Jornal Estado de Minas

'CADÊ MEUS DIREITOS?'

Curso gratuito capacita familiares de pessoas presas na reivindicação de direitos

Estão abertas as inscrições da segunda edição do curso "Cadê meus direitos?”, parceria entre o Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto de Ciências Penais (ICP) e a Associação de Amigos e Familiares de Pessoas Privadas de Liberdade, que tem como objetivo levar informação sobre a reivindicação de direitos para familiares de pessoas em privação de liberdade. A iniciativa acontece entre os dias 25 de abril e 6 de junho e também conta com o apoio da Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT).





Na nova edição do "Cadê meus direitos?”, representantes do Ministério Público, Tribunal de Justiça, Polícia Civil e terceiro setor abordarão em sete aulas temas que geram dúvidas entre familiares de pessoas presas, como: execução de pena, indulto, canais de acesso à justiça, acesso recusado à unidade, body scan, doenças no cárcere e cuidado pessoal feminino. 

A coordenadora do curso, Ludmila Ribeiro, afirma que dessa vez o foco será maneiras de acessar a justiça para que haja a garantia dos direitos de pessoas privadas de liberdade. “Muitos familiares reclamam que a pessoa vai presa e eles não sabem nem por onde começar a buscar informações. Vamos ensinar, por meio das aulas, que órgãos buscar para saber o que aconteceu com a pessoa presa, em que momento está o processo criminal e se o familiar pode ser beneficiado com penas e medidas alternativas à prisão por meio de recursos ao poder judiciário”, afirma. 
 
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Contra à desinformação

Para elaborar as aulas, o curso realizou diagnóstico das principais dúvidas e necessidades dos familiares de pessoas privadas de liberdade a fim de combater a desinformação, que é um dos maiores entraves na garantia de direitos. Ludmila Ribeiro conta que muitas famílias, ao não saberem dos direitos dos seus parentes, ficam desorientadas e caem em promessas fáceis de advogados que só querem dinheiro. “O curso serve para apresentar as instituições que são responsáveis por garantir o direito de quem está na prisão e, ainda, quais mecanismos os próprios familiares podem mobilizar, como é o caso do habeas corpus, que pode ser feito por qualquer pessoa.”





A coordenadora da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas Privadas de Liberdade, Dona Tereza, também defende a importância do curso: “as aulas permitem que os familiares aprendam a como correr atrás dos seus direitos através do acesso à informação e se tornem capazes também de ajudar outras pessoas, como já aconteceu.”

Vitórias jurídicas

O "Cadê meus direitos?” trás da sua primeira edição algumas histórias de sucesso. Como é o caso da Miriã que, por meio de um habeas corpus redigido de próprio punho, conseguiu que o marido fosse libertado da unidade prisional onde cumpria pena provisória. Já Eclair Lídia, outra participante, conseguiu, a partir de um procedimento administrativo no Fórum de Belo Horizonte, reduzir em seis meses a pena do marido – uma parte da pena já havia sido cumprida e não estava sendo contabilizada. Há também o caso de Samanta que conseguiu contestar o levantamento da pena de seu irmão, que estava errado.
 
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Essas e outras histórias são um dos resultados positivos do curso, mas não o único, já que ele também ajudou na aproximação entre os representantes do sistema de justiça, que atuaram como professores convidados, com os familiares de pessoas presas. A promotora Cláudia Amaral, por exemplo, formou um grupo com os participantes de Uberlândia, em Minas Gerais, para ajudá-los a superar problemas que eles relataram no município.

Além disso, Dona Tereza afirma que o retorno é positivo. “A primeira fase foi tão bem sucedida que nessa segunda edição pessoas de outros estados além de Minas Gerais também se interessaram.” E também revela um dos principais objetivos do curso: “estamos há quatro anos sem ter um indulto no país, desejamos mudar isso através dessa capacitação.”
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor Diogo Finelli