Uma das manifestações folclóricas mais antigas de Minas Gerais, realizadas há quase dois séculos, as Festas de Agosto, de Montes Claros, no Norte de Minas, têm como astros os grupos de catopês, marujos e caboclinhos, trabalhadores comuns. Ao longo dos anos, eles enfrentaram dificuldades financeiras para a compra de roupas, instrumentos musicais e outras despesas. Neste ano o problema foi superado graças a uma doação.
Os dançantes das Festas de Agosto receberam R$ 300 mil para a aquisição de vestimentas, instrumentos musicais e outros materiais, doados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Oriundos de indenizações obtidas em ações civis públicas e acordos judiciais e foram doados pelo MPMH por meio do projeto da plataforma Semente, que recebe verbas de compensações e multas e destina o dinheiro para ações como preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural.
A doação foi feita pelo MPMG a partir de uma iniciativa do Conselho de Veneráveis das Lojas Maçônicas do Norte de Minas (Convenorte), com a interveniência da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino Superior Norte de Minas (Fadenor), que auxilia as atividades da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A fundação ficou responsável por receber a verba e fazer a prestação de contas.
Em solenidade realizada na reitoria da Unimontes, neste mês, a Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros prestou uma homenagem ao procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Junior, em agradecimento pela doação para os grupos folclóricos. Soares Junior, que nasceu na cidade-polo do Norte de Minas, foi coroado pelo presidente da associação, João Pimenta dos Santos Junior, o mestre Zanza Júnior, com um penacho dos catopês, com fitas coloridas e penas de pavão. O ritual simbolizou a coroação como “Imperador do Divino Espírito Santo”.
Trata-se da maior honraria conferida pelos grupos das Festas de Agosto, que já foi concedida ao escritor e senador Darcy Ribeiro (1922-1997,natural de Montes Claros) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O mestre Zanza Junior disse que a coroação como “imperador do Divino”, feita com o penacho, é cheia de significados no ritual dos catopês. “As penas de pavão representam o Divino e o seu olhar para o ser humano e para as pessoas de bem. Já as fitas do penacho simbolizam o colorido, a alegria e as boas coisas”, explica.
“Resultado será um grande esplendor”, diz mestre
“Os recursos doados pelo Ministério Público Estadual vão proporcionar uma nova roupagem para os grupos de catopês, marujos e caboclinhos nas Festas de Agosto deste ano, pois, nunca tivemos uma doação de tal dimensão”, afirma o líder dos grupos folclóricos.
“O resultado da doação será um grande esplendor, que nunca ocorreu anteriormente. Teremos como consequência um produto cultural com a alegria do povo nas ruas”, declara Zanza Junior, que sucedeu o pai, João Pimenta dos Santos, o mestre Zanza, figura ícone da tradição, morto em 25 de outubro de 2021, aos 88 anos – ele era catopê desde os cinco anos de idade.
Manifestação surgiu desde 1839
As Festas de Agosto têm como o seu primeiro registro histórico em 1839, portanto, há 184 anos, ainda antes da emancipação do município de Montes Claros, que se chamava"Arraial das Formigas – os festejos deixaram se realizados em 2020 e 2021 por causa da pandemia da Covid-19.
Neste ano, as manifestações estão marcadas para o período de 16 a 20 de agosto, com a previsão de envolver cerca de 500 dançantes de seis grupos de catopês (semelhante aos congados de outras regiões, com raíz na cultura dos negros), marujos (de origem portuguesa) e caboclinhos (representação indígena).
Mantendo a tradição, eles vão invadir as ruas centrais da cidade, com alegria dos seus cantos som dos seus instrumentos o colorido de suas vestimentas. Conforme o mestre Zanza Junior, os grupos já estão realizando os ensaios para os desfiles e apresentações. Durante ass festas acontecem os cortejos dedicados à Nossa Senhora do Rosário, a São Benedito (reinados) e ao Divino Espírito Santo (império).
O presidente da Associação de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros ressalta que já estão sendo providenciadas as compras das novas roupas e outros materiais que serão usados pelos grupos folclóricos na edição dos festejos de 2023.
Segundo ele, estão sendo adquiridos tambores, violas, violões e pandeiros. “São esses instrumentos que que dão sonoridade ás festas”, enfatiza.
Zanza Junior relata que, além de roupas, o dinheiro destinado pelo Ministério Público Estadual está aplicado ainda na compra de outros elementos usados pelos “astros” das Festas de Agosto como penachos (catopés), chapéus (marujos) e cocás (caboclinhos).