Bem ao lado do Palácio da Liberdade, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, está um dos mais imponentes e conhecidos prédios de Belo Horizonte. De grande elegância no nome, condizente com as linhas arquitetônicas que remetem aos primeiros tempos da capital, o Palacete Dantas vai ter agora uma destinação ainda mais nobre em sua história, iniciada em 1915. Restaurado e aberto à população, vai receber exposições, eventos, e se tornará um espaço para artistas pobres da periferia da capital, carentes também de oportunidades.
A iniciativa é do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que vai restaurar o imóvel em estilo eclético de influência neoclássica com dinheiro recuperado de ações conduzidas pela instituição, informa o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior. Sem esconder o entusiasmo, ele anuncia: “O Palacete Dantas é uma das peças que compõem o conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade, e, restaurado, será devolvido a Belo Horizonte, a Minas e ao Brasil. Vamos preservar um bem de rara referência”.
O procurador-geral de Justiça reconhece o custo alto do restauro, com necessidade de grandes obras em todo o edifício, que, mesmo sem uso, mantém sua beleza. “O importante é que será aberto à população, com intervenções executadas com dinheiro do povo, que foi recuperado”, acrescenta Jarbas. O espaço será também usado para atividades abertas aos moradores e promovidas pelo MPMG, que vai ao disponibilizar peças do seu acervo.
EXPOSIÇÕES
Pertencente ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), o Palacete Dantas, tombado pelo estado e município, foi transferido pelo órgão do patrimônio ao MPMG. “É uma iniciativa muito importante, pois se trata de um prédio remanescente do início de BH, que, aberto como espaço de exposições, compõe o conjunto Circuito Liberdade”, diz o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira. “Ele tem marchetaria (incrustações em madeira) no piso, algo que não é comum na capital, e pinturas parietais (feitas diretamente sobre parede)”, acrescenta o secretário.
Exemplar das primeiras residências privadas nobres de BH, o palacete teve projeto de 1915 do italiano Luiz Olivieri – o ano seguinte (1916) está gravado no portão de ferro. No livro “Casa Nobre – Significado dos modos de morar nas primeiras décadas de Belo Horizonte”, organizado por Celina Borges Lemos e Karla Bilharinho Guerra, há explicação para o tipo de construção.
“A terminologia palacete vincula-se à ideia de valorização da família e suas gerações integradas à nobre aristocracia urbana, que se traduz na arquitetura de habitação luxuosa e ampla. Construída por seu proprietário, o engenheiro José Dantas, tem valor simbólico agregado, devido à proximidade do Palácio da Liberdade”, diz trecho da obra.
A implantação, concebida por Olivieri, dialoga, segundo as especialistas, com o traçado diagonal da Avenida Cristóvão Colombo, sendo que a fachada lateral esquerda, disposta no alinhamento da via, que circunda a praça, conduz ao avarandado do acesso principal, com detalhes ornamentais sofisticados situados nos encontros entre as vias públicas.
Já a fachada direita entra pelo terreno, se expande para o jardim e acompanha o declive da avenida. “O movimento artístico do ecletismo atribui refinamento à construção, pautada pela elegância e notoriedade na paisagem”, registraram as autoras do livro “Casa Nobre”.
MATERIAL
Moradores e visitantes que passam pela Avenida Cristóvão Colombo podem contemplar o imóvel com sua cúpula de material metálico ornamentado e finalizado “por uma crista estilizada à moda francesa”, conforme Celina Borges Lemos e Karla Bilharinho Guerra. “Em relação aos materiais construtivos e de acabamento, o palacete abriga os elaborados em alvenaria, pedra, argamassa e possíveis vigas metálicas.”
A restauração do imóvel, com posterior uso pela população, vai abrir portas para que todos conheçam o requinte da escada metálica com guarda-corpo valorizado pelos desenhos inspirados no movimento artístico “art nouveau”, a marcenaria primorosa verificada nas vedações das janelas, com bandeiras de madeira e vidro, os forros dos salões do segundo andar, os parquets, nos setores sociais e íntimos da casa, e os ladrilhos hidráulicos.
Vale lembrar que, em maio de 2015, um mosaico de marchetaria pertencente ao Palacete Dantas foi devolvido de forma espontânea ao MPMG. Na sequência, a peça foi entregue ao Iepha.