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Estado de Minas UM RIO MELHOR

Expedição pelo Rio Pará chama atenção para conservação do curso d'água

Estado de Minas acompanha expedição que visa preservar o rio que sofre com esgoto e assoreamento


20/05/2023 07:30 - atualizado 20/05/2023 07:37
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Barco da 'Expedição Rio Pará
Barco da "Expedição Rio Pará: Esse rio é meu" navega na sua foz nas águas do Velho Chico, em Martinho Campos e Pompéu (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
 

Pompéu e Martinho Campos - Das baixadas de Martinho Campos e Pompéu, no Centro-Oeste de Minas Gerais, as águas claras de leito arenoso do Rio Pará avançam lentas e largas, mergulhando em foz em um Rio São Francisco agitado, barrento, entre corredeiras de pedras que arrastam troncos e galhos. Juntos, se aplacam e se misturam entre a Ilha do Pontal, somando forças para vencer o sertão depois de 365 quilômetros do Rio Pará desde a Serra das Vertentes, em Resende Costa, onde nasce o manancial, até a foz do São Francisco, em Penedo (AL). Trajeto que aventureiros, cientistas, ambientalistas e defensores do manancial percorreram vencendo curvas e rápidos do quarto maior afluente da bacia do Velho chico em Minas, com o objetivo de chamar a atenção para a sua conservação na “Expedição Rio Pará: Esse rio é meu”, promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará (CBH do Rio Pará).
 
A reportagem do Estado de Minas acompanha a saga dos desbravadores desde a nascente, no dia 8 de maio, registrando, inclusive, a nascente, que não tinha imagens oficiais nem no CBH. Foram 2 mil quilômetros percorridos na bacia que congrega 34 municípios e 900 mil habitantes.
 
“A expedição superou as nossas expectativas em todos os pontos, mas, principalmente, porque descobrimos, contactamos e nos unimos a muita gente que quer trabalhar pelo bem do Rio Pará, mas que estava dispersa, não tinha uma unidade e o CBH do Rio Pará pode e deve ser um ponto de união desses interesses pelo rio”, disse o presidente do CBH do Rio Pará, José Hermano de Oliveira Franco. “Não vamos resolver todos os problemas, mas estamos conhecendo mais e ao longo de uma jornada vamos ter um rio melhor para todos”, espera.
 
Os desafios são inúmeros. Como a reportagem mostrou, trata-se de um rio que sofre com descargas de esgotos, assoreamento e desmatamento. De acordo com o Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), do segundo semestre de 2022, das seis estações de monitoramento instaladas no manancial, três extrapolam o nível mais crítico de tolerância a poluentes da legislação brasileira (classe 3 de pureza), sendo que todos os postos de medição apresentaram parâmetros dentro do pior patamar aceito, sobretudo para esgotos (coliformes) e fósforo.
 
A situação dos afluentes também foi exposta, muitos deles contendo metais pesados maléficos para a saúde humana. O pior afluente do Rio Pará é o Córrego Buriti ou Pinto que flui pelo território de São Gonçalo do Pará recebendo descargas industriais tóxicas de chumbo, fenóis e ferro acima dos índices da classe 3. Ao todo, o curso d’água estreito e rápido que corta a cidade e o campo em direção ao Rio Pará concentrou sete violações de parâmetros acima da classe 3 e quatro dentro desse índice.

Outro grave problema é o desmatamento. Levantamentos feitos pela reportagem indicam que uma área de 85 hectares (ha) do Rio Pará que daria quase três parques municipais Américo Reneé Giannetti, no Centro de Belo Horizonte, deixou de ser mata ciliar e se transformou em cinzas, plantação ou eucaliptos.
 
A conclusão foi tirada a partir de informações de satélites compilados pela Organização Não-Governamental World Forest Watch, de 2017 a 2021, levando-se em conta margens de 50 metros de cada lado do rio. O espaço dá uma ideia de como o desmatamento afeta o manancial que é o quarto maior contribuinte do Rio São Francisco em Minas Gerais, mas é subestimada, já que onde o rio é mais largo, acima de 50 metros, essas margens protegidas devem ser de 100 metros.

