Sem médicos para preencher a escala de plantões da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, um plano de contingência foi apresentado pelo Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (IBRAPP) – empresa responsável pela gestão. O documento foi enviado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) alterando o formato de atendimento até o dia 23 de junho.
Por 15 dias, a contar do dia 9 de junho, os pacientes serão atendidos pelo clínico-geral e encaminhados a especialistas (cirurgia/pediatra/ortopedista) quando necessário e solicitado pelo clínico assistente do caso. A mudança irá acarretar na demora dos atendimentos que já chegam a mais de cinco horas de espera.
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Atualmente são aplicados três valores para plantões de 12 horas: R$ 1,1 mil de segunda a sexta; R$ 1,2 mil sábado e domingo durante o dia e R$ 1,3 mil para sexta, sábado e domingo à noite.
Para tentar preencher as escalas, segundo a empresa, foram oferecidos R$ 2,8 mil por plantão, mesmo assim, sem sucesso.
Superlotação
A UPA está operando com lotação máxima. A sobrecarga, que reflete nos profissionais, é outro problema apontado pela gestora. Entre sexta (9/6) e domingo (11/6) foram realizados 870 atendimentos, a maior parte (629) de pacientes que poderiam ser acolhidos por Unidades Básicas de Saúde. Os outros 241 eram classificados como urgência, muito urgente e emergência.
“A UPA é uma instituição de porta aberta voltada para os atendimentos de urgência e emergência”, afirma o IBRAPP.
A orientação é para que esses pacientes não urgentes procurem os postos de saúde mais próximo de casa, sendo que sete deles funcionam até as 22hs. A população que está com síndrome gripal leve pode procurar também o Ambulatório da Gripe, montado na Policlínica.
Além disso, há a superlotação. Para se ter ideia, até as 17h30 desta segunda-feira (12/6), havia 42 pessoas aguardando vagas em hospitais. O serviço é de responsabilidade da Central de Regulação por meio do SUS-Fácil.
Sem deliberação do conselho
Embora já em prática, o plano de contingência não foi apresentado ao Conselho Municipal de Saúde para deliberação. Na semana passada, uma reunião foi realizada na UPA com a participação do prefeito Gleidson Azevedo (PSC) e da vice-prefeita Janete Aparecida, com a presença também do presidente da entidade Guilherme Lacerda.
“Saí de lá com um combinado de entregarem até sexta-feira (9/6) orçamentos que comprovem os valores de mercados (plantões médicos) para reajustar esse contrato e com o combinado de pautar uma reunião extraordinária para aprovar ou não essa proposta. Até agora não tive nenhum pedido”, afirmou.
A ausência do plano foi questionada, inclusive, segundo Lacerda, por ele, mediante o aumento de casos de dengue, síndrome respiratória e riscos, por exemplo, de acidentes com grandes proporções que podem demandar a unidade como suporte.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a prefeitura de Divinópolis, porém não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Audiência Pública
Polo da macrorregião Oeste de Saúde, os gargalos enfrentados em Divinópolis e o impacto para os demais municípios serão debatidos, nesta terça-feira (13/6), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Só a UPA é porta de entrada para seis cidades: Carmo do Cajuru, Perdigão, São Sebastião do Oeste, São Gonçalo do Pará, Araújos, além de Divinópolis.
A audiência pública será realizada a pedido da deputada estadual Lohanna França (PV). Dentre os pontos, será discutida, por exemplo, a ausência do Plano Municipal de Saúde.
A falta do documento que traça as metas e estratégias resultou na instauração de procedimento preparatório pelo Ministério Público de Contas de Minas Gerais. A prefeitura tem até o fim deste mês para dar explicações.
Ausência de médicos no município também foi indagada pelo procurador.
*Amanda Quintiliano especial para o EM