O fim do dinheiro que era dado pela mãe, para pagar a prestação do apartamento em que moravam e o condomínio do edifício, que já não era repassado há cerca de um ano, foram as causas dos assassinato praticados por uma mulher, de 34 anos, que matou a mãe dela, Maria do Rosário de Fátima Pinto, a “Rô”, de 67 anos, e da filha, Agatha, de 10 anos, na residência em que moravam, no Bairro Piratininga, em Venda Nova. A idosa foi morta em 13 de março, e a filha, no dia seguinte. A autora, que confessou os crimes, está sendo indiciada por duplo homicídio qualificado por motivo torpe.
O caso mobilizou grande parte da Polícia Civil. Participaram das investigações, a delegada-chefe do xxxxx, o delegado Frederico Abelha, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e a delegada de homicídios de Venda Nova, Iara França.
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Mortes em Venda Nova: mulher confessa ter matado a própria mãe e a filhaMoradores denunciam violência policial em abordagem a suspeito em BHCrianças de 6 e 8 anos ficam feridas em acidente de carro no GutierrezHomem que estuprou e engravidou a filha de 13 anos é preso“A prestação do apartamento já havia acabado há cerca de um ano e a filha não havia falado nada, pois seguia pegando dinheiro e gastando com drogas”, diz o delegado Abelha.
A delegada França conta uma história ainda pior, a de que a mãe não se importava com a filha. “A menina estudava numa escola integral, para não ficar dentro de casa. Sua mãe era faxineira e trabalhava de segunda a sábado, muitas vezes, fazendo duas faxinas por dia. A filha não contou que o apartamento tinha sido quitado, somente para ficar com o dinheiro. Ela não gostava de trabalhar. Aliás, nunca trabalhou.”
Existe ainda uma outra história, que a delegada Gamboge considera aterrorizante, em meio a toda a tragédia. “O pai da menina de 10 anos, Agatha, era traficante e foi morto em 2008. Depois disso, a mulher tratou de afastar a filha da família do pai.”
“Ela não permitia o convívio da menina com os parentes do pai, nem com uma tia, que era sua madrinha. Só permitia que a menina visse os parentes do pai no natal e em seu aniversário, nada mais”, completa a delegada frança.
Os crimes
A delegada França fala que nunca tinha presidido um inquérito que tivesse tanta crueldade. “A mulher fingiu estar brincando com a mãe, e aplicou-lhe um estrangulamento”, diz França. “Foi um mata-leão, golpe de MMA”, afirma Abelha.
Depois desse crime, no dia 13, segundo os delegados, a mulher colocou a mãe na cama e cobriu o corpo com uma coberta. “Ainda jogou borra de café em volta do corpo, para que este não cheirasse”, conta França.
A tragédia continuou no mesmo dia, quando, segundo França, a mulher chamou a filha e disse que ela preferia ser morta ou ir para uma creche, pois ela, sua mãe, seria presa, por ter matado a avó de Agatha, a idosa, mãe dela.
“Ela ainda tentou matar Agatha, cortando-lhe os pulsos, mas a faca estava cega. Produziu dois machucados nos braços da menina, que teria chorado muiito. A mãe chegou a colocar um sofá atrás da porta, para que ninguém entrasse. E também trancou o cachorro da família num quarto, para que ninguém ouvisse seu latido”, conta ela.
Foi no dia seguinte, 14 de março, que a mulher amarrou a filha. “Ela amarrou, com uma calcinha, os braços da filha nas costas e, em seguida, a estrangulou”, afirma a delegada França.
A prisão
Os corpos foram descobertos somente no dia 15, quando vizinhos sentiram cheiro de gás - a mulher havia ligado as quatro bocas do fogão - e chamaram o Corpo de Bombeiros. Eles também estranharam que, nos três dias anteriores, nem “Rô”, que era bastante popular no prédio e na vizinhança, nem Agatha ou a mãe eram vistas.
Os bombeiros chegaram ao local e arrombaram a porta. Encontraram a mulher com o rosto colado numa boca de fogão. Mas estava consciente. Foram até os quartos e encontraram os corpos da idosa e da criança.
“Nas investigações, os policiais descobriram que “foram os amigos dela que chamaram sua atenção para o fato de o apartamento já ter sido quitado. Alertaram, ainda, que sua filha a estava enganando, para ficar com o dinheiro”, conta a delegada França.
Segundo ela, esse seria o motivo para que matasse a mãe e a filha. “Ela não teria mais dinheiro, por isso, teria decidido matar a mãe e a filha”, afirma.
Ainda de acordo com a delegada, em momento algum a assassina demonstrou ter problemas mentais. “Ela foi presa e levada para o presídio. De lá, ela foi enviada para um hospital, para ser examinada. Não temos ainda o resultado”, diz França.
O fato de a matadora ter ou não problemas mentais é indiferente, segundo o delegado Abelha. “Ela não é inimputável, Mesmo se apresentar problemas mentais. Ela demonstrou que tudo foi meticulosamente estudado. Ela não demonstra, hora nenhuma, ser uma pessoa perturbada.”
Caso trágico
O delegado Abelha conta que esse é um dos casos mais violentos com que já trabalhou. “Em 2021, eu investiguei o caso de um menino, de 11 anos, que foi assassinado a facadas pelo pai, na Rua Antônio Aleixo, no Bairro Santo Antônio.
"Realmente é um dos casos mais tristes com que trabalhei. Chega a ser revoltante. Um filho que mata a mãe, que assassina um filho, é revoltante”, afirma Abelha.