Mesmo com a inauguração, a previsão é que a arena comece a receber jogos oficiais a partir do próximo mês de agosto. Até lá, acontecerão eventos de menor porte.
Apesar de a inauguração ser esperada ansiosamente pela maioria dos atleticanos, a construção e funcionamento da Arena MRV provoca debate entre os moradores dos bairros vizinhos. Por um lado, a população vislumbra o estádio como um sinal do progresso e de melhorias estruturais, inclusive viárias, para a redondeza, por outro, há preocupação com o impacto do aumento no fluxo de pessoas, veículos e torcedores na região.
A reportagem do Estado de Minas esteve nas proximidades da Arena MRV e conversou com moradores sobre como tem sido dividir a localidade com o novo e gigante vizinho. Luiz Geraldo mora no bairro Santa Mariana, próximo ao estádio, desde que nasceu, há 73 anos. Para ele, é difícil saber os reais impactos antes de, efetivamente, a bola começar a rolar, o que deve acontecer a partir de agosto.
“Depois da inauguração, os carros vão tomar conta e vai ter gente urinando nas ruas. Os desordeiros, não os torcedores, vão avacalhar o esquema. Quem mora ainda mais próximo já está sentindo os impactos. Mas isso é temporário e natural”.
Apesar dos possíveis problemas decorrentes de um equipamento de grande porte, como a Arena MRV, Luiz acredita que os benefícios serão grandes e se diz a favor da obra. “É a evolução. De forma positiva, há uma valorização da região e o comércio será beneficiado. Prejudica para uns, mas ajuda para outros. A gente tem que ter uma opinião equilibrada. Muitos gostariam de ter um estádio perto deles. Minha família toda é atleticana”.
O promotor de vendas Emerson de Oliveira também mora no bairro Santa Maria, quase em frente à Arena MRV, desde que nasceu. Ele comemorou a construção do estádio.
“Para mim não afetou nada. Isso aí sempre foi uma mata. É bom que valorizou algumas coisas. Vai trazer emprego. Terão alguns tormentos, mas não é sempre, tem dias. Por outro lado, o trânsito está meio ruim, as ruas estão ficando lotadas de carros, o que pode piorar principalmente quando houver shows”.
A professora Regina Amaro Silvério também é moradora da região e afirma que a construção do estádio do Atlético trouxe aspectos positivos e negativos para o local. “O bairro está ganhando visibilidade, relevância, está gerando muito emprego. Mas pelo lado negativo, está piorando o trânsito, a infraestrutura”.
“Muitos trabalhadores chegaram para as obras e são alojados aqui na região mais próxima à arena. Então você vai nos comércios e está muito cheio, aumentou muito o movimento, está tendo mais pessoas do que o bairro comporta. E quando tem jogo do Galo, muitos torcedores vêm assistir jogo daqui. Então quando inaugurar vai piorar. Penso que em dia de jogo vai ficar inviável transitar aqui.”
Comércio tem expectativas
Uma unanimidade entre as pessoas entrevistadas é o benefício que a construção da Arena MRV irá propiciar aos comerciantes do local. Rosana Arêdes, a Nâna, dona do Restaurante Cantina da Nâna, que fica bem de frente ao estádio, na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, disse ter expectativas positivas para os negócios com a inauguração do estádio.
“Eu acho que vai agregar muito à região, que o comércio vai ter muito movimento. Para mim até já aumentou um pouco. Eu ainda não sei como vai ser nos dias de jogos, estamos em planejamento, vamos ver o impacto quando os eventos e jogos começarem”.
Nâna, que está no local há nove anos, conta que se seu restaurante não comportar o público nos dias de jogos pretende investir na expansão do estabelecimento. “Se aqui dentro não comportar, a gente vai fazer uma área externa. Vamos vender uns petiscos, bebidas. Vai ser um acréscimo bom. Eu tive a sorte de, por um acaso, estar de frente ao campo”.
Por fim, a comerciante destacou as obras de infraestrutura que estão sendo feitas na região. “Eles têm feito muitas benfeitorias no entorno, alargando ruas, construindo viadutos. Estão fazendo uma estrutura boa para o trânsito não ficar impactado. E acho que não vai ficar mesmo”.
Redução de impactos
Nathália Baêta, presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Califórnia 01 (AMCCALI) disse que não houve reunião com a Arena MRV para discutir os impactos do estádio na população local, somente com o Instituto Galo, em relação a obras sociais que a organização quer colocar em prática na região.
