Buracos, falta de acessibilidade e acidentes. Os constantes problemas em uma rua do bairro Palmeiras, na região Oeste de Belo Horizonte, serviram de inspiração para um rapper mineiro criar uma música em protesto contra o descaso do poder público com a comunidade.
Leia Mais
Homem morre e outro fica ferido com tiros em bar de BHAdolescente é apreendido com duas espingardas em Campo BeloEmpresário de Divinópolis é preso por estelionato e falsidade ideológicaMoradores flagram carro fazendo drift na Praça Sete: 'Velozes e furiosos'Motorista de ônibus que caiu de ponte em MG dormiu no volanteCarnaval o ano todo? Após 2 meses, ruas de BH ainda exibem placas da foliaEm entrevista ao jornal Estado de Minas, ele conta que durante a gravação flagrou um carro quase capotando na rua. A cena, no entanto, não entrou no clipe. "Eu queria mostrar a realidade mesmo. Mas, para preservar a pessoa, tiramos essa parte. Ia parecer combinado, mas não foi", relatou.
A dificuldade de locomoção dos veículos e pedestres no local já faz parte da rotina da comunidade. Para complicar ainda mais, o trecho é íngreme e desnivelado. Além das crateras, o asfalto da via está quebrado e com pedras. Cautelosas, as pessoas descem a rua pé ante pé, com cuidado para não cair.
Enquanto conversava com o rapper, a reportagem do Estado de Minas presenciou dois moradores tropeçando por conta da ladeira acentuada. "É isso todo dia. Quem tem carro 1.0 passa aperto para subir aqui. As pessoas já perderam a esperança", reclama MC Gonne. "O acesso aqui é trágico. Entrega, nem lixeiro consegue vir aqui", completa.
Muito além dos transtornos, MC Gonne também denuncia o abandono do poder público. "Ali no Buritis, se aparece um buraco rapidamente é resolvido. Aqui é esquecido. Só se lembram de nós na hora de fazer campanha política", critica. A música, segundo ele, é uma forma de expressar e dar voz à revolta e indignação da comunidade.
O rapper destaca, ainda, a potência da representatividade negra na música. "Quero mostrar que o preto, favelado, consegue chamar a atenção por meio do trabalho e da arte. Não só matando, roubando, tacando fogo em tudo", pontua. "Não serve só para aqui. É um desabafo para qualquer outro lugar que está passando por algo igual ou pior", completa.
- Leia também: Passagem de ônibus de BH segue sem prazo para cair
Moradores reclamam de descaso
Localizado a menos de 700 metros da Avenida Aggeo Pio Sobrinho, uma das mais importantes do bairro Buritis, a própria comunidade teve que se unir para asfaltar o trecho, que antes era de terra e causava ainda mais problemas.
"Essa rua nós fizemos. Aqui era uma buraqueira, pior ainda. Cansamos de pedir para a prefeitura asfaltar, por fim, nós mesmos pedimos um caminhão para vir cá e despejar concreto", conta Efraim José da Cruz, de 52 anos, que mora no local há mais de 30 anos.
A iniciativa, porém, não foi suficiente para resolver o problema. Se antes o transtorno era o barro e a poeira, hoje as crateras e pedras tomam conta da rua. "Como é uma coisa improvisada, quando chove forte abrem muitos buracos, aumentando risco pra gente. E ficamos nesse ciclo: abre buraco, tapa buraco", relata Efraim.
"A gente nem mexe mais com prefeitura, eles não vêm", completa.
O medo de cair ao transitar na rua chega a ser o menor dos problemas da comunidade, que teme precisar de qualquer atendimento de saúde em tempos de chuva. "Se for uma emergência, já era. Já teve vez de estar chovendo e vizinho adoecer, não ter condições de subir com o carro. Ambulância também não passa", conta Efraim.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, mas, até a publicação desta matéria, não obteve nenhum retorno.