Uma cadela diagnosticada com Leishmaniose Visceral Canina (LVC) luta para sobreviver. Pretinha morou por quatro anos nas ruas de Congonhas e, diagnosticada com a doença, a solução encontrada pela Unidade de Vigilância de Zoonoses da prefeitura de Congonhas foi a eutanásia.
O caso da cadela Pretinha é um alerta sobre a falta de pesquisas sobre as vacinas contra a Leishmaniose Visceral Canina. Um Projeto de Lei tramita no Congresso desde 2018, enquanto pesquisas sobre um imunizante eficaz e outras medidas sanitárias em universidades aguardam por investimentos.
O procedimento da eutanásia que leva à morte do animal não foi aceito pela mantenedora comunitária, Claudia Guerra, que assinou um termo de compromisso e assumiu o tratamento da doença. A cadela aguarda por um tutor permanente enquanto vive provisoriamente com moradores do bairro.
“Ficamos sabendo que a Pretinha passaria pela eutanásia no dia 3 de maio e, desde então, venho recolhendo dinheiro para os custos do tratamento da doença. Já gastei R$ 1.613 com a medicação e uma coleira específica para o tratamento da doença”.
Em busca de um lar
A servidora pública conta que a prefeitura não fornece o medicamento Milteforan, indicado para o tratamento da Leishmaniose Visceral e que após a medicação, a cadelinha ainda precisará de outro tratamento. Por ser um animal sem um tutor permanente, corre o risco de passar pela eutanásia.
“A Pretinha precisará de passar por cuidados e exames ao longo da vida para a redução do parasita em seu organismo e por isso, precisa de um tutor responsável que acompanhe o caso dela”.
Em Congonhas, o que é feito anualmente são testes rápidos para detectarem a doença nos animais que, se comprovada, passam pela eutanásia.
Leishmaniose no país
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não existe comprovação de cura da leishmaniose visceral canina e os medicamentos disponíveis apenas aliviam os sinais da doença e melhoram a qualidade de vida dos cães infectados.
Ainda segundo a Fiocruz, a leishmaniose visceral não é transmitida pelo contato direto entre cão e humano e o tratamento medicamentoso do cão não está disponível atualmente no serviço público.
Conforme o Ministério da Saúde, atualmente existe uma vacina anti leishmaniose visceral canina em comercialização no Brasil. Os resultados do estudo apresentado pelo laboratório produtor da vacina atenderam às exigências da Instrução Normativa Interministerial n° 31 de 09 de julho de 2007, o que resultou na manutenção de seu registro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Porém, ainda não existem estudos que comprovem a efetividade do uso dessa vacina na redução da incidência da leishmaniose visceral em humanos.
Diante disso, o professor de Parasitologia Clínica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Alexandre Barbosa Reis, explica que para o Ministério da Saúde considerar a vacina como finalidade de saúde pública coletiva, e assim ter uma Campanha Nacional de Vacinação, é importante que o imunizante proteja os cães de se infectar e consequentemente retirar deles a condição de reservatório, diminuindo o risco de pessoas adoecerem.
Em relação à eutanásia, o parasitologista afirma que a comunidade científica não quer manter essa medida, mas considera arriscado tratar os cães apenas com medicamentos.
“Este é um dos procedimentos que infelizmente ainda é utilizado como uma medida para minimizar o risco de crianças, idosos e pessoas imunossuprimidas e/ou mesmo adultos saudáveis que convivem próximos aos cães infectados possam se infectar, já que estes agem como reservatório do parasita para os insetos transmissores”.
Falta de pesquisa
Está tramitando no Congresso um Projeto de Lei que pretende tornar obrigatória a vacinação anual de animais contra a Leishmaniose em todo o país, porém a aprovação está parada, desde 2018, porque faltam pesquisas que evidenciem a eficácia da vacinação na saúde pública.
O parasitologista, Alexandre Barbosa Reis, afirma que faltam incentivos às pesquisas nessa área em todo o país e na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) diversos projetos estão parados desde 2016.
“Precisamos retomar com investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação para que pesquisas que estão interrompidas desde 2016 retornem e possam gerar novas vacinas, tratamentos e outras medidas que impeçam a infecção canina e humana. O nosso grupo não consegue dar continuidade aos estudos das nossas vacinas, nem dos tratamentos como a vacinoterapia que demonstra ser altamente eficazes”.
Sobre o Projeto de Lei, o professor acredita que a proposta apresentada no Congresso entra em uma seara sanitária e não apenas política.
“Tenha certeza que quando for demonstrado que ao vacinar cães reduz a prevalência e incidência da infecção Canina e humana de Leishmaniose Visceral, o Ministério da Saúde vai incorporar vacinas no Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral no Brasil”.