Jornal Estado de Minas

CLIMA

Inversão térmica marca os dias de inverno na capital


O inverno chegou, as temperaturas despencaram e quem tem de sair da cama logo cedo enfrenta nas manhãs, não só o frio da estação, mas também um visual diferente, um céu esbranquiçado, com uma espécie de "fumacinha" pairando sobre as cabeças dos belo-horizontinos. Trata-se da chamada inversão térmica. Mas, você sabe o que é?

O meteorologista Ruibran dos Reis explica: "A temperatura, normalmente, a medida que sobe na atmosfera, ela vai caindo. Isso ocorre até 12, 13 quilômetros de altura. Essa primeira camada chamamos de troposfera, onde a temperatura vai caindo em torno de 0,6 grau a cada 100 metros. Nos meses de outono e inverno, devido à ausência de nebulosidade, a Terra emite todo o calor que recebe do sol durante o dia e a noite, e, com isso, as temperaturas caem muito na superfície. E, essa bolha de calor que se forma durante o dia, vai subir à noite e e fica estacionada entre 500 e 700 metros de altura. Então, em vez de a temperatura cair nestas primeiras camadas até mil metros, ela começa a subir. E depois de passar por essa camada, ela volta a cair normalmente. Então, essa camada forma um tampão, retendo um material particular da atmosfera, que é o que chamamos de inversão térmica. Ela segura todo o material emitido pelos carros, poeira, todos os tipos gases".





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De acordo com Ruibran dos Reis, "a investão térmica, então, existe nos meses de outono e inverno pela ausência de nebulosidade à noite porque, quando há nebulosidade, a terra emite onda longa, emite calor e esse calor bate nas nuvens e volta para a superfície da terra e impede que a inversão térmica ocorra".
 
Para o meteorologista, "podemos ter inversão térmica bastante forte neste mês de julho devido ao aquecimento global".

El niño, falta de chuva e poluição

Ruibran dos Reis alerta ainda que o fenômeno também é ampliado pela presença do El Niño, "que já está atuando". O El Niño é outro fenômeno de grande alcance que envolve o aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, com o aumento da temperatura global, levando a impactos significativos no clima. 

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Especialistas alertam que o El Niño deve atingir o pico em dezembro de 2023 e janeiro e fevereiro de 2024, e o mundo pode enfrentar mais consequências relacionadas ao aquecimento global. A previsão indica que esse fenômeno pode resultar em menos chuvas nas regiões da Amazônia e do Nordeste, e em mais chuvas no Sul do Brasil. 




Inmet BH: inversão térmica aumenta doenças respiratórias, alergias, olhos irritados

Claudemir de Azevedo, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em Belo Horizonte, reforça que a inversão térmica é um fenônmeo comum nesta época do ano "por causa da estabilidade. É preciso entender que a superfície terrestre e o ar, normalmente, vão resfriando à medida que subimos na superfície atmosférica. O ar próximo da supefície terrestre é mais quente, e o ar mais quente é mais leve e sobe na atmosfera. Quando a camada de ar quente sobrepõe à camada de ar frio, consequentemente, o ar fica preso na superfície e surge a questão dos poluentes, que ficam concentrados e dá origem ao que chamamos de inversão térmica".

Claudemir ressalta que, normalmente, a camada de poluentes dispersa na atmosfera, mas "com a atmosfera mais estável, sem movimento, ocorre a aglutinação, concentração de poluentes e o fenômeno visual que as pessoam veem pela manhã no horizonte, uma névoa que, dependendo do grau de poluição, se estiver densa, fica acinzentada, mais escura. Ar mais poluído, aspecto mais escuro".

O meteorologista lembra que isso ocorre, especialmente, nos grandes centros, áreas industrializadas como Contagem, Betim e foi um problema sério na cidade de Cubatão, em São Paulo.

Para aliviar, ele cita a chuva, que não é comum nesta estação, que traria "alívio" ou ainda "certa instabilidade na atmosfera, ocasionando vento intenso, a entrada de uma massa de ar fria que favoreça a velocidade do vento".

E, como consequência da inversão térmica, com o "ar seco, em virtude do período de estiagem, desconforto diante da baixa umidade com aumento de casos de doenças respiratórias, alegias, olhos irritados", destaca o meteorologista do Inmet BH.