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Estado de Minas DESDE 1897

Confira 10 curiosidades sobre o Parque Municipal, no Centro de BH

Completando 126 anos, o Parque Municipal de BH coleciona histórias e mistérios


17/04/2023 17:49 - atualizado 17/04/2023 19:11

Hoje, o parque tem menos de 50% da área original, com 182 mil metros quadrados
Hoje, o parque tem menos de 50% da área original, com 182 mil metros quadrados (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Situado bem no coração de Belo Horizonte, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, mais conhecido apenas como Parque Municipal, carrega mistérios, histórias de encontros amorosos e atrativos que marcaram a vida de várias gerações em sua trajetória centenária.

Inspirado nos parques franceses da Belle Époque –expressão que marca um período histórico de cultura cosmopolita de grande otimismo –, o Parque Municipal de BH foi aberto em 1897, meses antes da inauguração da própria capital mineira.
 
Com tantos anos de existência, o parque coleciona uma série de fatos curiosos e até mesmo macabros. Já serviu como morada de Olegário Maciel, governador do estado à época, além de ser palco para a criação de um importante clube de futebol mineiro.

Para falar sobre essas e outras curiosidades do patrimônio ambiental mais antigo de BH, listamos abaixo 10 fatos inusitados da história do parque.

1 - Crime do parque


Em 1946, um crime brutal chocou os moradores de Belo Horizonte. A vítima – o paulista Luiz Gonçalves Delgado – foi encontrada morta, no Parque Municipal, com 28 facadas.

O crime desvelou segredos e preconceitos da sociedade. Durante as investigações, a polícia descobre que, apesar das aparências, Delgado levava uma vida homossexual ativa, frequentando assiduamente uma região do parque conhecida como “Paraíso das Maravilhas”, ponto de encontro para homens homossexuais.

Cercado de mistérios, e com todos os ingredientes que tornam um crime famoso: sangue, versões contraditórias e personalidades ilustres como suspeitas; o crime repercutiu em toda imprensa nacional, e ficou conhecido como “Crime do Parque”.
 
Passados 62 anos do assassinato, a história de Delgado virou tema do livro "Paraíso das Maravilhas", lançado em 2013, escrito pelo doutor em literatura Luiz Morando.

“A sociedade reagiu da forma que reagiria uma sociedade moralista. Todos ficaram assustados como essa pessoa se envolveu com esse tipo de desvio”, conta Luiz em entrevista ao jornal Estado de Minas. Para ele, a narrativa resgata memórias silenciadas sobre “as mediações sociais conflituosas entre gays, polícia e sociedade mineira”.

Sete anos após o crime, a esposa do poeta Décio Escobar o acusou de ser o verdadeiro autor do brutal assassinato. Ele chegou a ser julgado, em 1954, mas acabou inocentado.

O crime do Parque Municipal jamais foi esclarecido. Na época, a polícia trabalhou com as hipóteses de crime passional, latrocínio e até crime comum.

2 - Encontros noturnos


Em uma época em que a homossexualidade era classificada como doença, os casais do mesmo sexo precisavam se esconder e namorar no escuro. Impedidos do livre exercício da sua sexualidade, homens homossexuais encontraram no Parque Municipal de BH um ponto de encontro e espaço de sociabilidade.

Casais caminhando pelo Parque Municipal
Ao anoitecer, casais do mesmo sexo utilizavam o local para namorar em uma época em que a homossexualidade era classificada como doença (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Os encontros aconteciam no bosque de eucaliptos, região que ficou conhecida como “Paraíso das Maravilhas” ou “Recanto das Maravilhas”. Por ser um local com menos circulação noturna, os namoros, em geral, eram marcados entre 20h e 23h30. Na época, o parque não era cercado por grades como conhecemos hoje.

“Não dá para saber ao certo como eles formaram essa rede. Mas, com base nos processos  acerca desse crime, conseguimos extrair elementos que explicam as representações sociais sobre a homossexualidade nessa época e como se dava esse campo de sociabilidade e interação afetiva”, afirma Luiz.

Por conta do tabu, os encontros, que muitas vezes tinham teor sexual, eram sigilosos e os homens criavam codinomes até mesmo para se proteger de possíveis escândalos, já que muitos eram personalidades importantes da sociedade.

