Serra da Saudade, em Minas Gerais, foi oficializada no Censo 2023 como a menor cidade do Brasil em número de habitantes. O município fica na região Centro-Oeste do estado e, conforme o levantamento, tem 833 habitantes, 18 a mais que o registrado na contagem oficial anterior, realizada em 2010.
Quem decidir visitar Serra da Saudade precisa se preparar. Se for de carro, olhos no medidor do tanque do painel e atenção na contagem de quilômetros. Por lá não existe posto de combustível. O mais próximo está a 17 quilômetros, no município vizinho de Estrela do Indaiá. Da capital, Belo Horizonte, são 270 quilômetros.
Ao chegar, o carro se torna desnecessário. O percurso mais longo que se pode fazer na cidade, diretamente de um ponto a outro, é de 900 metros, entre o parque de exposições e o campo de futebol.
Não há hotéis ou hospedagens em Serra da Saudade.
As cidades mais próximas que tem esse tipo de serviço são, além de Estrela do Indaiá, são Dores do Indaiá, a 40 quilômetros, e Luz, a 60 quilômetros. O posto de saúde do município é bem estruturado, com médico e outros profissionais de saúde em atendimento constante.
Não há hospital. Partos, internações e procedimentos mais complexos precisam ser realizados em outras cidades.E também não tem farmácia. Essa é a principal reclamação da moradora Daiana Andrade Oliveira, 34.
"É preciso manter um estoque de remédios em casa. Tenho para tudo. Gripe, dor de cabeça, alergia", conta. Fora isso, Daiane diz ser uma cidade ótima para morar. "É excelente para criar filhos", diz. A mulher é casada e ainda não é mãe.
As aulas terminam às 13h e Daiana leva os alunos de volta para casa, encerrando a jornada às 15h30. Roda, por dia, 158 quilômetros. Se o turista for católico e quiser ir à missa, a visita a Serra da Saudade tem que coincidir com um domingo.
A celebração acontece somente neste dia da semana, às 17h30, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a única católica na cidade. O responsável pela igreja é o padre Geraldo Agostinho, 57, da paróquia de Estrela do Indaiá, à qual pertence Serra da Saudade.
"Conheço todos pelo nome", diz o religioso, sobre os cerca de 50 fiéis da cidade que não faltam às missas.
Padre Geraldo, porém, mantém uma rotina que envolve ao menos mais uma visita à cidade por semana, para tratar de assuntos da comunidade. Assume, no entanto, que a população local não dá muito trabalho.
"É um povo muito bom. Raramente há um problema familiar ou uma discussão em bar", diz o religioso, que tem 23 anos de sacerdócio e assumiu a igreja local há dois anos. Padre Geraldo foi uma das poucas lideranças da cidade que se dispôs a conversar com a reportagem.
A assessoria do prefeito Alaor José Machado (PP) disse que o chefe do Poder Executivo local prefere não falar com a imprensa. Uma das últimas vezes em que conversou com um repórter foi em seu mandato anterior, durante polêmica sobre a possibilidade de fusão de municípios, que chegou a ser defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Economia e história
A maior parte dos trabalhadores de Serra da Saudade é formada por funcionários do poder público. Ou seja, servidores da prefeitura e da câmara municipal. Segundo os dados mais recentes do Sebrae, divulgados em 2021, 63,5% da mão de obra da cidade está neste setor.
Em segundo lugar estão a agricultura e pecuária, com 32,6%. Serra da Saudade era um distrito de Dores do Indaiá que virou município em 1963. Seu nome vem da serra que o cerca. O distrito surgiu das doações de terrenos por fazendeiros da região para construção da igreja e de uma estação de estrada de ferro que tinha como destino final o município de Paracatu, no noroeste de Minas.
A ferrovia, porém, foi desativada em 1969. Houve ainda venda de lotes dos proprietários das fazendas para produtores, que iniciaram negócios na região como a fabricação de fubá, segundo informações da prefeitura da cidade.