A prisão do pastor Moisés Barbosa Ferreira Costa trouxe alívio e sensação de justiça para as vítimas feitas por ele ao longo dos últimos 13 anos. Moisés foi preso na última quarta-feira (21/6) após uma operação da Polícia Civil em Belo Horizonte. Ele era conhecido por ser ex-presidente do Fórum de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes de Minas Gerais (Fevcamg).
E era esse título que o então pastor utilizava para enganar as suas vítimas. Em sua casa, os policiais encontraram medalhas e homenagens pelo suposto combate de Moisés contra a violência infantojuvenil. A reportagem do Estado de Minas conversou com duas vítimas do homem, dois jovens que atualmente possuem 23 e 24 anos, que contaram seus relatos. Os nomes não serão divulgados na matéria.
O primeiro jovem relatou como começaram os casos de assédio. Além de ser pastor na igreja Igreja Batista Unidade e Fé, que fica no bairro Sagrada Família, Região Leste de BH, Moisés também trabalhava em um circo. Ele aproveitava a situação para atrair as crianças. “Ele me convidou para participar do circo e lá ele começou a me convidar para ir para a igreja, conhecer. Ele sabia que minha família era religiosa e me incentivou a ir”, disse.
Na época, a vítima tinha apenas 13 anos. Mesmo sabendo disso, Moisés teria convidado o adolescente para ir até sua casa e forjado uma situação para cometer os abusos.
“Ele subiu em cima de mim, começou a fazer massagem. Tirou minha roupa e passou a mão nas minhas partes íntimas. Me senti incomodado, tentei sair da situação e ele continuou. Para tentar despistar, ele deitou ao meu lado e começou a fazer elogios. Inventei uma história e consegui sair da casa dele. Comigo não chegou a acontecer o ato sexual, ao contrário de outras pessoas”, contou o rapaz.
A vítima contou que os abusos continuaram por mais quatro anos. A mesma situação ocorreu com outro rapaz ouvido pela reportagem. Ele chegou a se mudar para Portugal para tentar recomeçar a vida. “Quando tudo começou eu tinha 14 anos e durou até os 18. Me mudei para Portugal, queria esquecer um pouco desses problemas porque eu morava a uns cinco minutos da casa dele e tinha medo de ver alguém da família dele ou ele na rua”, disse.
Perfil manipulador
Por se apresentar como um suposto defensor do combate à violência sexual, Moisés aproveitava para ameaçar suas vítimas. Além disso, ele manipulava as situações de assédio para não ser descoberto.
“Nunca vi uma pessoa tão manipuladora quanto ele. É inacreditável. Ele manipulava a situação, não só as pessoas. Ele criava uma rede de proteção. Ele sempre mostrava a sua influência e afirmava que não ia dar em nada. Meu sentimento é que fui enganado, invadido no meu físico e psicologicamente. A ponto de acreditar que o abuso era normal”, relatou uma das vítimas.
O perfil foi confirmado pela Polícia Civil. Segundo a delegada Thais Degani, responsável pela investigação, os títulos adquiridos por Moisés eram usados para enganar pais e vítimas.
“É uma pessoa bem vista na sociedade, por autoridades e diversos órgãos. Além de ser um líder religioso. Ele defendia a causa contra a pedofilia, participava de debates e fundou fóruns contra a pedofilia. Ele se colocava numa posição muito importante de combate a violência. Ele falava que ninguém acreditaria nas vítimas, por ser um líder religioso e lutar contra a pedofilia”, contou durante coletiva na última quarta.
Alívio para as vítimas
Agora preso, Moisés vai responder por estupro de vulnerável e aliciamento de menores. Outros crimes podem ser identificados com o andar das investigações.
As vítimas relatam estar aliviadas após todos os anos e esperam que a justiça seja feita. “Muito feliz e aliviado com o que aconteceu. Saber que outras pessoas não serão abusadas”.