Viagem

A expedição passou por 11 municípios dos 36 que formam a bacia, percorrendo desde Resende Costa, na nascente, e passando por Itaguara, Pará de Minas, Carmo do Cajuru, Divinópolis, Itaúna, Cláudio, Pitangui, Conceição do Pará, Bom Despacho, Martinho Campo e Pompéu.
 
Um dos membros mais antigos do CBH do Rio Pará é o conselheiro José Dirino Arruda, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Martinho Campos. “Minha vida inteira, mais de 60 anos, foram vendo o rio chegar ao São Francisco na foz. A expedição me levou ao lugar onde nasce e contou essa história a todos. me emocionou. Fiquei feliz de ver onde a água nasce, mas muito triste de sentir cheiro de esgoto em Divinópolis e Itaúna. Todos merecem um rio saudável e uma vida saudável”, disse, bastante emocionado, pouco antes de cruzar as águas da foz do Pará.
 
A foz do Rio Pará no Rio São Francisco impressiona por resumir estados que o manancial enfrenta ao longo do ano. “Nas chuvas, a gente aqui no fim do rio fica pedindo para que se segure as águas, porque a inundação é muito forte. na seca, rezamos para que venha mais água. Na seca, a ilha vira até pasto para o gado. Hoje, só se passa de barco”, afirma o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Pompéu, Paulo Henrique de Souza Lino. “Para Pompéu o Pará é fundamental. Nos serve 70% da água que bebemos, sem falar do pescado e do agronegócio, dos pivôs de milho, soja e feijão”,
conta.
 
Ações para preservar a bacia hidrográfica
 
Entre as atividades que o CBH Pará levou às comunidades por onde passou divulgando a importância do Rio Pará, ocorreram encontros com escolas, prefeituras, serviços de abastecimento e saneamento. Em Pará de Minas, os expedicionários encontraram com a Comissão Gestora Local (CGL) da bacia hidrográfica do Ribeirão Paciência, uma das duas bacias no território do Rio Pará onde foi declarado conflito pelo uso da água, ou seja, há muitos usuários das águas e uma escassez de oferta do manancial para as várias atividades que dele dependem. Por isso os usos devem seguir regulações e limites mais severos do que em outros cursos d ‘água.
 
Em Carmo do Cajuru, onde se destaca a represa de Cajuru, a expedição pode conhecer experiências como o Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água da Bacia do Ribeirão do Sapé (Agência Peixe Vivo), o Programa Produtor de Águas do Ribeirão do Empanturrado (ANA) e também práticas sustentáveis em propriedades rurais e resultados (Emater).
 
Na cidade de Divinópolis, a equipe do Comitê promoveu uma análise da qualidade da água do Rio Itapecerica, um dos mais importantes afluentes do Rio Pará, na Praça Candidés. Em Cláudio, conheceram as ações do Projeto Sou Semente e do Programa de Educação Ambiental (PROGEA), pelo município, e do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água da Bacia do Rio Pará, do Comitê, que tem a microbacia do Ribeirão dos Custódios, como uma das três beneficiadas em todo o território.
 
A expedição foi ao distrito de Velho da Taipa, na divisa entre Pitangui e Conceição do Pará, local histórico, onde viveu um dos fundadores de Pitangui, Antônio Rodrigues Velho, neto de João Ramalho, um aventureiro que é das figuras mais importantes do início da colonização do Brasil, chegando em 1510. Sua linhagem pode ser considerada precursora dos bandeirantes.
 
No município de Bom Despacho, foi promovida uma Roda de Conversa com a Comissão Gestora Local (CGL) da Bacia Hidrográfica do Rio Picão. A bacia é a segunda do território do Rio Pará onde foi declarado conflito pelo uso da água. Um dos focos em Martinho Campos é a Reserva Indígena Kaxixó. A expedição conheceu mais da cultura do povo Kaxixó, por meio de uma roda de conversa, rituais e manifestações culturais, e apresentações de alunos da Escola Estadual Indígena Caxixó Taoca Sergia.

*Enviado especial
 
 


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