trepadeira não deve ser usada de forma alguma por pessoas sem experiência no manejo, já que o grupo de plantas evoluiu focando em crescimento rápido e não sustentação, precisando de algo para se apoiar.
“Elas crescem exclusivamente sem controle, então elas acabam abafando a floresta. Tem que haver manejo, porque senão não há sucessão ecológica. Ela impede que a outra espécie faça a fotossíntese”, completou o professor.
*Estagiário sob supervisão de Fernanda Borges