Em 2023, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atendeu, em média, 33 vítimas de acidentes de moto por dia em Belo Horizonte. O número de mortes, por sua vez, ficou em 15, cinco por mês. Os dados do Samu, divulgados pela Prefeitura Municipal (PBH), compreendem os quatro primeiros meses do ano. Os de óbitos, da Sejusp/MG, são de janeiro a março.
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O Corpo de Bombeiros (CBMMG), por sua vez, atendeu 157 ocorrências de acidentes de moto em BH, nos dois primeiros meses de 2023, ou seja, 78,5 a cada 30 dias. Em 2022, foram 771 atendimentos, média de 64 por mês.
É importante ressaltar que diferentes órgãos atuam em acidentes de trânsito, portanto cada um deles possui um banco de dados independente em relação às ocorrências.
Casos recorrentes
Tais números são ilustrados por acidentes que ocorrem sistematicamente, tirando a vida de pessoas nas estradas. Neste mês de maio, um motociclista morreu após cair da moto e ser atropelado por uma carreta logo depois, na altura do km 503 da BR-381, em Betim, na Grande BH.
Em abril, duas mulheres morreram em acidente envolvendo uma moto e uma carreta, no Km 8 da BR-040, no sentido BH, no Bairro Guanabara, em Contagem. No mês de fevereiro, dois homens morreram em um acidente de moto na Avenida Cristiano Machado, bairro Planalto, Região Norte de Belo Horizonte.
Minas Gerais
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a corporação atendeu, nos dois primeiros meses de 2023, 1.766 ocorrências do tipo, 30 por dia, em Minas Gerais. O número de óbitos ficou em 39. Ou seja, a cada um dia e meio uma pessoa morreu em decorrência de acidente de moto no estado.
Em 2022, o CBMMG registrou 12.843 acidentes envolvendo motocicletas no ano de 2022 em Minas, uma média diária de 37. Foram 201 mortes, o que significa um óbito a cada dois dias.
Já a Sejusp registrou 161 mortes em acidentes de moto nos três primeiros meses de 2023, em Minas Gerais. São 1,7 mortes por dia. Em 2022, foram 855 óbitos durante o ano, uma média de 2,3 a cada 24 horas.
Vulnerabilidade
Edson Ribeiro, de 28 anos, é morador do bairro Baronesa, em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, e trabalha como motoboy há dois anos, desde que foi demitido de seu último emprego. Ele já sofreu três acidentes de moto. Duas vezes foi acertado por um carro, e na terceira bateu em uma mureta. “Eu já quebrei o tornozelo direito, onde tive que fazer cirurgia, o dedo polegar da mão direita, e na última eu lesionei o joelho direito, mas não quebrei nem precisei de cirurgia, só um tempo sem movimentar a perna”.
Ele contou que os acidentes impactaram financeiramente em sua vida. “Eu não tinha INSS, ou seguro de vida, nada para me amparar. Nas três vezes as dívidas se acumularam, meu nome foi para o SPC, virou um bolo que dura até hoje. Fora isso, só as marcas, cicatrizes, mas nenhuma sequela física grave”.
Após os acidentes, Edson afirmou que passou a ter receio no trânsito e prestar “o triplo de atenção”. “Sinto que a moto é muito vulnerável, e que os motoristas de carro, na grande maioria, não são bem instruídos sobre procedimentos obrigatórios que fazem a diferença para a segurança nas estradas. BH tem um trânsito muito caótico, principalmente nos horários de pico e nos fins de semanas”.
Por fim, apesar de afirmar entender os riscos, o motoboy afirmou que não tem condições de adotar outro meio de transporte e trabalho. “Principalmente por questão financeira. É complicado conseguir um emprego que remunere de forma parecida como o de motoboy”.
Prevenção
O Hospital João XXIII atendeu, nos dois primeiros meses de 2023, 828 feridos em acidentes de moto, 14 por dia. A média se mantém próxima dos atendimentos em todo o ano de 2022, que foram de 4.715, o que representa 13 motociclistas hospitalizados diariamente.
“A maioria dos acidentes de moto, em qualquer lugar, são leves, mas no João XXIII, a proporção é um pouco diferente, porque os feridos mais leves costumam ir para as UPAs”, explicou Rodrigo Muzzi, gerente médico do Complexo de Urgência e Emergência da Fhemig, do qual o João XXIII faz parte.
