Todos os anos, em 16 de maio, no Brasil é comemorado o Dia do Gari e para homenagear esses profissionais de extrema importância para o funcionamento das cidades, a reportagem do Estado de Minas conversou com o gari em atividade mais antigo de Belo Horizonte.
Raimundo Coelho da Silva, de 65 anos, trabalha como gari há 44 anos na capital mineira e conta que iniciou na profissão ao deixar o antigo emprego porque a proposta de trabalho como gari era muito mais vantajosa. Seu irmão já atuava na área da limpeza urbana na cidade.
"Eu trabalhava em uma multinacional, em 1977, 78, e tinha um irmão que trabalhava na limpeza urbana. E ele falou comigo que aqui [na limpeza urbana] pagava melhor. Então, vim para a limpeza urbana. Por exemplo, se eu ganhasse três salários lá [antigo emprego], na limpeza urbana, eu ganhava seis", explicou.
Seu Raimundo justifica que à época em que começou a trabalhar como gari, poucas pessoas queriam ingressar nesse emprego. "A profissão era o último emprego do mundo."
Quando começou na limpeza urbana, seu Raimundo atuava na coleta de lixo nas ruas, correndo atrás do caminhão. Ele relatou à reportagem que atuou na função durante cerca de 20 anos e enfatizou o peso dessa rotina diária.
"Quando você está na coleta de lixo, ela é um trabalho mais corrido, um trabalho que tem que ter força para correr atrás do caminhão. Muita disposição, porque o serviço é penoso. Na época, quando trabalhava na Floresta, Santa Tereza, Sagrada Família, [...], creio que nós fazíamos o Bairro Santa Tereza todinho, com uns 20, 25km", ressaltou.
No entanto, seu Raimundo destacou que, com o decorrer do tempo, ele foi se acostumando com a rotina e levando o dia de trabalho com leveza.
"Todo trabalho, você tem que fazer com muito amor e carinho. Você vai se acostumando com as coisas. No decorrer do tempo, você leva aquilo como uma brincadeira. Porque você sai brincando com todo mundo, você sai sorrindo com as pessoas, as pessoas te cumprimentando", completou.
De lá pra cá, seu Raimundo descreve que a rotina permanece a mesma, mas com outras áreas de atuação. Atualmente, ele trabalha na coleta de lixo nos becos de vilas, locais em que os caminhões não conseguem acessar, colocando nas ruas onde esses veículos passam recolhendo os resíduos.
"A rotina não muda muito, não. A gente continua sendo o mesmo gari, fazendo o mesmo trabalho, mas em locais diferentes. Para essa coleta de vilas, nós saímos aqui do setor [no bairro Pompeia] e daqui, nós vamos lá para o Alto Vera Cruz, onde temos um local onde ficam os carrinhos [de coleta] guardados. A gente faz a coleta e coloca na rua principal, onde o caminhão passa", explicou.
Do preconceito ao respeito pela profissão
Quando perguntado sobre quais são as lembranças que ele tem dos anos na profissão, seu Raimundo deixa evidente o preconceito com o ofício de gari.
"Antigamente, o gari era considerado igual a um pacote de lixo. Ninguém, naquela época, queria trabalhar de gari. Você pedia água nas casas, a pessoa tirava água da torneira e dava no copo de vidro para você e ela mandava jogar o copo de vidro fora. A gente passava nos colégios, e falavam 'Cheiroso, cheiroso'. Então, era assim naquela época", lembrou.
No entanto, seu Raimundo salienta a mudança de postura das pessoas para com os profissionais que trabalham com a limpeza urbana e coleta de lixo. Em sua visão, atualmente, há mais respeito com os garis.
"Hoje, as pessoas respeitam os profissionais, porque vejo hoje um gari como um profissional de saúde, um agente de saúde. 'Você já imaginou se não existisse um gari e essas ruas ficassem 15, 20 dias sem limpar? O quanto teria de doença?'", destacou.
Por fim, seu Raimundo deixou uma mensagem em homenagem a essa data especial, salientando a importância da categoria, faça chuva, sol, frio ou calor.
"Nós somos guerreiros e guerreiras do dia a dia com sol ou com chuva, nós estamos presentes. A gente agradece à população por esse carinho que tem com a gente. Que Deus abençoe nossos familiares, os familiares deles e que a sociedade tenha mais consciência, porque lixo não se joga na rua e precisa de uma consciência melhor para que a gente viva melhor, que a gente cuide da nossa cidade melhor", finalizou.
*Estagiário sob supervisão