Santana do Riacho – As mãos juntas recolhendo as pernas e o sorriso amistoso sob o chapéu são marcas das boas-vindas que a estátua do Juquinha dá aos viajantes que chegam à Serra do Cipó. Neste distrito de Santana do Riacho, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, o monumento que por 36 anos alegrou turistas retratando a simplicidade de um dos personagens populares mais famosos da região agora clama silenciosamente por socorro.
São visíveis e generalizados os danos que a escultura sofreu com o passar dos anos e a falta de manutenção, incluindo ataques de vândalos. Um projeto de restauração foi aprovado nas leis de incentivo à cultura federais, mas ainda precisa de um patrocinador e de um ajuste entre o poder público e a comunidade. Enquanto isso, a figura gigantesca do simpático ermitão que povoa o imaginário de moradores e turistas vai se degradando em silêncio.
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Agora, a estátua é que precisa de acolhida. A escultura do Juquinha já perdeu o dedão da mão direita; uma fenda se abriu em uma das pernas, enquanto as beiradas do chapéu se quebraram. Nos braços, há buracos com mais de um dedo de largura e profundidade. O paletó também exibe avarias e trincas.
Sob ação do tempo, até uma pichação feita há 10 anos nas costas da estátua começou a perder a cor preta, embora ainda destoe da obra de arte, que tem toda sua superfície com trincas e rachaduras generalizadas. Em algumas partes dos braços e pernas, os vergalhões de aço que dão forma à estrutura já estão expostos e enferrujando.
“O Juquinha é um símbolo da Serra do Cipó, mas está abandonado pelo poder público. Estão deixando ele se acabar, o que é um desrespeito e uma covardia. A gente até tenta ajudar, recolhe o lixo que as pessoas deixam, tenta manter as coisas limpas, mas tinha de haver mais cuidado”, queixa-se Dilceu Moreira da Silva, administrador de um restaurante que é vizinho ao monumento. “Depois de restaurar, ainda seria preciso ter investimento, com placas, iluminação para as pessoas fazerem fotos à noite, lixeiras. Já teve gente que foi parar em Conceição do Mato Dentro tentando achar o Juquinha, mas passou direto por ele. Por isso, precisava ter sinalização”, constata.
O grito da artista
A estátua foi feita em 1987 pela artista plástica Virgínia Ferreira, sob encomenda dos então prefeitos de Morro do Pilar e de Conceição do Mato Dentro. De acordo com ela, a falta de cuidados pode comprometer o monumento de forma grave. “É uma tristeza imaginar que a cada dia que passa a estátua perde um pedaço, uma trinca se abre e a obra vai se perdendo. É um personagem que é símbolo da serra, por onde se anda naquelas terras tem uma lembrança do Juquinha. As pessoas gostam dele, tiram fotos e fazem poses”, observa. “A estátua do Juquinha precisa ser reformada, e com urgência”, alerta.
Mas a autora da obra tem também o que pode ser a solução para o Juquinha voltar à sua forma inicial, que vem encantando turistas ao longo de décadas. “Estou com um projeto de restauração aprovado do Ministério da Cultura, em dezembro de 2022. Só não saiu ainda porque não tem ainda um patrocinador. Quem patrocinar vai poder descontar os gastos no Imposto de Renda e ainda expor sua marca”, afirma Virgínia.
Segundo ela, a restauração seria uma obra com cerca de dois meses de duração, com a necessidade de contratação de 15 pessoas. “Seria preciso fazer aplicação de fungicida, trocar as ferragens deterioradas, fazer a recomposição da estrutura e da forma, limpeza minuciosa, acabamento e aplicação de proteção. É um projeto caro, porque as condições são ruins no local onde fica a estátua. Precisaria abrir uma tenda, hotel ou pensão para as pessoas, transporte, alimentação, gerador de energia elétrica, andaimes e muito mais”, enumera a artista plástica.
Histórias de uma lenda
O personagem que se tornou popular na Serra do Cipó sob a alcunha de Juquinha se chamava José Patrício, e morreu em 1983. Há muitas histórias e lendas atribuídas a ele. Moradores e frequentadores diziam que se alimentava de escorpiões e que já havia sido picado por mais de 100 cobras. Outra história contada sobre o andarilho dá conta de que tinha uma doença rara e que, por isso, perdeu a pulsação em uma noite. Chegou a ser velado, mas acordou
dentro do caixão.