O reajuste no preço da passagem de ônibus em Belo Horizonte não é uma dor de cabeça apenas para os usuários. Empregadores também estão preocupados com o impacto nos custos que o aumento vai provocar. Eles temem que será preciso repassar a alta para o consumidor e fazer cortes, o que pode incluir demissão de funcionários.
Neste domingo (23/4), o transporte coletivo na capital passou de R$ 4,50 para R$ 6 e provocou discussão nos pontos de ônibus e comércios do centro de BH.
O empresário Celso Andrade, de 60 anos, é dono de três lanchonetes no centro. Ao todo, ele emprega 30 funcionários e diz que o aumento da passagem vai refletir nos custos.
“O que tem de empresas quebrando. Estou aqui desde 1981. O centro acabou, morreu”, reclama. Segundo o empresário, ele terá que reajustar o preço de seus produtos e até reduzir o número de funcionários. “Vai afetar muito. Já não estamos dando conta de arcar com as despesas. Esses aumentos prejudicam ainda mais.”
A realidade é parecida em uma loja de roupas, também na Região do Hipercentro. A gerente do local, Daniele Almeida, de 28 anos, afirma que o aumento afeta os custos. “E, automaticamente, é preciso cortar. Esse corte, geralmente, começa pelos funcionários. O patrão vai segurando, mas uma hora precisa repassar os custos”, diz.
Ela diz que na loja, a maioria dos sete funcionários utiliza dois transportes para ir ao trabalho. A gerente também é usuária do transporte coletivo e acredita que, para o aumento ser válido, os passageiros deveriam ter mais conforto e segurança. Ela reclama dos assédios quando os veículos estão lotados. “Fora que chove mais dentro do ônibus do que fora. Já aconteceu de eu precisar abrir a sombrinha dentro dele.”
Impacto maior para famílias de baixa renda
O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead) da UFMG, Eduardo Antunes, afirma que o impacto do aumento da tarifa de ônibus é enorme, principalmente para famílias de baixa renda. “Ele causa um grande problema orçamentário para as famílias.”
Ele explica que no Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR), que acompanha
famílias com renda de um a cinco salários mínimos, a tarifa de ônibus é o item mais importante da lista de produtos que compõem a cesta de inflação. “Só o ônibus representa 7% de todo o gasto das famílias de baixa renda.”
O reajuste de 33,3% deve causar impacto não apenas para quem está empregado, mas também para pessoas que estão em busca de emprego, segundo Antunes. “Porque eles dependem do transporte urbano para se locomoverem. As pessoas acabam, de um certo modo, sendo impedidas de se deslocar com essa nova realidade do transporte público”, ressalta.
O economista destaca que as empresas também devem sofrer as consequências desse reajuste.
“Elas fazem um recolhimento na folha salarial dos funcionários, em relação ao vale transporte. Mas, com o aumento do preço, o impacto é muito grande para ser absorvido de uma maneira ou de outra. O salário não sobe na mesma proporção, o faturamento da empresa também não vai subir nesse montante de uma vez só.”
Os trabalhadores informais também devem ser muito atingidos, segundo o economista. “Uma diarista que vai fazer o seu trabalho do dia a dia. Como ela vai repassar isso para o tomador de serviço, neste momento.”
O aumento de preço dos produtos é outra possibilidade, diante do reajuste da tarifa de ônibus. “Até que ponto ele pode ser repassado e que isso gere uma perda menor, mas pode significar vendas menores também. É uma conta muito difícil de se fazer, no momento”, avalia.