Jornal Estado de Minas

RISCOS À POPULAÇÃO

Parque abandonado no Aeroporto Carlos Prates vira ponto de tráfico

Um local construído para ser uma opção de lazer aos moradores dos bairros vizinhos ao Aeroporto Carlos Prates, localizado na Região Noroeste de Belo Horizonte, se tornou um problema para os moradores das redondezas. O Parque Maria do Socorro Moreira, conhecido como Parque do Aeroporto Carlos Prates, localizado na Avenida Itaú, 402, Bairro Jardim Montanhês, está abandonado e, de acordo com a vizinhança do espaço, recebe presença constante de traficantes e usuários de drogas.





Além disso, o mato alto, lixo e entulho acumulado no local atrai animais peçonhentos, como cobras e escorpiões, o que afasta as famílias e gera insegurança e medo para a população da região. O parque foi inaugurado em 2001, em uma área de 97,6 mil metros quadrados. O terreno foi cedido pela Infraero para que fosse mantido pela prefeitura e pela população.

Os saques também são um grande problema no local. Vasos sanitários, válvulas de descarga, torneiras, registros, painel de disjuntores elétricos e até mesmo o portão do parque foram furtados.
 
Leia: Aeroporto Carlos Prates, em BH, fecha de maneira melancólica 
 
Espaço recreativo para crianças está tomado pelo mato (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 

Depredação

A reportagem do Estado de Minas esteve no local na última sexta-feira (31/3) e pôde comprovar a situação de abandono do parque. Já na entrada, a situação da guarita onde deveria ficar a segurança do local é de total destruição. A estrutura se tornou uma ruína pichada, rodeada por montes de entulho. No momento em que chegamos, um homem de meia idade colocava fogo num emaranhado de fios de cobre, bem à vista de qualquer pessoa, no meio da tarde de uma sexta-feira. Apesar de passarmos a um metro de distância dele, ele parece não ter notado nossa presença.





Entrando no local, muito lixo e mato alto era visto para onde quer que se olhasse, tendo o Aeroporto Carlos Prates ao fundo. Mesmo com a conservação precária, foi possível observar a boa estrutura construída. Casas da região dividem muro com o parque, o que aumenta a insegurança dos moradores. Alguns deles preferiram não falar com a reportagem.

Nos dirigimos, em seguida, para a grande área de convivência. O local conta com uma enorme pista de skate, um grande campo de futebol, duas quadras para prática de esportes, um parquinho para crianças e um teatro de arena, com banquinhos de cimento capazes de acomodar, sentadas, cerca de 30 pessoas. O lugar também possui um parquinho para as crianças, com casinhas bem bonitas, mas mal cuidadas e quase totalmente escondidas pelo mato.

Por fim, um grande vestiário totalmente depredado, com esqueletos do que foram banheiros, e um espaço que poderia ser usado como comércio, mas que estava destruído, sem condições de operação.




 
Vestiário foi totalmente destruído; no local, havia banheiros que, hoje, te tornaram um amontoado de entulho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 
 
Reportagem do Estado de Minas realtou problema em 2017: 
Recuperação de parques de Belo Horizonte ainda está na promessa
 

Prefeitura promete limpeza

Quando deixávamos o local, encontramos dois funcionários da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) que mediam a área para limpeza, segundo eles.

Perguntamos para a PBH se existem planos de revitalização do parque, levando em conta a proposta do prefeito Fuad Noman de criar um espaço do tipo dentro da área do agora desativado Aeroporto Carlos Prates, que faz divisa com o local visitado por nós. O município afirmou, então, que “estão em curso medidas imediatas de reurbanização e segurança das áreas abandonadas no entorno do aeródromo, como limpeza, capina, novas cercas e portarias, eliminação de riscos de dengue e bota-fora”.

Apesar disso, a PBH ressaltou que “o foco neste momento é o diálogo com cada empresa que ainda tem aeronaves para decolar do local para que isso seja feito de maneira ordeira e respeitosa”.
 
Espaço é enorme e mostra sinais de abandono em quase toda sua extensão (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 
 

Moradores relatam insegurança

Norma Fialho, de 64 anos, mora a menos de vinte metros da entrada do parque, tendo chegado no local há 35 anos. Segundo ela, as condições do parque estão precárias, com muito mato, mosquitos e até mesmo serpentes e outros bichos peçonhentos. “Aqui em casa são seis crianças, dá muita insegurança. Aqui não tem lugar para elas brincarem, o ideal seria ir no parque, mas desse jeito não tem como”.





Ela demonstrou esperança em um dia o local ser revitalizado e falou sobre o processo de destruição do local. “Antes era arrumado, tinha lugar para sentar, era bonitinho. Mas foi deixando tudo abandonado, o povo não tem cuidado, foram quebrando tudo também, destroem. Aí a prefeitura largou de lado e ficou desse jeito”.

A situação do parque preocupa tanto que encontramos, inclusive, uma página no Facebook chamada “S.O.S Parque do Aeroporto Carlos Prates”, que durante três anos foi movimentada mostrando a destruição e o abandono do local.

Maria de Lourdes Pinto, de 66 anos, também é moradora do Bairro Jardim Montanhês, nas redondezas do aeroporto. “Põe abandonado nisso. Se voltasse o parque, era bom. Preocupa muito pelos vândalos, usuários de drogas. Seria bom revitalizar para a gente fazer uma caminhada, pros momentos de lazer, levar as crianças para brincar enquanto a gente conversa, come”.





Ela explicou que a presença de usuários de drogas no local passou a afastar os moradores. “Todo mundo parou de ir, com medo dos usuários de drogas. Acabaram com tudo. Tinha banheiro, aparelhos de ginástica. Aí acabou, ficou do jeito que tá”.

Importunação sexual

Carmen Souza mora próximo ao parque e também relatou insegurança. “Virou local de coisas indevidas, ao invés de ser um lugar para ter utilidade. A gente tem insegurança com a sujeira, o mato muito alto, isso atrai criminosos”.

Segundo Carmen, já aconteceram casos de importunação sexual no local. “Teve um dia que uma senhora foi fazer caminhada lá e um homem desconhecido tirou a roupa lá, perto dela, às oito da manhã”.

Ela também destacou o aparecimento de animais peçonhentos no local. “O pessoal usa para descartar entulho. Uma vizinha encontrou cinco escorpiões na casa dela. Outra menina encontrou uma cobra dentro de casa. Dá mosquito da dengue. Tem muito mato, entulho, não tem preservação, cuidados.

“A gente quer mais segurança. Com tanta gente querendo trabalhar, pega o dinheiro que a prefeitura arrecada e paga os funcionários para manter a segurança, a limpeza”, pediu Carmen.