“Esses homens tinham que ter um certo cuidado para andar no parque. Eles não se chamam pelo nome civil. Os pseudônimos eram, muitas vezes, até líricos, como “Pompom Grená” e “Perfume da Madrugada”, conta o autor do livro “Paraíso das Maravilhas”.

Apesar da discrição, ali eles também se tornavam alvos de criminosos que ameaçavam expor suas aventuras noturnas. “Tinham pessoas que iam assaltar. Eles eram vistos como presas fáceis, já que fariam de tudo para escapar de um escândalo que revelasse seus interesses amorosos”, revela Luiz.

Em 1946, o chamado  “Crime do Parque” expôs publicamente esse uso do espaço como ponto de encontro para casais homossexuais.

3 - Outros crimes no Parque Municipal


O assassinato de Delgado não foi o único crime ocorrido no Parque Municipal, apesar de ser o de maior destaque. Segundo Morando, outros dois delitos graves foram registrados no complexo entre as décadas de 40 e 60.

Em 1945, uma criança em situação de rua foi assassinada no parque. Ela vendia doces nas ruas da cidade e foi atraída por outros menores de idade, que queriam roubar seu dinheiro. “Não havia tanta segurança no parque, e por se tratar de uma criança de rua não houve uma grande comoção pela sua morte”, conta.

Em 1967, um estudante de filosofia matou um jogador de futebol amador com seis disparos de arma de fogo. A suspeita é de crime passional, já que o atleta não correspondia aos flertes do estudante. “Ele foi um dia armado para o parque, o que era muito fácil nessa época e algo relativamente comum”, comenta o escritor.

“O parque passa por intervalos de abandono. Há um constante ciclo reclamações da população. Por décadas, era visto como um local perigoso, sem policiamento”, conta Morando.

O prefeito Américo Renné Gianetti, que hoje dá nome ao parque, foi responsável pela primeira grande reforma do complexo, com o objetivo de reurbanizar o espaço. Àquela época, as alamedas receberam asfalto, os jardins foram restaurados, e uma "concha acústica", construída para apresentações ao ar livre.

4 - Grande extensão

 
A área do Parque Municipal já foi muito maior do que a que conhecemos hoje. Anos antes da inauguração do projeto, a área abrigava a Chácara Guilherme Vaz de Mello, conhecida como "Chácara do Sapo".  

Atualmente limitado entre as avenidas Afonso Pena e Andradas, e ruas Carandaí e Alameda Ezequiel Dias, o Parque Municipal chegou a ter cerca de 600 metros quadrados e se estendia até as avenidas Alfredo Balena, Francisco Sales e Assis Chateaubriand.

Com a urbanização da capital, o parque perdeu espaço para outras construções, como a Faculdade de Medicina, Palácio das Artes, entre outros. Hoje, o parque tem menos de 50% da área original, com 182 mil metros quadrados.

Por um bom tempo o parque esteve aberto no coração da cidade. As grades de ferro só voltaram a cercar o Parque Municipal em 1977, depois que ele já havia sido tombado pelo pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Antes de o Parque Municipal ser inaugurado, o local serviu como casa para o paisagista Paul Villon e para Aarão Reis, engenheiro-chefe da comissão contratada para planejar e construir a nova capital.

5 - História do futebol


O Parque Municipal também faz parte da história do futebol brasileiro.

Em 1908, um grupo de estudantes se reuniu no coreto do parque, local onde fundaram um time de futebol que se tornou o Clube Atlético Mineiro. No centenário do Galo, em 2008, foi instalada uma placa ao lado do coreto como homenagem aos fundadores.

6 - Aulas de arte


O renomado pintor brasileiro Alberto da Veiga Guignard, mais conhecido somente como Guignard, foi convidado, em 1944, para criar e dirigir um curso de desenho e pintura na recém-inaugurada Escola de Artes de Belo Horizonte.

Como a escola não tinha uma sede adequada, as aulas eram ministradas nos jardins do Parque Municipal. “Sob seu olhar atento, Guignard gostava de dar aulas em meio à paisagem, com os alunos pintando no Parque Municipal”, conta a crítica de arte Ana Moraes.