“Nós participamos de todas as reuniões que tiveram com o Ministério Público para discutir os impactos da obra. Uma das demandas que levamos na época junto aos moradores do Califórnia Velho e do Califórnia 02 foi com relação à passarela que era essencial que fosse construída. Ela foi contemplada no projeto da Arena MRV, mas acabou sendo construída por meio de uma outra aprovação, que vinha sido feita há mais tempo”, contou Nathália.
Segundo ela, o trânsito é a maior preocupação dos moradores. O acesso ao conjunto já é complicado pelo fluxo normal de veículos, que deve aumentar consideravelmente em dias de jogos. “É essencial que ocorram obras de estrutura aqui também, para que os moradores não sintam tanto os impactos. Ainda não é possível sentir como vai ficar, mas acredito também que esses impactos não serão diários, mas pontuais, em dias de jogos e eventos na Arena MRV.”
Apesar dos pontos levantados, Nathália afirmou que a associação não considera a arena algo ruim, mas que é necessário diálogo para que o impacto na vida dos moradores seja reduzido. “Vai mobilizar muito o comércio local, vai ser uma possibilidade de visibilidade para alguns projetos que temos interesse de pedir que a Prefeitura contemple aqui. Também traz uma visibilidade boa para a região Noroeste e, consequentemente, a possibilidade de uma maior visão da PBH e de empresas para investimentos. Então acho uma boa a Arena MRV ter sido construída”.
Arena MRV
A administração da Arena MRV informou que mantém diálogo e reuniões constantes com todos os órgãos do poder público e representantes da comunidade da região desde o início do projeto.Os responsáveis pelo equipamento citaram também as obras prioritárias que estão sendo realizadas no entorno do estádio e o trabalho que tem sido feito visando o conforto dos vizinhos do local.
“As obras viárias estão sendo executadas de acordo com os projetos analisados e aprovados pelo poder público. As obras prioritárias são de melhorias na infraestrutura das vias do entorno, duplicação do viaduto Camargos e construção de uma via marginal à Via Expressa”.
“Além das melhorias viárias para atendimento à demanda do estádio, a Arena MRV, junto à BHTRANS e Polícia Militar, já desenvolveram o plano operacional, abrangendo desde as medidas operacionais de trânsito até as de segurança, de forma a permitir ao público e moradores do entorno que tudo ocorra da melhor forma possível.”
Repercussão imobiliária
Pablo Leonardo Rocha é proprietário da Pablo Corretora de Imóveis e já tratou do tema “investimentos próximos à Arena MRV” em seu canal no YouTube. O corretor explica que a construção da Arena MRV pode impactar o mercado imobiliário dos bairros vizinhos, pois uma obra que requer grande infraestrutura em uma área extensa é capaz de ocasionar aumento na demanda por imóveis nas proximidades.“As pessoas podem querer comprar, vender ou alugar imóveis na região, para ficarem mais próximas da arena. Além disso, a construção do estádio pode atrair investidores nos setores de infraestrutura e serviços, como restaurantes, hotéis, hostels, estacionamentos e lojas, o que tem potencial para atrair ainda mais pessoas para a área”, observa Pablo.
Ele explica, ainda, que outro impacto potencial é o aumento dos preços dos imóveis. Caso a demanda seja alta, os proprietários tendem a cobrar mais pelo aluguel ou venda de imóveis nas proximidades.
Apesar das vantagens, ele ressalta que a inauguração da Arena MRV pode levar à degradação de imóveis das proximidades. “Os imóveis também podem declinar bastante, devido a violência e o vandalismo passível de ocorrer na região. Essa é uma realidade dos arredores do Mineirão e Independência, por exemplo”.
Nathália Baeta, presidente da AMCCALI, afirmou que a associação não sentiu aumento de preços dos aluguéis e no mercado imobiliário da região, mas que já se nota uma maior procura em áreas comerciais para aluguel. “Tem muitas pessoas com interesse em abrir comércio na região, por causa da arena, visando lucros que futuramente ela vai trazer”, contou.
Prefeitura
A reportagem do Estado de Minas procurou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) com o objetivo de questionar sobre a estrutura da região do estádio e sobre eventuais mudanças em itinerários ou fluxo de ônibus.
Foi perguntado se as vias atuais serão suficientes para suportar o tráfego intenso, principalmente em dias de jogos e outros eventos, ou se as avenidas serão ampliadas ou outras construídas, se os bairros já apresentam aumento no congestionamento e fluxo de veículos, se já contam com toda a estrutura viária necessária, o que ainda precisa ser feito e o prazo para finalização das obras.
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A administração pública respondeu afirmando que algumas obras ainda estão em curso na região e que a operação de trânsito para o local durante a inauguração de hoje foi divulgada no portal da PBH, mas que ainda não há informações para o período de jogos que está previsto para começar em agosto.