Moradores dos bairros vizinhos ao Aeroporto Carlos Prates se reuniram com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), dentre outras autoridades, na tarde desta quarta-feira (29/3), buscando a garantia da desativação do aeroporto, marcada para o próximo sábado (1/4).
Apesar de, até o momento, a desativação estar confirmada, os moradores temem que a decisão possa mudar, principalmente após a entrada de autoridades políticas que não participavam da discussão anteriormente. Por causa da situação, os moradores acharam importante reafirmar o desejo de desativação do aeroporto, para que não haja adiamentos.
Luzia Barcelos, 58 anos, é moradora do bairro Jardim Montanhês e participa do coletivo “Atingidos Pelo Prates”, na Região Noroeste de BH. Ela contou que o grupo surgiu há um ano, após a constatação de que os bairros próximos ao aeroporto são muito atingidos pelos ruídos das aeronaves e onde acontecem os acidentes mais graves.
“Essa manifestação de hoje foi idealizada pelo Coletivo Cultural Noroeste BH devido ao temor. A data de fechamento, 1º de abril, vem de uma série de prorrogações de datas e foi determinada em dezembro. A primeira data de desativação era para dezembro de 2021 e depois de três prorrogações de datas, ficou a atual. A reunião é para a gente poder reafirmar que queremos sim a desativação”, disse Luiza.
Barcelos contou que a luta dos moradores pela desativação do aeroporto é antiga e que outros coletivos foram criados em anos anteriores. “A luta completa 40 anos. Tem um documento arquivado no Congresso Nacional, que é do então deputado federal Pimenta da Veiga, que, em 1981, já coloca um requerimento para que o aeroporto seja transformado em parque. Já era uma necessidade da época”.
Dona de casa atingida por avião comparece
Entre os moradores presentes, está Neuza Fátima Gonçalves, aposentada de 68 anos, dona da casa onde um avião caiu, no bairro Jardim Montanhês, no último dia 11 de março. O acidente reacendeu as discussões sobre o fechamento do Aeroporto Carlos Prates. Ela relatou que tem feito acompanhamento psicológico desde o acidente e que seus dias têm sido muito difíceis. “Eu, agora, não estou tendo paz. Estou tendo surtos, pavor, um caminhão que passa na minha rua, eu acho que é um avião caindo na minha casa”.
Ela disse esperar que a reunião desta tarde sele a desativação do local. “(O aeroporto) Tem que ser desativado, em nome de Jesus vai ser. Que todos os envolvidos, tanto Federal, quanto o prefeito, que tirem, desativem, pra eu ter sossego”.
Reivindicações
Thais Novais, do Coletivo Cultural Noroeste BH, destacou que a região Noroeste de Belo Horizonte possui somente um parque, contra 19 na Centro-Sul, que tem tamanho e população parecida, além de poucas praças, situação que melhoraria com o projeto da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para a área do aeroporto.
“É uma questão de lutar pelo direito à vida. É por isso que a gente quer a desativação do aeroporto. Que ele pare de matar pessoas e que seu espaço seja usado para dar mais qualidade de vida para as pessoas que moram ali”, disse Thais.
Thais destacou, ainda, a necessidade da regional receber mais investimentos em cultura, saúde e educação. Ela argumentou que a área do aeroporto é ideal para receber espaços que ofereçam esse tipo de serviço. “A gente quer que o prefeito mantenha seu compromisso de governar para a população que mais precisa e não só para aquela que tem mais dinheiro”, finalizou.
Maria Alice da Silva, 67 anos, é psicóloga e moradora do bairro Padre Eustáquio, “no pé do aeroporto", como ela mesmo afirma. Segundo ela, a região precisa de mais opções de lazer e mais verde, e teme que a população local continue não sendo beneficiada. “Nosso temor é que adie mais uma vez e isso vire uma querela infinita ou que o governador assuma a área apenas para, depois, leiloar para empresas fazerem, ali, um grande condomínio fechado. A gente, então, perderia a área naquela região”.
Posição da prefeitura é de neutralidade
O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, esteve na reunião e afirmou que a decisão do fechamento ou não do aeroporto não é da prefeitura e sim do Governo Federal. Ele destacou ainda que a PBH não iria se posicionar em relação ao destino do aeroporto. “O aeroporto vai fechar? Nós vamos usar o terreno. O aeroporto não vai fechar? Continuará sendo operado. Nós não vamos interferir, nem temos competência para isso, no Governo Federal. Nossa posição é de neutralidade nessa questão”.
Apesar disso, Fuad afirmou que a PBH irá respeitar quaisquer que seja a decisão do Governo Federal e que se a definição se manter pelo fechamento do aeroporto, já há um esboço de projeto para a área e que pretende dar suporte aos empresários que atuam no local. “Entendo a questão dos usuários do aeroporto, a gente (PBH), se assumir, estamos dispostos a nos acertarmos com eles e encontrarmos formas de minimizar os efeitos para eles”.
Fuad Noman garantiu, ainda, a segurança do local, em caso de encerramento das atividades do aeroporto. Segundo ele, o local será cercado e passará a ser guardado pela Guarda Municipal de Belo Horizonte.