O mais antigo patrimônio ambiental de BH foi, inclusive, imortalizado nas pinturas do artista, mundialmente conhecido por retratar paisagens mineiras.

Além dessas incontáveis aulas, o espaço também já sediou outras tantas atividades esportivas e culturais. Há relatos de apresentações de piano ao ar livre na década de 40, bem como de jogos de futebol, peteca e até natação e remo.

Na década de 20, uma pista de patinação chegou a ser construída próximo às lagoas do parque.

7 - Adoção de gatos


Basta um passeio pelo Parque Municipal para notar os ilustres moradores do cartão-postal de BH. Há anos, o parque abriga centenas de gatinhos que desfilam pelo local, alguns mais amigáveis e outros mais ariscos.

Gato visto de perto em área de vegetação no Parque Municipal de Belo Horizonte
Há anos, o parque abriga centenas de gatinhos que desfilam pelo local, alguns mais amigáveis e outros mais ariscos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
A ONG ‘SOS gatinhos do parque’ é um grupo de voluntários responsável por cuidar desses bichanos. Eles oferecem comida, remédios, castração e vacinação para quase 300 felinos. Além disso, promovem uma feira de adoção dos gatos, todos os domingos, de 10h às 13h, no coreto do Parque Municipal.

Tem também o programa de apadrinhamento, em que uma pessoa doa um valor específico para os cuidados de um dos gatinhos. O grupo ainda combate o abandono dos bichos no parque.

“Os gatos estão ali porque foram abandonados, isso acontece diariamente. Nosso trabalho é uma forma de cuidar deles, castrando, alimentando e os preparando para a adoção”, afirma Simone Rocha, uma das voluntárias do projeto.

8 - Rede de distribuição de jacas


A quantidade de jacas penduradas nas árvores do Parque Municipal dá até água na boca daqueles que apreciam a fruta. Ao todo, o parque tem 28 jaqueiras e cada uma delas gera, em média, cem jacas por florada, durante os meses de janeiro, fevereiro e março.

Mas os frequentadores do parque não podem simplesmente pegar a fruta e levar para casa. Primeiro é preciso passar por uma lista de espera.

Isso mesmo! Como forma de garantir o acesso democrático para que todos possam se deliciar com a fruta, a administração do parque instituiu, há mais de vinte anos, um cadastro de interessados.

Guardas municipais, funcionários e até mesmo os vendedores ambulantes ajudam a vigiar os pés de jacas para evitar furtos de possíveis engraçadinhos.

A colheita é feita sempre às segundas-feiras, quando o parque está fechado. No dia seguinte, os interessados recebem uma ligação para buscar o tão aguardado alimento.

O cadastro é feito no prédio administrativo, no mesmo local onde os interessados buscam a fruta.

9 - Bar do parque


Na década de 40 até os anos 50, o coreto do Parque Municipal abrigava um bar, popularmente conhecido como “Bar do parque”. O estabelecimento funcionava dentro do porão da cobertura, sempre durante o dia.

O perfil dos frequentadores era variado. “Existia um movimento para movimentar a vida diurna do parque, e o bar era um deles. Era frequentado pela população mais comum, e pessoas que trabalham ali no entorno”, conta o doutor em literatura Luiz Morando.

10 - Zoológico


O Parque Municipal já abrigou o primeiro zoológico da cidade.

Desde o início do século passado, a Prefeitura de BH tinha a intenção de construir um zoológico na cidade. Inicialmente, seria em uma área próxima ao Palácio da Liberdade, onde hoje funciona o Minas Tênis Clube.

Depois, decidiu-se instalar o zoológico no Parque Municipal, iniciativa sempre protelada pela falta de verbas. Com o passar dos anos, conseguiu-se reunir no Parque um número considerável de animais, especialmente macacos, tucanos e papagaios.

Em 1925, o parque contava com jaguatiricas, porcos do mato, antas, capivaras, pacas, veados, cotias, macacos, raposas e uma onça vermelha grande, além de gaviões, araras, gansos, siriemas, inhapins, canários da terra, entre outros.

Além disso, o projeto original do parque previa um cassino, um restaurante e um observatório meteorológico, que não chegaram a ser construídos.


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