Uma equipe da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte (GCMBH) esteve, na manhã desta quarta-feira (14/6), na Rua Rio Doce, quase esquina da Avenida do Contorno, no Bairro São Lucas, Zona Leste da capital, para averiguar a situação do morador em situação de rua Anderson Luciano Pereira, de 52 anos, que ocupou, indevidamente, uma guarita usada por limpadores de rua, transformando-a em sua casa. Além disso, demarcou três vagas de estacionamento.
Um amontoado de bugigangas, um carrinho de supermercado e alguns vasos de plantas estavam em volta da guarita, transformada em residência. É lá, também, onde Anderson Luciano dorme, na parte interna do espaço, que teve a porta arrombada por ele.
A Guarda Municipal de Belo Horizonte esteve no local e fez um levantamento da situação. As informações serão repassadas para a Subsecretaria de Fiscalização da prefeitura de Belo Horizonte, que deverá tomar providências sobre a situação.
Abandono e medo
Anderson Luciano, com a presença dos guardas civis municipais, estava mais calmo e acabou contando o drama de sua vida. "Eu não tenho nem pai, nem mãe, nem irmã ou irmão. Não tenho para onde ir".
Ele afirma que tencionava ficar morando ali na Rua Rio Doce. "Eu queria ficar aqui, cuidando da rua. Desde que cheguei, não acontecem mais roubos. Eu afugentei os ladrões. Ali tem uma clínica de psicologia, para crianças. Os pais chegam aqui e não encontram lugar para estacionar. Essa era a minha intenção quando marquei a rua. Era para os pais terem vaga."
Anderson Luciano diz que o seu maior problema era a falta de água, mas que graças a um morador das proximidades, ele tem um balde por dia. "Com essa água, eu tomo banho, sempre à noite, e lavo a minha roupa, depois a penduro nessa árvore."
Disse que tem planos, naquele local. "Eu queria plantar arroz, aqui", diz apontando para um buraco onde está plantada uma árvore. Fala que esse arroz seria para ele comer.
Conta também um pouco de seu passado. "Eu já fui ladrão. Roubei muito. Mas paguei tudo, e hoje, graças a Deus, estou livre desse meu passado. Só quero ajudar."
E fala de seus medos, do que não quer passar. "Tenho medo de me tirarem daqui e me levarem para um asilo. Não quero. Lá é tudo bagunçado. E as pessoas que lá estão, a maioria, são drogados, criminosos. Não quero esse convívio".
E tem um medo maior. "Não quero nem passar perto da Lagoinha. Lá, a miséria é muito grande. São pessoas desesperadas e a criminalidade é grande. Não quero isso pra mim. Não gosto nem de pensar. Poderia alguém me ajudar, conseguir um cantinho, como esse aqui."
E filosofa: "As pessoas têm de pensar em si, não nos outros"