Jornal Estado de Minas

CASO BEETHOVEN

Prefeitura de Ipatinga veta lei que obriga câmeras dentro de pet shops

A Prefeitura de Ipatinga, na Região do Vale do Aço, vetou a lei que previa a obrigatoriedade da instalação de câmeras de segurança em clínicas veterinárias, pet shops e outros estabelecimentos que prestam qualquer tipo de atendimento a animais domésticos. Em fevereiro deste ano, o texto foi aprovado por unanimidade pelos vereadores da Câmara Municipal da cidade.





Em sua decisão, o prefeito Gustavo Moraes Nunes (PL), afirmou que o projeto de lei é inconstitucional e não possui “interesse público”. Para o chefe do executivo, a proposta “fere, frontalmente, os direitos constitucionais de livre iniciativa, livre concorrência, liberdade do exercício das atividades econômicas”. 

proposta buscava garantir a segurança e o bem-estar de animais domésticos em estabelecimentos comerciais da cidade e foi escrita pela vereadora Professora Mariene (Patriota). De acordo com o Projeto de Lei nº 120/22, as câmeras devem ser instaladas e mantidas de forma que possa registrar, com imagem e som, o atendimento ao longo de toda a permanência do animal nas dependências do estabelecimento.

Nos serviços de banho e tosa, as câmeras devem estar dispostas de modo que o cliente possa acompanhar toda a prestação do serviço tanto presencialmente quanto pela internet. Além disso, as imagens capturadas devem ser armazenadas por um período mínimo de seis meses, sendo disponibilizadas ao cliente quando requisitadas.





texto foi proposto depois que o cãozinho Beethoven, da raça Shih tzu, perdeu um olho durante estadia em um pet shop para banho e tosa, como de costume, em junho do ano passado. Na época, a tutora Idamara Fernandes, disse que, de repente, recebeu uma ligação da clínica veterinária avisando que o cãozinho tinha perdido o olho, devido a um quadro de hemorragia. 

“Deixei-o na sexta-feira, 20 de maio, no pet shop. No sábado, por volta das 11h30, eu recebi uma ligação do médico veterinário que atendeu a urgência do Beethoven, dizendo que ele chegou lá na clínica ensanguentado, com quadro de hemorragia. Foi necessário retirar todo o seu globo ocular”, explicou a época dos fatos.

Idamara acrescentou ainda que, em nenhum momento, foi pedida autorização a ela para sedação e cirurgia do animal. “Muito menos foi me passado o real estado do Beethoven quando chegou à clínica”, disse.




 
Cachorro Beethoven, à esquerda imagem pós operatório em que perdeu o olho, e à direita, imagem antes do acidente (foto: Arquivo Pessoal/ Divulgação)
 

Retrocesso 

Em entrevista ao Estado de Minas, Idamara contou que ela e outras pessoas já entraram em contato com instituições de proteção animal para saber o que pode ser feito para garantir que os estabelecimentos que fazem atendimentos a pets tenham câmeras de segurança. Ela afirma que o projeto de lei voltou à Câmara Municipal de Ipatinga, mas não obteve votos necessários para que o veto do executivo fosse derrubado. 

“Estamos no Abril Laranja (mês de prevenção contra a crueldade animal). Cadê as políticas públicas? Ipatinga é intitulada cidade do futuro, mas não temos nenhum quando o assunto é proteção animal”, questionou a advogada e tutora de Beethoven. 
Idamara explica que, ao contrário do que alegou o prefeito Gustavo Moraes Nunes, o projeto não é inconstitucional já que as câmeras de vigilância interna seriam obrigatórias apenas nas áreas de banho e tosa e em locais onde os animais ficariam. “Essa lei já é uma realidade em outras cidades brasileiras. E ela pode acabar beneficiando o prestador de serviço, já que ele também pode conseguir provar que não houve um erro de procedimento."

Exemplos a serem seguidos 

Leis semelhantes à Beethoven, vetada em Ipatinga, já foram sancionadas em outras cidades brasileiras. É o caso de Ribeirão Preto (SP), Pouso Alegre - Sul de Minas, Cuiabá (MT), São José (SC), Florianópolis (SC) e Sorocaba (SP).