Jornal Estado de Minas

INVESTIGAÇÃO EM CURSO

MG: quem é o delegado suspeito de integrar quadrilha que movimentou R$ 1 bi

O delegado da Polícia Civil em Juiz de Fora Rafael Gomes — que teve a liberdade provisória concedida nessa quarta-feira (28/6) pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) após ficar pouco mais de oito meses preso — atuava no município da Zona da Mata mineira como titular da Delegacia Especializada de Narcóticos. Ele é suspeito de integrar um grupo criminoso que pode ter movimentado cerca de R$ 1 bilhão por meio de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, roubo, receptação, entre outros crimes. 




 
Apesar dos canais oficiais de divulgação à imprensa da Polícia Civil, Gomes, natural do município de Ubá, divulgava paralelamente em grupos de WhatsApp as operações lideradas por ele. Em diversos vídeos, o delegado aparecia mostrando os “bastidores” da operação policial, o que lhe conferiu certa fama. Em abril de 2022, ele foi homenageado pela Câmara Municipal com uma moção de aplausos em decorrência de uma operação que resultou na prisão de quatro suspeitos de tráfico de drogas.
 
Além do trabalho policial, Rafael Gomes concorreu ao cargo de deputado estadual, nas eleições de 2022, filiado ao Avante. Ele recebeu 8.448 votos, ficando, deste modo, como suplente do partido.
 
Hoje, afastado do cargo, o delegado deixou a Casa de Custódia da Polícia Civil, em Belo Horizonte, onde estava preso desde 20 de outubro de 2022, por volta das 21h, nessa quarta-feira, conforme informado ao EM pelo advogado de defesa Luiz Eduardo Lima. Também procurada pela reportagem, a assessoria da instituição policial confirmou, em nota, que o delegado foi solto após recebimento do alvará expedido pela Justiça. 

A liberdade provisória concedida a Rafael Gomes aconteceu depois de a defesa impetrar recurso em habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que foi julgado e acatado pelo ministro Sebastião Reis da 6ª turma do STJ. Ao Estado de Minas, a assessoria do STJ disse que não poderia dar detalhes sobre as alegações que sustentaram o benefício, pois o processo corre em segredo de Justiça. 




 

 

Entenda o caso

Operação Transformers, deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em 20 de outubro de 2022, resultou na prisão do delegado e outros seis investigadores. Segundo o promotor Thiago Fernandes de Carvalho, a investigação durou cerca de dois anos. 
 
As autoridades cumpriram na ocasião 61 mandados de busca e apreensão, 148 de sequestro de veículos e dez de sequestro e indisponibilidade de imóveis, além de apreensão e indisponibilidade financeira de R$ 55 milhões. Foram expedidos ainda 31 mandados de prisão. Todos ocorreram nas cidades de Juiz de Fora, Esmeraldas, Três Corações e Botelhos.
 
Inicialmente foi identificado que o grupo roubava carros, retirava as peças e montava novos veículos, que abasteciam o tráfico de drogas. “Não estamos falando de um tráfico de drogas de pontos de drogas. Estamos tratando de um tráfico mais volumoso, que abastece mercado e tem ramificações em todo território nacional”, explicou à época, destacando a existência de “lavagem de dinheiro com muitos shows artísticos em Juiz de Fora, comércio de roupas, varejo, alimentos, entre outros”.
 
O delegado e os agentes da Polícia Civil atuavam divulgando informações privilegiadas para outros membros da organização criminosa. Logo, a suspeita do Ministério Público é que nos últimos cinco anos o grupo possa ter movimentado uma quantia próxima a R$ 1 bilhão.