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Estado de Minas JORNADA ILUMINADA PELA FÉ

Estado de Minas viaja com peregrinos para cidade natal de Padre Eustáquio

O Estado de Minas acompanhou viagem de peregrinos à Europa em cidades onde viveu Padre Eustáquio, cuja morte completa 80 anos em agosto


21/05/2023 07:40 - atualizado 21/05/2023 09:49
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Grupo de peregrinas que saiu de Patrocínio, no Alto Paranaíba, para conhecer mais sobre o legado do religioso que morou duas décadas no Brasil (foto: Gustavo Werneck/EM/D.A PRESS)

Uma jornada iluminada pela fé, sempre permeada de encantamento e com mergulhos profundos na cultura. Em peregrinação ao longo de estradas coloridas pelos campos de tulipa, floridos na primavera, um grupo de 26 mineiros de Belo Horizonte e Patrocínio, na Região do Alto Paranaíba, conheceu com os olhos e o coração as terras europeias onde nasceu e viveu o Beato Padre Eustáquio, cujo falecimento completará 80 anos em 30 de agosto. 
 
Nascido Hubbertus van Lieshout, em 1890, em Aarle-Rixtel, no Sul da Holanda, e sepultado em Belo Horizonte em 1943, Padre Eustáquio – em processo de canonização, mas já considerado “santo” por uma legião de devotos –, viveu quase duas décadas no Brasil, com ação pastoral e social em cidades paulistas e mineiras e dedicação aos pobres e enfermos. Muitas graças e bênçãos, alcançadas por intercessão dele, são registradas em Poá (SP), Romaria, Patrocínio e Belo Horizonte, onde, por sinal, ocorreu o milagre de cura reconhecido pelo Vaticano para a beatificação.  

“Seu lema era Saúde e Paz, e a grande inspiração, o belga São Damião de Molokai (1840-1889), que cuidou de leprosos desprovidos de assistência material e espiritual, na ilha Molokai, no Havaí”, destaca o padre Vinícius Maciel, da Congregação dos Sagrados Corações (a mesma do beato e do santo), vice-postulador da causa de canonização e reitor do Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, mais conhecido como Igreja Padre Eustáquio, em BH. Assim, os peregrinos visitaram também, na Bélgica, as cidades de Lovaina, onde São Damião está sepultado, e Tremelo, onde nasceu, e onde Padre Eustáquio fez o noviciado.
 
Já em Paris, na Igreja Saint-Sulpice, os mineiros assistiram à beatificação de cinco mártires, sendo quatro da Congregação dos Sagrados Corações e um da Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo. Eles foram fuzilados em 26 de maio de 1871, durante o sangrento desfecho da Comuna de Paris.
 
O Estado de Minas acompanhou, durante duas semanas, o passo a passo dessa viagem, na qual não faltaram emoção, alegria, e, claro, muitas histórias para contar e guardar na memória “Fortaleci ainda mais minha fé, podendo ver o encontro de culturas diferentes”, contou a médica Isabella Romão, de 31 anos, residente em Patrocínio.     

Aarle-Rixtel, Holanda - Aqui nasceu Padre Eustáquio. Em Aarle-Rixtel, no Sul da Holanda, ainda existe, e muito bem preservada nas mãos de descendentes, a casa de fachada com tijolinhos à vista, que pertenceu ao fazendeiro Wilhelmus van Liesout (1850-1924) e Elisabeth van de Maulenhof (1859-1931). Desde pequeno, Hubbertus (Humberto, em português), o oitavo dos 11 filhos do casal, desejava se tornar sacerdote, recebendo, ao ingressar no Seminário Menor da Congregação dos Sagrados Corações (SSCC), o nome de Eustáquio.
 
Diante da casa, que guarda uma placa com o retrato de Padre Eustáquio, um misto de comoção, afeto e intimidade tomou conta do grupo de mineiros. “Só de estar aqui na terra de Padre Eustáquio, a quem tenho tanta devoção, já vale esta viagem à Europa. Estou realmente feliz, pois ele sempre foi meu confidente, meu amigo, alguém que me acompanha”, disse a enfermeira aposentada Betty Ramos Pereira, de 82 anos, natural de Santa Bárbara, na Região Central de Minas, e moradora de BH.
 
A exemplo de Betty, os demais visitantes deixaram a emoção falar mais alto pelos olhos, a voz e o coração. “Ao percorrer os caminhos do Padre Eustáquio, fortaleço minha fé e a crença de que devemos nos preocupar com todos, e não apenas conosco”, afirmou o engenheiro e professor Juscelino Ribeiro de Moura, nascido e criado em Romaria, antiga Água Suja – “primeira cidade onde Padre Eustáquio morou em Minas Gerais”, conforme destacou. Desde criança, Juscelino, que mora em São Paulo, é viúvo e tem um filho de 22 anos, esteve próximo dos padres holandeses que vieram trabalhar na Região do Alto Paranaíba.
 
Atento a todos os detalhes do patrimônio cultural, das nuances da paisagem e da natureza humana, o superior provincial da SSCC no Brasil e no Paraguai, padre Osvânio Humberto Mariano, mineiro de Guimarânia, perto de Patrocínio, declarou com sabedoria, ao pisar em Aarle-Rixtel e lembrar da trajetória de Padre Eustáquio: “Conhecendo as raízes de uma pessoa, do seu povo e da sua cultura, entendemos melhor o significado do seu despojamento missionário. Valorizamos sua missão, seu ardor missionário. Ele saiu do meio rural, do interior da Holanda, e se instalou no interior mineiro. Partindo para além-mar, rumo ao desconhecido, desempenhou a ação evangelizadora e fez seu caminho. O ardor missionário é ação do Espírito Santo”, contou o padre.

