Uma data especial para receber aplausos dos brasileiros, merecer total atenção dos mineiros e, de forma especial, encher de orgulho os belo-horizontinos. O Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e reconhecido como Patrimônio Mundial, completa hoje 80 anos, com programação especial de longa duração. A abertura oficial será às 17h, com exposição na Casa do Baile. Formado por ícones e cartões-postais de BH – Igrejinha de São Francisco, que se tornou santuário, Museu de Arte (MAP), Casa do Baile e Iate –, o conjunto arquitetônico se encontra em região de grande crescimento, enfrentando desafios, a exemplo da poluição da lagoa, e buscando se firmar como polo atrativo para o turismo. A âncora desse objetivo está nos monumentos, pois, como define o arquiteto e professor Flávio Carsalade, “o conjunto moderno é a razão de ser da Pampulha”.
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Citando a relevância do Conjunto Moderno formado pelo MAP, Casa do Baile (atual Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design), Iate Tênis Clube e a Igrejinha, rebatizada de Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis da Pampulha, Rosa Amélia ainda se impressiona com o crescimento da região, que reúne 57 bairros, onde vivem 226,1 mil pessoas.
“Quando comecei a trabalhar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como desenhista de arquitetura, todo o entorno do câmpus era um deserto. Não tinha nada”, recorda-se Rosa Amélia, viúva, que tem dois enteados residentes na Austrália e nos EUA. “Estive aqui bem criança, e vejo como tudo mudou. Vale a pena essa visita”, comentou Lucilene, enquanto a filha, Kerolayne, vislumbrava a possibilidade de vir trabalhar na capital.
SAUDAÇÕES As oito décadas do conjunto moderno são saudadas por moradores e visitantes. Diante do Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis da Pampulha, a professora de geografia Marisa Roberta dos Santos, da Escola Municipal Milton Campos, no Bairro Mantiqueira, em Venda Nova, ressalta a importância dos ícones arquitetônicos, que, no caso da “Igrejinha”, além de Niemeyer, receberam marcas notáveis do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), do artista plástico Cândido Portinari (1903-1962), do escultor Alfredo Ceschiatti (1918-1989) e de Paulo Werneck (1903-1962), responsável, na parte externa, pelo revestimento em pastilha. Junto ao “valor universal excepcional”, considerado pelo Unesco, o conjunto da Pampulha é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte.
“Viemos com alunos de 10 e 11 anos, atualmente dedicados ao estudo dos espaços de BH. A Igrejinha e outros monumentos construídos na década de 1940 representam muito para a cidade, e a turma pesquisa também o adensamento urbano, o crescimento da região da Pampulha em oito décadas”, diz a professora. Perto dali, o advogado Cláudio Malta, residente em Maceió e curtindo as férias em BH, não se cansava de fazer fotos da igrejinha. “Estou na cidade pela primeira vez, e realmente fascinado com o conjunto da Pampulha, que só valoriza a cultura nacional”, disse o turista.
Também do Nordeste, dessa vez de Recife, o casal Henrique Araújo, professor e tradutor, e Pollyana Ramalho, empreendedora com atuação no setor de moda, celebrava, na sexta-feira, o aniversário dela, com passeio de bicicleta na orla. Procedentes do circuito das cidades históricas, os dois ficaram hospedados num hotel na Pampulha. “Esta é a segunda vez em BH e primeira neste lugar que transmite tranquilidade”, disse o marido. “É de grande beleza”, completou Pollyana, que não pôde visitar a Casa do Baile, por estar fechada.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o fechamento temporário da Casa do Baile, atual Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design, decorreu da montagem da exposição comemorativa dos 80 anos, que será aberta hoje, às 17h, “Lugar imaginado, lugar vivido: 80 anos da Casa do Baile”, já aberta ao público, com curadoria de Guilherme Wisnik e Marina Frúgoli. Para facilitar a vida de brasileiros e estrangeiros, a PBH vai implantar o Projeto Executivo da Sinalização Interpretativa Turística, atualizando e ampliando o atual sistema existente com o dos patrimônios da humanidade no Brasil.
Museu fechado para restauração
Muitos turistas dão com “o nariz na porta” ao chegar ao Museu de Arte da Pampulha (MAP) e encontrá-lo fechado, restando visitar os belos e bem-cuidados jardins planejados por Burle Marx e ver as esculturas de August Zamoyski, Alfredo Ceschiatti e Jose Pedrosa. A Prefeitura de Belo Horizonte informou, em nota, que, além do aniversário, comemora também a aprovação do Projeto básico de restauração/intervenção do edifício do MAP, pelos órgãos de proteção do patrimônio nas três instâncias, “importante passo que permitirá o desenvolvimento dos projetos executivos e, em seguida, a licitação para o início das obras de restauração”. E mais: “O projeto de restauração é altamente especializado e foi desenvolvido a partir de prospecções, pesquisas e análises técnicas de materiais e dos sistemas construtivos”.
Também ícone do conjunto moderno, o Iate Tênis Clube, particular, é alvo de uma pendenga, entre o Ministério Público e a PBH, que se arrasta há anos. O pomo da discórdia está no anexo, popularmente chamado de “puxadinho”, construído na década de 1970 sem autorização dos órgãos de defesa do patrimônio cultural. Sobre o impasse, a prefeitura informa que a diretoria do Iate apresentou estudo preliminar para a requalificação do edifício anexo ao clube, e, durante o processo de elaboração desse estudo, a equipe de consultoria contratada pelo Iate fez consulta aos órgãos de proteção do patrimônio cultural a fim de obter diretrizes de intervenções na área, “para que a proposta pudesse contribuir e se apresentar como uma solução de conciliação no litígio que envolve a requalificação da paisagem do Conjunto Moderno da Pampulha e a demolição do anexo”.
O estudo preliminar foi previamente analisado pelas equipes técnicas dos órgãos e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Municipal de BH, os quais consideraram que a proposta apresentada tem méritos e é relevante. Em nota, a PBH informou que o estudo preliminar será enviado pelo Iphan ao Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, para avaliação. “Importante ressaltar que o referido estudo preliminar não se enquadra como um projeto arquitetônico executivo. Esse, caso venha a ser elaborado no futuro, deverá passar pela aprovação dos órgãos de patrimônio nacionais e da Unesco.”