Rodrigo explicou que os acidentes de moto são classificados em leves, moderados ou graves, e que, normalmente, o primeiro tipo é muito mais comum nas unidades de saúde. Só que no João XXIII, os de gravidade média têm a mesma incidência do que os mais simples.
O uso do capacete também foi citado por Muzzi. O item de segurança obrigatório muitas vezes é ignorado pelos motociclistas. Em janeiro, um casal morreu num acidente entre uma motocicleta e um carro de passeio, na MG-010, trevo de Jaboticatubas, na RMBH. Elas estavam sem o equipamento.
“Os graves que chegam no João XXIII são mais comuns em motos do que em outros meios de transporte, por causa da própria estrutura da motocicleta, que não tem proteção. Num acidente em alta velocidade de moto, a energia vai toda ou quase toda no motociclista, o que resulta em lesões mais graves. De lesões de tórax e abdômem graves até lesões cranianas, que podem levar o paciente a falecer ou ter sequelas graves a longo prazo, principalmente se não usar capacete”, disse Rodrigo.
Recursos
Rodrigo Muzzi explicou que os acidentes de motocicleta são a segunda causa mais comum de atendimentos de traumas no João XXIII, perdendo apenas para quedas. Segundo ele, esse tipo de ocorrência demanda muitos recursos, de trabalho e financeiros. O médico explicou que a prevenção é a melhor amiga do motociclista.
“O motociclista tem que ter consciência que a gravidade do acidente dele é maior que com outros veículos. Uma colisão entre uma moto e um carro, o motociclista vai sair perdendo, sempre. Mesmo que ele esteja com todos os cuidados possíveis, acontece. O motociclista tem que andar sempre em velocidade permitida ou até um pouco mais devagar, tomando mais cuidado. Não pode praticar nenhum tipo de imprudência”, alertou Muzzi.
“Se dirigir embriagado é proibido, o motociclista então não pode nem sentar na moto se tiver, porque ela pode cair sozinha e causar uma fratura. E usar o máximo de proteção possível. Capacete, blusa comprida de couro ou de algum material resistente e calça, para evitar lesões mais leves”, orientou o médico.
Trauma
Bruno Augusto Rocha, de 30 anos, é coordenador de clínica e morador do bairro Florença, em Ribeirão das Neves, na RMBH. Ele conta que é motociclista há mais de dez anos e que sofreu alguns acidentes, em sua maioria simples, mas dois deles foram graves. “Isso é corriqueiro na vida do motociclista”, afirma.
De acordo com o motociclista, seus dois acidentes mais graves aconteceram no Anel Rodoviário. “Num deles quase perdi minha vida. Bati na traseira de um carro que parou bruscamente, voei e fui parar debaixo de um caminhão. O cara que provocou o acidente simplesmente foi embora”, contou. “No outro bati numa pedra e quebrei a bacia, machuquei a coluna, o fêmur. Me deixou de cadeira de rodas por 20 dias, fui para a UTI”, acrescentou Bruno.
Ele conta que os acidentes impactaram muito a sua vida, profissionalmente, pessoalmente e psicologicamente, mas que hoje voltou a pilotar. “Tenho sequelas, dói até hoje onde foi quebrado. Foi um grande trauma na minha vida”.
Bruno ressaltou que um dos problemas enfrentados pelo motociclista é que por mais que se tome precauções, a imprudência de outros motoristas pode ser fatal. “Eu tenho medo de andar de moto, sou muito mais receoso e cuidadoso. Ainda assim tenho muita insegurança de ficar andando. Os motoristas não olham no retrovisor, não esperam para entrar após dar seta. As pessoas deveriam ter esse cuidado”.
Por fim, Rocha afirmou que o trânsito em Belo Horizonte é muito perigoso para os motociclistas e destacou que, apesar de tudo, a moto tem um papel positivo em sua vida. “É muito cheio, pessoas sempre com pressa, estressadas. Não é um lugar seguro. Ainda assim eu continuo andando porque me deixa feliz, dá uma liberdade emocional. Espero que nunca ocorra nenhum acidente novamente, porque eu amo andar de moto, me fascina, sem contar que é econômico, confortável e rápido”.