EM FESTA


Aarle-Rixtel, com cerca de 5 mil habitantes, forma o município de LaarBeek juntamente com Laardonk, Beek en Donk, Maria Hout e Lieshout, havendo um único prefeito para as quatro localidades. Pois foi o prefeito Frank van der Meijden, ao lado de assessores, do pároco local e de dois sobrinhos de Padre Eustáquio, Will van den Boomen e Jan van den Boomen, quem recebeu os peregrinos brasileiros. A acolhida se deu no adro da Igreja São Miguel, onde, na praça lateral, fica a estátua do beato, com dois metros de altura. Inaugurado em setembro de 2021, o monumento informa que Eustachius van Lieshout nasceu em Aarle-Rixtel e faleceu em Belo Horizonte.
 
Quando estacionou o ônibus dos peregrinos, com todos vestindo a “camisa de Padre Eustáquio”, já estava à espera a comitiva municipal, com alguns brasileiros residentes na cidade segurando a bandeira verde-amarela. Numa placa, dando as boas-vindas, a frase escrita em holandês “Welkom Aarle-Rixtel” (Bem-vindo a Aarle-Rixtel).
 
À frente do grupo, padre Vinícius Maciel, da SSCC, vice-postulador da causa de canonização e reitor do Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, fez os agradecimentos em inglês, e falou da alegria de estar na terra de Padre Eustáquio. Saudando os recém-chegados, o prefeito enalteceu os laços entre os dois povos, apoiou o processo de canonização e presenteou cada um dos peregrinos com os tamanquinhos de madeira, símbolo da Holanda.
 
Antes de entrar na igreja, os brasileiros assistiram à apresentação de uma irmandade, com roupas típicas, surgida na Idade Média e em cena apenas em ocasiões solenes. Carregando bandeiras, eles abriram as portas da cultura local – e ninguém conseguiu despregar os olhos do início ao fim. Vendo a estátua do bem-aventurado Padre Eustáquio, nesse clima de integração entre culturas, a professora, museóloga e bibliotecária Maria Ângela Querino Ianhez, de BH, se mostrou feliz. “Vim aqui apenas para agradecer. Acredito em milagres e, para mim, Padre Eustáquio é santo”.
 
Nessa interação, foi fundamental a presença, entre os peregrinos, do holandês Hans Hendrikx, de 79, professor de geografia residente no Brasil desde 1966. “Nasci em Eindhoven, a cerca de 20 quilômetros de Aarle-Rixtel. Tenho grande admiração pela história de Padre Eustáquio, e acredito que ele será canonizado, sobretudo por todas suas ações em favor de quem sofre”, disse Hans Hendrikx, morador de BH. Sempre com o astral nas alturas, ele repetia que, hoje, prefere as montanhas de Minas Gerais às planícies cortadas por canais da Holanda.

FÉ E HARMONIA


Após a recepção na frente da Igreja São Miguel, que teve cobertura da imprensa, inclusive emissora de televisão, o grupo seguiu para o interior do templo – ali está a pia na qual Padre Eustáquio foi batizado. Os sobrinhos do beato, que programam a vinda a BH para as homenagens em 30 de agosto, demonstraram sua satisfação com a visita e o fervor ao beato, num momento em que o mundo vê, com horror, a guerra na Ucrânia. “Ele pregava a harmonia, e é nisso que devemos pensar”, disse Jan van den Boomen, enquanto Will van den Boomen, de 80, lembrava os bons exemplos das obras social e espiritual do tio em Romaria e Patrocínio, atendendo aos pobres, desamparados e pessoas que estavam sofrendo.
 
Os brasileiros residentes em Aarle-Rixtel foram perfeitos anfitriões, ajudando como intérpretes e falando da saudade do Brasil. Casada com holandês e residente há 32 anos no país europeu, a paraense de Belém Zely van Nistelrooij explicou que Padre Eustáquio está sendo mais divulgado na Holanda. “Faço parte, com outros católicos, da comunidade Nossa Aparecida de Handel e contamos sua história.”
 
A acolhida se completou com uma refeição num restaurante ao lado de um mosteiro, que abriga 40 refugiados ucranianos – no jardim interno, as religiosas cultivam tulipas de várias cores. Ao final da refeição, os sobrinhos Jan e Will ofereceram presentes: velas de madeira com a figura do tio e pedras do local onde ele nasceu. Também como parte da visita, os peregrinos estiveram no Cemitério de Dokter Timmerslaan, onde se encontra o túmulo da família van Lieshout.
 
Admirando as flores do jardim do mosteiro, a advogada e servidora pública federal aposentada, Magda Carvalho Godinho, moradora do Bairro Prado, na Região Noroeste de BH, abriu o coração: “Em cada momento, mantenho a fé em Deus, pedindo graças para minha família, para meus filhos. Longe de casa, nesta viagem, encontro beleza, conheço lugares inesquecíveis e fico sabendo mais dessa trajetória maravilhosa de Padre Eustáquio, de quem sou devota”.



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