Cerca de 200 funcionários, empresários e alunos protestaram aos gritos de “Fica Prates”. Eles alegam que 500 pessoas ficarão desempregadas, 15 empresas deixarão de existir, cinco escolas vão interromper suas aulas e centenas de alunos não poderão retomar seus estudos se as atividades no local forem encerradas.
"O grande objetivo desta manifestação é mostrar para as pessoas o que é o Aeroporto Carlos Prates. Talvez até por culpa nossa, as pessoas não entendem o que acontece aqui dentro. Não é um lugar onde alguns empresários ricos têm seus aviões. São alunos que estão tentando realizar seus sonhos, pessoas que são apaixonadas pela aviação e tiram seu sustento, que a vida inteira sonharam em estar perto de um avião", declarou o presidente Associação Voa Prates, Estevan Velasquez.
Ele destacou que a manifestação também quer sensibilizar o poder público. “Não se acaba com uma entidade que tem 80 anos formando aviadores e pilotos, um lugar de onde as pessoas tiram seu sustento, em 10 dias. E sem dar nenhum tipo de satisfação ou opção. Ainda vai ficar uma área, que presta serviço para a sociedade, parada.”
O instrutor de voo Thobias Brusius também lamentou o encerramento da escola. "Essa decisão para nós é um absurdo. De uma hora para outra, vai tirar o trabalho de 500 pessoas aqui. Nenhuma empresa aqui tem nenhum lugar para ser realocada, então, basicamente, vai se encerrar as atividades de todos que estão operando aqui", ponderou.
Já o aluno do curso de piloto privado Pedro Henrique Penna, de 18 anos, revelou que faltam duas semanas para concluir os estudos, mas que isso não será possível com o fechamento do local. "É difícil porque não tem outro lugar para ir. O de Pará de Minas é longe para deslocar porque eu trabalho. BH só tem esse aeroporto de instrução", explicou.
O estudante que, trabalha como jovem aprendiz para custear o curso, disse que será inviável continuar em outra cidade, já que as aulas práticas acontecem três vezes por semana. "Tem que ficar alojado lá e, infelizmente, não dá por conta do trabalho. Preciso do trabalho para pagar meu curso. O jovem reclama ainda que os alunos não foram informados do que irá acontecer a partir de 1° de abril. "Estamos sem respostas. Sempre foi meu sonho. Desde os 6 anos que quero ser piloto. Tem três anos que eu junto dinheiro para conseguir pagar o curso, que não é barato."
O coronel Sellera é comandante estadual da Patrulha Aérea Civil de Minas Gerais e atua como voluntário na instituição desde 1959. Ele explica que o trabalho da patrulha consiste em busca, salvamento e resgate, em casos de catástrofes e emergências. “Somos auxiliares das forças de segurança, como o Corpo de Bombeiros, Samu, Defesa Civil.” Os treinamentos para esse trabalho é feito no aeroporto e corre o risco de ficar comprometido com o fechamento, já que a instituição é associada ao aeroclube.
Acidentes, fechamento e incertezas
O Carlos Prates, segundo aeroporto mais movimentado de Minas Gerais, voltou para o centro de uma polêmica que se arrasta há anos depois de uma aeronave cair sobre duas casas no bairro Jardim Montanhês, na Região Noroeste de BH, em 11 de março. A discussão sobre o fechamento do aeroporto foi retomada.
Três dias depois do acidente que vitimou o piloto da aeronave, o prefeito de BH, Fuad Noman (PSD), anunciou que o Aeroporto Carlos Prates será fechado definitivamente em 31 de março, segundo decisão do Ministério dos Portos e Aeroportos.
No dia seguinte, em entrevista ao Estado de Minas, Noman revelou um estudo de ocupação do terreno do aeroporto. O projeto deve incluir quatro partes e o investimento previsto é de R$ 500 milhões. No local seriam construídas escola, moradias populares e unidades de saúde.
O prazo curto para a desativação do local é motivo de apreensão de empresários, funcionários e alunos. Já moradores dos bairros vizinhos ao aeroporto têm opiniões diferentes sobre a decisão.